Líderes da base aliada de Michel Temer na Câmara dos Deputados afirmaram ao Estado
não ser possível assegurar a rejeição da denúncia que o
procurador-geral da República, Rodrigo Janot, deve apresentar até amanhã
contra o presidente da República. Mesmo com uma coalizão estimada em
cerca de 400 deputados, parlamentares ponderam que o teor da acusação
formal e os seus desdobramentos podem influenciar o posicionamento dos
congressistas, aumentando o risco de Temer sofrer um revés.
A
denúncia contra o presidente é apresentada no Supremo Tribunal Federal,
que só pode julgar sua aceitação ou não com o aval da Câmara. Após ser
encaminhada para a Casa, a acusação tramita primeiro na Comissão de
Constituição e Justiça (CCJ) antes de seguir para o plenário. São
necessários os votos de 172 dos 513 deputados para negar a autorização.
Se aprovada por no mínimo 2/3 da Casa, retorna ao Supremo. Caso a Corte
aceite a denúncia, o presidente é obrigado a se afastar do cargo por 180
dias.
Para Baleia Rossi (SP), líder do PMDB, partido de Temer e que tem a maior bancada da Casa, com 64 deputados, o governo não pode se descuidar. “No
Parlamento nada é automático. Vai ter que trabalhar. Cada líder da base
vai ter que trabalhar sua bancada. Vai ter que ter convencimento. Não
dá para achar que está tudo resolvido.”
Segundo ele, é
preciso “conhecer os elementos da denúncia e formar um convencimento
para ajudar os deputados a formarem sua convicção”.
Comissão. Além
do PMDB, os principais partidos aliados também não asseguram vida fácil
ao governo, em especial na CCJ. DEM e PSDB, por exemplo, rejeitam a
hipótese de substituir nomes no colegiado que possam votar contra a
denúncia. “Os nomes (do DEM) na CCJ estarão todos preservados, não vou
mudar ninguém para atender algum desejo do governo ou algo assim. Vão
votar com sua consciência”, disse Efraim Filho. A bancada do DEM tem 29
deputados.
De acordo com o líder do PSDB na Câmara (46
integrantes), Ricardo Tripoli, os tucanos vão “votar de acordo com a sua
consciência”. Tripoli disse que “de forma alguma” haverá troca de
membros em favor do governo. Ele também não garante qual será a posição
dos tucanos na denúncia: “Vamos reunir a bancada, vamos discutir e vou
tentar buscar maior número de consenso para nos manifestarmos em
uníssono”.
Outros líderes seguem a mesma linha. “Não vou fazer um
exercício de futurologia. Não é possível prever (se haverá manutenção de
apoio)”, disse José Rocha, do PR, cuja bancada possui 37 deputados.
Jovair
Arantes, do bloco PTB, PROS, PSL, PRP, que tem 24 deputados, disse que
não pode “agir por hipótese”. “Tenho que ver a denúncia e analisar. Só
tomo decisão com meu time (bancada)”, afirmou. “Não sabemos o que vai
acontecer”, completou Marcos Montes, do PSD.
Articulações. O
Planalto aposta em uma estratégia jurídica associada à política para
derrubar a denúncia na Câmara. Temer passou o fim de semana tratando do
tema. No sábado, viajou a São Paulo para se encontrar com seu advogado
Antonio Cláudio Mariz. No domingo, ele se reuniu no Palácio da Alvorada
com ministros, líderes e aliados no Congresso.
Apesar de o
encontro ter como pauta oficial as votações no Congresso, o Planalto
confirmou que outro advogado do presidente, Gustavo Guedes, também
participou da reunião. De acordo com a lista oficial, participaram os
ministros Henrique Meirelles (Fazenda), Torquato Jardim (Justiça),
Eliseu Padilha (Casa Civil), Antonio Imbassahy (Secretaria de Governo),
Moreira Franco (Secretária-Geral da Presidência) e Sergio Etchegoyen
(Gabinete de Segurança Institucional). Estavam presentes também o
presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e os líderes do governo no
Congresso, André Moura (PSC-SE), e na Câmara, Aguinaldo Ribeiro (PP-PB).
Temer
é investigado por corrupção passiva, obstrução de Justiça e organização
criminosa. Janot poderá apresentar uma única denúncia ou fatiá-la de
acordo com os crimes apurados.
No convencimento de deputados, o
Planalto vai argumentar que o procurador-geral da República age de
maneira pessoal ao acusar Temer. Outro argumento é o de que a classe
política deve se unir para salvar o presidente porque, caso contrário,
toda ela estará ameaçada.
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