Em interceptação telefônica feita pela
Polícia Federal, Caroline Maciel, da PGR/RN, comenta com colega
procurador que senador está no alvo de Rodrigo Janot por apoiar
“inimiga” em sucessão no MPF
A
procuradora Caroline Maciel, chefe do Ministério Público Federal no Rio
Grande do Norte, afirmou que o senador José Agripino Maia (DEM) está na
mira da Procuradoria Geral da República em virtude da promessa de apoio
do potiguar à candidatura de Raquel Dodge à sucessão de Rodrigo Janot
no Ministério Público Federal (MPF). A declaração foi dada durante uma
conversa telefônica com o colega procurador Ângelo Goulart, cuja
gravação foi interceptada pela Polícia Federal e obtida pela revista
Istoé.
A troca no comando da Procuradoria Geral da República
acontecerá em 17 de setembro. Subprocuradora apontada como “inimiga” de
Janot, já que faz oposição aberta, Dodge é considerada favorita para
assumir o MPF. A indicação cabe ao presidente Michel Temer (PMDB). Antes
disso, no dia 27 de julho, procuradores federais irão compor uma lista
tríplice que será enviada ao peemedebista. Tradicionalmente, o chefe do
Executivo indica o mais bem colocado. A nomeação é, a seguir, submetida a
sabatina no Senado Federal.
Na gravação, Caroline diz a Goulart
que “a tática de Janot é apavorar quem está do lado de Raquel”, entre os
quais estaria José Agripino. Em um dos trechos, a procuradora cita a
perseguição ao senador, que responde a inquérito no STF e teve seus
sigilos quebrados em apuração sobre suspeita de propina paga a ele pela
OAS:
“CAROLINE MACIEL: É o seguinte. O Rodrigo (Rodrigo Telles
de Souza, outro procurador da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal)
está muito preocupado porque ouviu (…) ele disse que se fala lá nessa
história de José Agripino ter prometido apoio a Raquel. E querem de
alguma forma agora querem lascar José Agripino.”
Em outros
trechos da interceptação telefônica, Caroline comenta com Ângelo Goulart
que o clima interno no Ministério Público Federal é tenso, motivado
pela atuação de Janot em prol de interesses pessoais e políticos. No
diálogo com o colega procurador, Caroline Maciel alerta sobre o risco
que Goulart correria ao apoiar a rival do procurador-geral da República.
A conversa, com duração de treze minutos, aconteceu em 11 de maio. Uma
semana depois, Goulart teve a sua prisão decretada após pedido de Janot.
Leia abaixo um trecho:
“CAROLINE MACIEL: Eu soube da informação que Janot está pensando em ficar, em tentar permanecer, e quer destruir todo mundo nos arredores. A conversa que rola é que você estaria ajudando Raquel.
ÂNGELO GOULART: Eu?
CAROLINE: Estou te avisando porque parece que a guerra está num nível que eu não consigo nem imaginar porque eu não sou desse tipo de coisa.
GOULART: Mas da onde apareceu isso, gente? Nem contato com a Raquel eu tenho.
CAROLINE: Inclusive, pelo que eu senti, a tática de Janot é apavorar quem estiver do lado de Raquel. Claro que tem gente que nem liga. Mas tem gente que…
CAROLINE: Parece que o negócio tá…
GOULART: Incoerente. Ontem ele (Janot) pediu um favor para ver um negócio no TSE para ele (Goulart atuava na vice-procuradoria-geral eleitoral, com uma mesa de trabalho no Tribunal Superior Eleitoral).”
Rodrigo
Janot está no cargo de procurador-geral da República desde 2013, quando
foi indicado pela presidente Dilma Rousseff (PT) após liderar lista
tríplice dos procuradores. Ele foi reeleito para o posto em 2015. Agora,
segundo Caroline, a sensação é de que Janot tentará a todo custo tentar
um terceiro mandato à frente do Ministério Público Federal. “A coisa lá
parece que vai ser pesada, pelo menos a estratégia de guerra… e tá se
falando lá pelo gabinete que o Janot vai tentar ficar só pra Raquel não
ficar”.
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