Embora ainda reste pouco mais de um ano para
as eleições de 2018, a sucessão estadual já integra a pauta de
articulações e conversas no meio político potiguar. Tanto do lado
governista quanto na oposição, as inúmeras possibilidades para o pleito
vêm sendo discutidas, e alguns nomes despontam no atual cenário. É o
caso da senadora Fátima Bezerra (PT), que, com uma experiência de mais
de vinte anos no Legislativo, vem sendo cogitada para a disputa do
Governo do Estado.
Pesquisas de intenções de votos têm mostrado isso. Em levantamento efetuado pelo Instituto Seta, por exemplo, divulgado pelo Blog do BG no final de maio, a senadora aparece com a preferência dos entrevistados na pesquisa estimulada. No estudo, Fátima surgiu com 20% das preferências, seguida de Robinson Faria (15,6%) e Carlos Eduardo Alves (10,4%). Foram 1,1 mil entrevistas realizadas entre 15 e 17 de maio, com grau de confiabilidade de 95% e margem de erro de 3 pontos percentuais.
Alguns aspectos favorecem uma eventual candidatura da petista. Uma delas, apontam analistas e correligionários, está no fato de ela fazer oposição ao governo federal e às medidas que vêm sendo adotadas e defendidas pelo presidente Michel Temer (PMDB). “As reformas, tanto a trabalhista quanto a previdenciária, são extremamente impopulares. Na medida em que ela se coloca contra as reformas, ela acaba sendo beneficiada”, frisa o cientista político Daniel Menezes, que vê um cenário favorável para o crescimento de Fátima.
Outro elemento considerado como favorável para a petista é o desgaste enfrentado por outras lideranças políticas do estado. Como exemplo, há os desdobramentos da operação Lava Jato no Rio Grande do Norte, que resultaram, entre outras consequências, na prisão do ex-ministro Henrique Eduardo Alves, membro influente do PMDB. “A classe política potiguar foi muita atingida por escândalos de corrupção. A senadora também foi citada em delação, mas não foi tão atingida, como o grupo do PMDB foi”, lembra Daniel, se referindo ao depoimento do ex-diretor de Relações Institucionais da JBS Ricardo Saud, que afirmou em delação premiada que os R$ 500 mil que Fátima recebeu da companhia em 2014 foram pagamento de propina.
Ainda neste ponto, outra vantagem competitiva para a senadora está relacionada aos desgastes acentuados experimentados atualmente pelos considerados dois principais adversários em uma suposta disputa pelo governo no ano que vem: o atual governador, Robinson Faria (PSD), e o prefeito de Natal, Carlos Eduardo Alves (PDT).
O governador, que poderá ser candidato à reeleição, encara críticas à gestão na área de segurança pública. Segundo dados do Observatório da Violência Letal Intencional (Obvio), até o último final de semana foram registrados 1.558 assassinatos no estado, um recorde. Além disso, a operação Anteros, que investiga a participação de Robinson no suposto esquema de desvios descoberto na Assembleia Legislativa na operação Dama de Espadas, representou mais um fator importante de desgaste para o governador.
Já Carlos Eduardo, embora tenha sido reeleito com folga prefeito de Natal nas eleições de 2016, caiu em desgraça logo após ser reempossado. O chefe do Executivo da capital potiguar enfrenta desgaste devido a atrasos salariais e a precariedade de alguns serviços públicos na maior cidade do estado. Além disso, apenas em 2017, o prefeito viu três de seus ex-secretários presos provisória ou temporariamente por suposto envolvimento em esquemas de desvios: Jerônimo Melo e Antônio Fernandes na operação Cidade Luz e Fred Queiroz na operação Manus (a mesma que prendeu Henrique Alves). Todos eles já foram libertados, mas as investigações prosseguem.
Neste cenário, por outro lado, Fátima não acumula escândalos de corrupção e pode se destacar como candidata limpa, o que poderá ser um diferencial a seu favor, num momento em que há uma exigência por moralidade na gestão pública.
A possível candidatura de Fátima Bezerra ao Governo do Estado, além disso, atende à estratégia do PT nacional, que é a de ter participação intensa nas disputas estaduais, tanto com candidatos a governador quanto a senador. A presença forte em vários pleitos, analisam petistas, pode contribuir com a recuperação da legenda, que fracassou nas eleições municipais de 2016. Apenas no Rio Grande do Norte, por exemplo, a legenda elegeu apenas dois prefeitos (Odon Júnior, em Caicó, e Fátima Silva, em Ouro Branco). Em 2012, foram seis.
Observadores da cena política local avaliam que agora pode ser a vez da senadora. Em outras oportunidades, o PT até se lançou em disputas majoritárias – sem êxito, contudo. A própria Fátima Bezerra disputou a Prefeitura de Natal por duas oportunidades, sendo derrotada por Wilma de Faria em 1996 e por Micarla de Sousa em 2008.
Ainda no rol dos fatores que beneficiam Fátima numa possível candidatura ao Governo do Estado, está o fato de ser uma disputa “sem riscos”. Isso porque seu cargo de senadora tem duração de oito anos, o que lhe garante continuar com mandato até 2022, sem a necessidade de renunciar ao posto para pleitear outro cargo. Se for derrotada para o Governo, poderá retornar às suas funções no Senado.
Desgaste do PT nacional é o maior empecilho à disputa
Apesar de a maioria dos elementos em questão favorecer sua candidatura a governadora, a senadora Fátima Bezerra terá de administrar, caso realmente vá para a disputa, o forte desgaste que a sua sigla, da qual é filiada desde 1981, enfrenta no cenário nacional.
O PT tem vários de seus membros investigados por supostos cometimentos de atos ilícitos, incluindo o principal líder, o ex-presidente Lula – que recebeu condenação por corrupção pelo juiz Sérgio Moro no caso do tríplex. Sua identificação com o partido, altamente envolvido com os escândalos da operação Lava Jato, pode lhe atrapalhar.
Além disso, o especialista Daniel Menezes pontua que o êxito da senadora em uma possível disputa para o Governo dependerá do seu comportamento e das propostas que ela deverá apresentar para combater o problema da segurança pública, tido como o principal clamor popular atualmente.
“Ela vai ter de mostrar que, a partir de 2019, terá condições de promover essa agenda. Ela conseguirá amenizar a crise na segurança? Ela precisa passar confiança. Ela pode se enrolar se fizer o discurso tradicional da esquerda, como a defesa de questões ligadas aos direitos humanos”, avalia Daniel, que acrescenta que o eleitor deverá exigir, durante a campanha, discursos agressivos contra a onda de criminalidade. Devido ao fato de a petista ser historicamente ligada aos movimentos sociais de esquerda, ela pode ter dificuldades de conduzir este assunto.
EXPERIÊNCIA DE FÁTIMA
– Nascida em Nova Palmeira (PB), se mudou para Natal na década de 1970;
– Estudante da UFRN, militou nos movimentos estudantis;
– Na década de 1980, já como professora das redes estadual e municipal, passou a integrar o movimento sindical, chegando a exercer por duas vezes a presidência do Sindicato Estadual dos Trabalhadores em Educação;
– Em 1994, foi eleita deputada estadual, sendo reeleita para o cargo quatro anos depois;
– Em 1996, disputou a Prefeitura de Natal, sendo derrotada por Wilma de Faria;
– Em 2002, elegeu-se deputada federal, obtendo destaque durante três mandatos consecutivos pela atuação na área da educação;
– Em 2008, volta a disputar a Prefeitura de Natal, sendo derrotada por Micarla de Sousa;
– Em 2014, elege-se senadora, com mais de 800 mil votos.
Do RNAGORA
Pesquisas de intenções de votos têm mostrado isso. Em levantamento efetuado pelo Instituto Seta, por exemplo, divulgado pelo Blog do BG no final de maio, a senadora aparece com a preferência dos entrevistados na pesquisa estimulada. No estudo, Fátima surgiu com 20% das preferências, seguida de Robinson Faria (15,6%) e Carlos Eduardo Alves (10,4%). Foram 1,1 mil entrevistas realizadas entre 15 e 17 de maio, com grau de confiabilidade de 95% e margem de erro de 3 pontos percentuais.
Alguns aspectos favorecem uma eventual candidatura da petista. Uma delas, apontam analistas e correligionários, está no fato de ela fazer oposição ao governo federal e às medidas que vêm sendo adotadas e defendidas pelo presidente Michel Temer (PMDB). “As reformas, tanto a trabalhista quanto a previdenciária, são extremamente impopulares. Na medida em que ela se coloca contra as reformas, ela acaba sendo beneficiada”, frisa o cientista político Daniel Menezes, que vê um cenário favorável para o crescimento de Fátima.
Outro elemento considerado como favorável para a petista é o desgaste enfrentado por outras lideranças políticas do estado. Como exemplo, há os desdobramentos da operação Lava Jato no Rio Grande do Norte, que resultaram, entre outras consequências, na prisão do ex-ministro Henrique Eduardo Alves, membro influente do PMDB. “A classe política potiguar foi muita atingida por escândalos de corrupção. A senadora também foi citada em delação, mas não foi tão atingida, como o grupo do PMDB foi”, lembra Daniel, se referindo ao depoimento do ex-diretor de Relações Institucionais da JBS Ricardo Saud, que afirmou em delação premiada que os R$ 500 mil que Fátima recebeu da companhia em 2014 foram pagamento de propina.
Ainda neste ponto, outra vantagem competitiva para a senadora está relacionada aos desgastes acentuados experimentados atualmente pelos considerados dois principais adversários em uma suposta disputa pelo governo no ano que vem: o atual governador, Robinson Faria (PSD), e o prefeito de Natal, Carlos Eduardo Alves (PDT).
O governador, que poderá ser candidato à reeleição, encara críticas à gestão na área de segurança pública. Segundo dados do Observatório da Violência Letal Intencional (Obvio), até o último final de semana foram registrados 1.558 assassinatos no estado, um recorde. Além disso, a operação Anteros, que investiga a participação de Robinson no suposto esquema de desvios descoberto na Assembleia Legislativa na operação Dama de Espadas, representou mais um fator importante de desgaste para o governador.
Já Carlos Eduardo, embora tenha sido reeleito com folga prefeito de Natal nas eleições de 2016, caiu em desgraça logo após ser reempossado. O chefe do Executivo da capital potiguar enfrenta desgaste devido a atrasos salariais e a precariedade de alguns serviços públicos na maior cidade do estado. Além disso, apenas em 2017, o prefeito viu três de seus ex-secretários presos provisória ou temporariamente por suposto envolvimento em esquemas de desvios: Jerônimo Melo e Antônio Fernandes na operação Cidade Luz e Fred Queiroz na operação Manus (a mesma que prendeu Henrique Alves). Todos eles já foram libertados, mas as investigações prosseguem.
Neste cenário, por outro lado, Fátima não acumula escândalos de corrupção e pode se destacar como candidata limpa, o que poderá ser um diferencial a seu favor, num momento em que há uma exigência por moralidade na gestão pública.
A possível candidatura de Fátima Bezerra ao Governo do Estado, além disso, atende à estratégia do PT nacional, que é a de ter participação intensa nas disputas estaduais, tanto com candidatos a governador quanto a senador. A presença forte em vários pleitos, analisam petistas, pode contribuir com a recuperação da legenda, que fracassou nas eleições municipais de 2016. Apenas no Rio Grande do Norte, por exemplo, a legenda elegeu apenas dois prefeitos (Odon Júnior, em Caicó, e Fátima Silva, em Ouro Branco). Em 2012, foram seis.
Observadores da cena política local avaliam que agora pode ser a vez da senadora. Em outras oportunidades, o PT até se lançou em disputas majoritárias – sem êxito, contudo. A própria Fátima Bezerra disputou a Prefeitura de Natal por duas oportunidades, sendo derrotada por Wilma de Faria em 1996 e por Micarla de Sousa em 2008.
Ainda no rol dos fatores que beneficiam Fátima numa possível candidatura ao Governo do Estado, está o fato de ser uma disputa “sem riscos”. Isso porque seu cargo de senadora tem duração de oito anos, o que lhe garante continuar com mandato até 2022, sem a necessidade de renunciar ao posto para pleitear outro cargo. Se for derrotada para o Governo, poderá retornar às suas funções no Senado.
Desgaste do PT nacional é o maior empecilho à disputa
Apesar de a maioria dos elementos em questão favorecer sua candidatura a governadora, a senadora Fátima Bezerra terá de administrar, caso realmente vá para a disputa, o forte desgaste que a sua sigla, da qual é filiada desde 1981, enfrenta no cenário nacional.
O PT tem vários de seus membros investigados por supostos cometimentos de atos ilícitos, incluindo o principal líder, o ex-presidente Lula – que recebeu condenação por corrupção pelo juiz Sérgio Moro no caso do tríplex. Sua identificação com o partido, altamente envolvido com os escândalos da operação Lava Jato, pode lhe atrapalhar.
Além disso, o especialista Daniel Menezes pontua que o êxito da senadora em uma possível disputa para o Governo dependerá do seu comportamento e das propostas que ela deverá apresentar para combater o problema da segurança pública, tido como o principal clamor popular atualmente.
“Ela vai ter de mostrar que, a partir de 2019, terá condições de promover essa agenda. Ela conseguirá amenizar a crise na segurança? Ela precisa passar confiança. Ela pode se enrolar se fizer o discurso tradicional da esquerda, como a defesa de questões ligadas aos direitos humanos”, avalia Daniel, que acrescenta que o eleitor deverá exigir, durante a campanha, discursos agressivos contra a onda de criminalidade. Devido ao fato de a petista ser historicamente ligada aos movimentos sociais de esquerda, ela pode ter dificuldades de conduzir este assunto.
EXPERIÊNCIA DE FÁTIMA
– Nascida em Nova Palmeira (PB), se mudou para Natal na década de 1970;
– Estudante da UFRN, militou nos movimentos estudantis;
– Na década de 1980, já como professora das redes estadual e municipal, passou a integrar o movimento sindical, chegando a exercer por duas vezes a presidência do Sindicato Estadual dos Trabalhadores em Educação;
– Em 1994, foi eleita deputada estadual, sendo reeleita para o cargo quatro anos depois;
– Em 1996, disputou a Prefeitura de Natal, sendo derrotada por Wilma de Faria;
– Em 2002, elegeu-se deputada federal, obtendo destaque durante três mandatos consecutivos pela atuação na área da educação;
– Em 2008, volta a disputar a Prefeitura de Natal, sendo derrotada por Micarla de Sousa;
– Em 2014, elege-se senadora, com mais de 800 mil votos.
Do RNAGORA
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