POR FOLHAPRESS
A Polícia Federal trabalha com a hipótese de desorientação espacial
do piloto como principal explicação para a queda do avião King Air que
matou o ministro do STF Teori Zavascki em 2017.
Ele não teria percebido, sob chuva intensa e visibilidade baixa, que o
avião estava perto demais da água, onde bateu com a ponta de uma das
asas.
A Folha apurou que as perícias da PF já descartaram, além
de sabotagem no interior do avião como explosões ou incêndio interno,
também algum problema no motor ou intoxicação do piloto Osmar Rodrigues,
56, que não havia tomado bebida alcoólica, drogas ou medicamentos
controlados antes do voo.
Além do ministro e do piloto, também morreram na queda, ocorrida em
19 de janeiro passado perto do aeródromo de Paraty (RJ), o dono do avião
e empresário Carlos Alberto Fernandes Filgueiras, 69, a massoterapeuta
Maíra Panas, 23, e sua mãe, Maria Hilda Panas Helatczuk, 55.
Exames foram realizados no corpo do piloto para saber se ele havia
ingerido alguma substância que pudesse comprometer sua capacidade de
trabalho ao causar, por exemplo, sonolência. Essa hipótese incluía
supostos envenenamento criminoso e presença de compostos químicos dentro
do avião, os quais ele teria inalado involuntariamente. As duas
suposições não foram confirmadas.
Descartados supostos prejuízos à condição física do piloto, os
investigadores cada vez mais se aproximam da mesma hipótese com a qual
já trabalha o Cenipa, centro de investigação e prevenção da Aeronáutica,
que faz um trabalho paralelo mas com objetivo diverso do da PF.
O inquérito policial é presidido pelo delegado Rubens Maleiner, que
também é piloto e trabalhou em outras investigações sobre acidentes
aéreos, e acompanhado pelo procurador da República Igor Miranda.
O inquérito procura apontar eventuais responsáveis, ainda que
culposos, ou seja, que não tenham tido a intenção de causar a queda. A
Aeronáutica se preocupa em apontar “fatores contribuintes” a fim de
prevenir futuros acidentes.
A PF e o Cenipa trabalham com indicações de que o avião não teve
problemas mecânicos, mas ainda serão concluídos alguns exames em peças
da aeronave.
Diferentemente do que se sabia até então, a PF descobriu que o piloto
estava prestes a abortar a segunda tentativa de pouso. Até então,
dizia-se que o avião havia arremetido apenas uma vez e caído quando se
preparava para pousar.
A PF chegou a essa conclusão porque o gravador do avião registrou o
trem do pouso do avião sendo recolhido na segunda tentativa de pouso.
SEM SUSPEITOS
Ao longo do inquérito a PF realizou 18 perícias criminais federais e
ouviu cerca de 40 pessoas. Com uma parte das testemunhas a PF procurou
saber que pessoas haviam tido acesso à informação de que Teori
embarcaria naquele voo. Essa linha investigativa também foi abandonada
porque ninguém foi considerado suspeito.
Nenhum um político investigado na Lava Jato e que estaria descontente com Teori, por exemplo, soube do voo antes do acidente.
A PF também procura estabelecer as condições psicológicas do piloto
no momento da queda. Dois aspectos foram destacados. O primeiro é um
possível “excesso de confiança” do piloto, que de fato era muito
experiente em pousos na região e exercia a profissão havia cerca de 30
anos.
Um investigador disse, porém, que, quando se tem muita confiança,
geralmente se vai no limite da máquina e das condições externas e que
todos os pilotos cometem um erro ao longo da vida -o problema é o
momento do erro.
Um segundo aspecto são as circunstâncias particulares daquele voo, o transporte de um ministro do STF relator da Operação Lava Jato.
O peso político do passageiro pode ter exercido uma pressão
psicológica sobre o piloto para que ele cumprisse a viagem ainda que sob
chuva, de modo a não causar um aborrecimento ao ministro e ao dono do
avião, em vez de cancelá-la devido às más condições do tempo. O
aeródromo de Paraty não possuía instrumentos para auxiliar o piloto,
restando o voo visual como única opção.
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