Suspeita
de chefiar um esquema que teria desviado cerca de R$ 2,4 milhões da
Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte por meio da nomeação de
servidores fantasmas, a ex-chefe do gabinete da presidência da Casa, Ana
Augusta Simas Aranha Teixeira de Carvalho, foi liberada da prisão nesta
quinta-feira (27).Ela foi presa pela Operação Canastra Real, deflagrada pelo Ministério Público neste mês e estava detida há cerca de 10 dias.
O
Ministério Público tinha pedido a manutenção da prisão temporária dos
investigados. Além de Ana Augusta, outras cinco pessoas foram detidas em
cumprimento aos mandados expedidos pela 3ª Vara Criminal de Natal. As
prisões de cinco dias foram renovadas uma vez, mas um novo pedido feito pelo MP foi negado pela Justiça.
Os
demais suspeitos presos já haviam deixado a prisão nesta quarta-feira
(26). Ana Augusta estava detida no Comando da Polícia Militar do Rio
Grande do Norte desde a deflagração da Operação, que apura desvios de
dinheiro por meio da nomeação de servidores fantasmas - a maioria ligado ao grupo político dela no município de Espírito Santo, onde a investigada é primeira-dama. Ela foi exonerada do cargo no Legislativo nesta quarta, em publicação do Diário Oficial Eletrônico da Assembleia.
Segundo
o advogado Flaviano Gama, a Justiça acatou a argumentação da defesa e
não transformou a prisão de Ana Augusta em preventiva. Ela, porém,
deverá atender a algumas medidas cautelares. "Ainda não sei quais são,
mas estou me dirigindo ao fórum para tomar ciência", explicou o
defensor.
O esquema
Segundo
as investigações do MP, o esquema fraudulento foi iniciado em 2015. De
acordo com o MP, Ana Augusta indicava pessoas para ocupar cargos na
Assembleia Legislativa e dava o próprio endereço residencial para
constar nos assentos funcionais e nos cadastros bancários dos servidores
fantasmas por ela indicados. Cinco dos presos nesta operação são
ex-assessores técnicos da presidência da Assembleia que foram indicados
por Ana Augusta e que tinham altos vencimentos na Casa, embora não
possuíssem nível superior.
A
investigação verificou que todos os indicados possuem movimentações
financeiras atípicas, recebendo mensalmente a importância líquida
aproximada de R$ 13 mil. Logo após o depósito dos valores nas contas
bancárias, as quantias eram integralmente sacadas. Essa movimentação
financeira das contas bancárias, todas com saques padronizados, de
valores idênticos, revela que os titulares não possuíam o controle de
suas próprias contas.
Para
o MPRN, as contas-correntes desses ex-assessores técnicos foram abertas
somente para desvio de dinheiro público. Embora fossem servidores com
alta renda, optaram por não contratar cartões de crédito. Mesmo sendo
bem remunerados, investigação do Grupo de Atuação Especial ao Combate ao
Crime Organizado (Gaeco), órgão do MPRN, mostra a ausência de aquisição
de patrimônio no período em que estiveram nomeados para o cargo na
Assembleia. A movimentação financeira deles não espelha a renda
percebida.
Renda incompatível
De
acordo com o MP, Ana Augusta possui uma movimentação financeira
superior à renda declarada, "incompatível com a qualidade de servidora
pública e dissociada da sua declaração de Imposto de Renda. Ela declarou
à Receita Federal, no IR do ano calendário 2015, somente rendimentos
advindos da Assembleia Legislativa do Estado do Rio Grande do Norte,
enquanto que a declaração de informações sobre movimentação financeira
revelou que a entrada de recursos na conta dela foi em valores que
equivalem a mais que o dobro da remuneração dela".
Dama de Espadas
Os crimes investigados na operação Canastra Real são semelhantes aos apurados na operação Dama de Espadas,
deflagrada pelo MPRN em agosto de 2015. Na Dama de Espadas, havia a
inserção de servidores fantasmas na folha de pagamento da Casa
Legislativa, seguida da expedição de 'cheques salários' em nome dos
servidores, sendo sacados por terceiros não beneficiários, com
irregularidades na cadeia do endosso ou com referências a procurações
inexistentes ou não averbadas na ficha cadastral bancária do cliente.
No
caso atual dos ex-servidores residentes em Espírito Santo, pelo menos
em alguns meses, os saques – sempre feitos na agência bancária na ALRN –
eram realizados por eles próprios.
G1/RN
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