Os tiros foram disparados no momento em que ocorria a missa das 12h15. Segundo a PM, o suspeito se matou após o ataque
Reprodução/Facebook
Por Folhapress
De São Paulo
Ao menos quatro homens foram mortos e outras quatro pessoas foram
feridas a tiros na Catedral Metropolitana de Campinas (SP) no início da
tarde desta terça-feira (11). Ainda não identificado, o atirador entrou
na igreja, sentou-se entre os fiéis e passou a disparar contra os
presentes logo após o final da missa.
Segundo a Polícia Militar, o atirador se matou após o ataque - ele
portava uma pistola 9 mm e mais um revólver - as duas armas estavam com
as suas numerações raspadas. A motivação do ataque ainda é desconhecida.
Os tiros foram disparados após a missa das 12h15. A PM diz ter
registrado um chamado pelo 190 às 13h25, com uma pessoa dizendo que um
homem de camiseta azul e calça jeans havia entrado na catedral.
Uma câmera do circuito interno de segurança da catedral mostra ação
do atirador. No vídeo, obtido pela Folha, ele de repente se levanta e
passa a disparar contra um grupo de pessoas sentada logo atrás dele.
O atirador em seguida caminha para a frente da igreja e começa a
disparar contra os policiais. Ele ainda teve tempo de trocar o pente da
pistola até ser atingido no tórax. Caído, disparou contra a própria
cabeça. Ele ainda tinha 28 balas em pentes na mochila e não carregava
documento de identidade. A perícia recolheu as impressões digitais do
atirador, a fim de identificá-lo.
"Entrei na igreja, a missa já havia terminado. Alguns minutos depois o
atirador entrou e se posicionou na frente de um casal e atirou", conta o
aposentado P.R., 66. "Eu saí correndo, não houve gritaria apenas
correria. E ele continuou atirando. Eu tenho muita sorte de estar vivo".
A assistente-administrativo L. de O., 36, disse ter ouvido um grande
número de disparos, quando passava perto do templo. "Ouvimos muitos
tiros e as pessoas gritando, chorando. Vimos o homem baleado no peito
saindo de maca. Foi horrível".
O entorno da igreja, região comercial da cidade, estava cheio no
momento do crime, devido à proximidade do Natal. Por isso, o
policiamento na área também era reforçado, o que agilizou a chegada dos
policiais ao local.
Moradora de rua, A.J. de O., 40, conta que viu os feridos saindo da
igreja. "Ouvi os tiros e vi um senhor com sangue no ombro saindo e uma
senhora também baleada que caiu na porta. A polícia saiu atirando na
porta pra dentro da igreja. Teve troca de tiro", afirma. "Pensei nos
fiéis da igreja que sempre nos ajudam. Foi horrível".
"A intenção era atirar. Ele já atirou 'fatalizando' as pessoas. Não
tinha nenhum motivo específico que não fosse a loucura dele", disse o
secretário municipal de Segurança de Campinas, Luiz Augusto Baggio.
Quatro homens, todos idosos, morreram no local. Outras quatro pessoas
foram atingidas e socorridas pelos bombeiros e pelos médicos do Samu.
Os bombeiros informaram que os sobreviventes vão passar por cirurgia
para a retirada dos projéteis que atingiram partes vitais. O estado de
saúde deles não foi divulgado.
A Catedral de Nossa Senhora da Conceição fica na principal área
comercial da cidade. Por meio de nota, a arquidiocese de Campinas
informou que a catedral está fechada para o atendimento às vítimas e
para as investigações da polícia. "Contamos com as orações de todos
neste momento de profunda dor", segundo trecho do comunicado.
O prefeito de Campinas, Jonas Donizette (PSB), decretou luto oficial de três dias, a contar a partir desta terça-feira (11).
ESTATUTO DO DESARMAMENTO
A eleição de Jair Bolsonaro (PSL) provocou uma nova discussão sobre
ampliar o acesso a armas para autodefesa. Durante a campanha, ele
prometeu revogar o estatuto caso fosse eleito. Para fazer isso, porém, é
necessária aprovação do Congresso.
Aprovado em dezembro de 2003, o Estatuto do Desarmamento limitou a
posse de armas no país e tirou milhares de armamentos das ruas. Até o
início de 2014, quase 650 mil armas de fogo foram entregues
voluntariamente pela população.
Atualmente, 55% dos brasileiros acham que as armas devem ser
proibidas por representarem ameaça à vida dos outros, e 41% avaliam que
possuir uma arma legalizada deve ser direito do cidadão que queira se
defender. Os dados são de pesquisa Datafolha de outubro deste ano.
Em novembro de 2013, 68% achavam que as armas deveriam ser proibidas,
e só 30% queriam armas liberadas. De um lado deste debate está a
hipótese da letalidade, em que o aumento de armas leva ao avanço dos
conflitos com mortes, além da redução dos custos dos criminosos para
obterem armas - porque preços no mercado paralelo caem ou porque fica
mais fácil se apropriar de armas legais.
No extremo oposto, está a hipótese do uso defensivo de armas, segundo
a qual a proliferação de armamentos diminuiria a incidência de crimes
ao mudar o cálculo de risco de criminosos. Eles seriam desencorajados do
enfrentamento diante da maior probabilidade de encontrarem resistência
inesperada por parte da vítima. Lei federal de 2003, o Estatuto do
Desarmamento regula o acesso a armas e restringiu o porte e a posse em
todo o país. Ainda assim, em média seis armas são vendidas por hora no
mercado civil nacional. Neste ano, até 22 de agosto, haviam sido
vendidas 34.731 armas no país.
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