Marcelo Camargo/Agência Brasil
O envio de mensagens em tom de cobrança
pelo ministro Sergio Moro (Justiça) ao presidente da Câmara, Rodrigo
Maia (DEM-RJ), na madrugada desta quarta-feira (20), levou o parlamentar
a disparar críticas ao auxiliar do presidente Jair Bolsonaro.
Irritado, Maia chegou ao Congresso na noite de quarta dizendo que Moro
estava "confundindo as bolas" e que ele era um "funcionário do
Bolsonaro".
Moro enviou mensagem durante a madrugada cobrando que Maia desse
celeridade no pacote anticrime, apresentado pelo ministro ao Congresso
em fevereiro.
No texto, o titular da Justiça teria acusado o deputado do DEM de descumprir um acordo.
Em
resposta ríspida, Maia pediu a Moro respeito e afirmou que era ele o
presidente da Câmara, cargo que tem a atribuição de definir a pauta de
votações da Casa.
A aliados, o deputado disse que o ministro
estava sendo inconveniente pelo gesto e que não havia descumprimento
nenhum de acordo.
Ele disse ter acordado com o Palácio do Planalto
que priorizaria na pauta da Câmara a aprovação da reforma da
Previdência, considerada crucial para a gestão de Jair Bolsonaro, e que
na sequência colocaria o texto de Moro para tramitar.
Essa foi a
segunda vez que Moro cobrou diretamente Maia em menos de uma semana. A
primeira delas foi no sábado (16), quando o deputado recebeu o ministro
na residência oficial da Câmara para um churrasco no qual estiveram
presentes os chefes dos três poderes.
Na noite de quarta, Maia
desqualificou o projeto anticrime apresentado por Moro dizendo que o
texto é um "copia e cola" de proposta sobre o mesmo tema que foi
apresentada no passado pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF.
"O
funcionário do presidente Bolsonaro? Ele conversa com o presidente
Bolsonaro e se o presidente Bolsonaro quiser ele conversa comigo. Eu fiz
aquilo que eu acho correto [sobre a proposta de Moro]. O projeto é
importante, aliás, ele está copiando o projeto direto do ministro
Alexandre de Moraes. É um copia e cola. Não tem nenhuma novidade, poucas
novidades no projeto dele", disse em resposta a um questionamento sobre
se Moro estava se intrometendo na Câmara.
Pela manhã, Moro disse
estar conversando com Maia sobre o assunto e que o "desejo do governo é
que isso desde logo fosse encaminhado às comissões para os debates".
Na
última quinta-feira (14), Maia determinou a criação de um grupo de
trabalho para analisar o chamado projeto de lei anticrime de Moro e duas
outras propostas correlatas que já tramitavam na Câmara. Como o grupo
de trabalho tem o prazo de 90 dias para debater as matérias, na prática
Maia suspendeu momentaneamente a tramitação da maior parte do pacote
legislativo do ministro da Justiça.
O deputado disse ainda que o
projeto prioritário é o apresentado por Moraes, quando ele era ministro
da Justiça, ainda no governo de Michel Temer.
Segundo Maia, a
votação do pacote se dará no futuro, após a Casa analisar a reforma da
Previdência, considerada crucial para o governo Bolsonaro.
O deputado negou estar irritado com Moro e disse que o ministro "conhece pouco a política".
"Eu sou presidente da Câmara, ele é ministro funcionário do presidente Bolsonaro", disse.
Ao
contrário do que disse Moro mais cedo, que ele ia conversar com Maia
sobre o tema, o deputado disse que quem deve procurá-lo sobre o assunto é
Bolsonaro.
"O presidente Bolsonaro é quem tem que dialogar
comigo. Ele está confundindo as bolas, ele não é presidente da
República, ele não foi eleito para isso. Está ficando uma situação ruim
para ele. Ele está passando daquilo que é a responsabilidade dele. Ele
nunca me convidou para perguntar se eu achava que a estrutura do
ministério estava correta, se os nomes que ele estava indicando estavam
corretos", afirmou.
O presidente da Câmara ironizou Moro,
insinuando que o ministro busca destaque na imprensa ao querer aprovar a
proposta apresentada.
"O projeto vai andar no momento adequado, ele pode esperar para ter
um Jornal Nacional, um Jornal da Band, ou da TV Record, ele pode
esperar."
Com informações: TALITA FERNANDES E THAIS ARBEX -
BRASÍLIA, DF
(FOLHAPRESS)
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