Fragmentos de óleo foram
encontrados neste domingo (10), na praia de Pontal do Ipiranga, na cidade de
Linhares (ES) onde há uma base do Projeto Tamar. Esta é a segunda
localidade capixaba atingida pelo produto nos últimos quatro dias.
Na quinta-feira (7), pequenos fragmentos de óleo foram recolhidos na
praia de Guriri, em São Mateus (ES), a cerca de 85 quilômetros ao norte
de Linhares. Ou seja, após ter se espalhado pelos nove estados
nordestinos (Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco,
Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe), o produto de origem ainda
desconhecida avança pela região Sudeste em direção ao sul. A capital
capixaba, Vitória, está distante cerca de 170 quilômetros de Pontal do
Ipiranga.
De acordo com a Marinha, análises da substância
recolhida há quatro dias em São Mateus confirmaram que se trata do mesmo
óleo que atingiu praias, mangues, costões marítimos, desembocaduras de
rios e outros habitats litorâneos do Nordeste.
Na praia
de Pontal do Ipiranga, atingida no domingo, funciona uma base do Projeto
Tamar, dedicado à pesquisa, proteção e manejo de tartarugas marinhas
ameaçadas de extinção. No site do Tamar consta que, “na região
caracterizada por mata de restinga razoavelmente bem conservada”, são
monitorados e protegidos, em média, cerca de 200 ninhos de desovas de
tartarugas-cabeçuda (Caretta caretta), cujas fêmeas, anualmente, buscam a região para construir a cama onde colocam seus ovos.
“Estamos em plena época reprodutiva, que vai até março”, contou o biólogo responsável pela base, Ciro Jardel Bérgamo, a Agência Brasil.
“Já temos, até o momento, 206 ninhos de tartaruga-cabeçuda mapeados ao
longo dos 43 quilômetros de praia. Além de uma desova confirmada de
tartaruga-gigante, o que indica que algo em torno de 80
tartarugas-gigantes estão prestes a nascer”, acrescentou Bérgamo.
Segundo
o biólogo, ao menos 60 militares da Marinha e 15 servidores do Ibama já
estão no local para tentar limpar a praia, mas os pequenos fragmentos
continuam chegando. “São pequenas plaquetas de 3 centímetros, quatro
centímetros, que atingiram uma longa extensão de areia. O risco é que as
fêmeas enterrem seus ovos junto com o produto que se misturou à areia.
Ou que, se a praia não for totalmente limpa, os filhotes, ao nascerem e
tentarem chegar ao mar, tenham contato com o óleo”, acrescentou Bérgamo,
lamentando uma nova tragédia para o litoral capixaba quatro anos após o
rompimento da barragem do Fundão, da Samarco, em novembro de 2015, que
lançou milhares de tonelada de resíduos tóxicos sobre o distrito de
Bento Rodrigues, em Mariana, na Região Central de Minas Gerais, atingiu o
Rio Doce, e chegou ao Oceano Atlântico.
“A costa capixaba está
sendo castigada. Principalmente os pontos de desova das tartarugas.
Ainda estávamos sob efeito do rompimento da barragem do Fundão, e,
agora, isto”, lamentou o biólogo.
Antes que os primeiros vestígios
de óleo fossem encontrados na praia, a prefeitura de Linhares e o Corpo
de Bombeiros instalaram o Sistema de Comando em Operações para fazer
frente a situação. Uma das primeiras medidas preventivas adotadas, ainda
na sexta-feira (8), foi o bloqueio da foz do Rio Doce, em Regência.
Segundo a prefeitura, o objetivo é evitar que o material poluente atinja
e contamine o estuário da região. “A contenção da foz é necessária para
evitar que os resíduos saiam do mar e atinjam o rio, contaminando o
estuário”, justificou o secretário municipal de Meio Ambiente, Fabrício
Borghi Folli, em nota.
O governo estadual também anunciou, na quarta-feira (6), que 13
órgãos atuarão de forma integrada a fim de minimizar os impactos da
chegada do óleo ao litoral capixaba.
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