O
médico anestesista Diamir Gomes, 74, teve um pressentimento ruim na
quarta-feira (25). Estava havia alguns dias com sintomas de gripe, mas
percebeu uma piora acelerada na respiração. Mandou então um áudio por
Whatsapp para o filho Diego dizendo que ia para o hospital e que não
sabia se voltaria: "Fique bem, é a vida". Foi o último contato do pai
antes de morrer por complicações decorrentes do novo coronavírus.
Diamir morreu na manhã de sexta-feira (27), em Santos, litoral de São
Paulo. Ele resistiu o quanto pode em se internar por medo de contrair o
vírus. Tinha sido dispensado há poucos dias de dar plantões no hospital
onde trabalhava em São Paulo por pertencer ao grupo de risco.
A história da família Gomes é marcada por perdas. Em 2001, morreu
Iria, mulher de Diamir, de câncer. Um ano e meio depois, uma brincadeira
de adolescente feita por Ana Carolina, irmã mais velha de Diego, acabou
em tragédia. Ela e a prima inventavam cremes, mas um deles, aplicado
pela jovem no rosto antes de dormir, resultou em reação alérgica fatal.
Morreu aos 16 anos.
Diego, então com 14 anos, precisou aprender a ser mais próximo do pai. Acabaram virando grandes amigos.
As
pessoas próximas definem Diamir como um sujeito brincalhão, sempre de
bem com a vida e extremamente generoso. Certa vez, bancou uma cirurgia
do zelador de um prédio onde morava. Em outra, deu R$ 500 (cerca de dois
salários mínimos, à época) para outro porteiro, que estava com as
remunerações atrasadas do condomínio e enfrentando dificuldades. "Meu
pai tinha um coração maior do que tudo", lembra Diego.
O
também estudante de medicina Marcelo Beser, 30, diz a mesma coisa. Amigo
da família há mais de 16 anos, ele foi criado como um sobrinho por
Diamir, segundo suas próprias palavras. "Sempre foi um cara que não
ligava para dinheiro. Levava todo mundo que o Diego quisesse para
viagens, restaurantes, não cobrava nada e nunca jogou na cara."
Nascido
em Rio Brilhante, cidade pequena do Mato Grosso do Sul, Diamir saiu de
lá para trabalhar como farmacêutico em Curitiba. Com o sonho de ser
médico, mudou-se para o Rio de Janeiro e começou a dar aulas de
matemática e física em cursinhos para pagar o curso de medicina.
No
Rio, conheceu a enfermeira Iria, com quem se casou. Mudaram-se para São
Paulo para trabalhar, mas escolheram morar em Santos para criar os
filhos perto da praia. O médico subia e descia a serra todos os dias.
Diego diz que não sabe como o pai contraiu o Covid-19. Se pudesse
responder à mensagem de áudio do pai, ele diria que fará tudo para dar
orgulho "a ele lá em cima".
*Com informações (FOLHAPRESS)
Nenhum comentário:
Postar um comentário