Quase dois meses após Donald Trump celebrar uma esperança de tratamento contra Covid-19, sendo seguido por Jair Bolsonaro no entusiasmo com a cloroquina, novos estudos científicos reprovam o controverso medicamento
Pivô da crise entre o presidente Jair Bolsonaro e
Nelson Teich, ministro exonerado da Saúde, a
cloroquina/hidroxicloroquina, remédio usado contra a malária e outros
males, ganhou o noticiário mundial no dia 19 de março, durante uma
coletiva do presidente Donald Trump, em que anunciou o medicamento como
esperança para tratar pacientes com Covid-19. De lá para cá, aliados do
americano, como o presidente Jair Bolsonaro, mobilizaram suas bases de
apoiadores para defender o remédio, em tentativas de minimizar a
gravidade da pandemia e de apressar a reabertura da economia. Para a
Organização Mundial da Saúde (OMS), não há ainda um consenso científico
sobre a eficácia da cloroquina contra a Covid-19.
A cloroquina não parece ser eficaz em pacientes graves de Covid-19 e
mesmo nos quadros leves, segundo dois estudos publicados ontem. O
primeiro deles, de pesquisadores franceses, conclui que o derivado da
cloroquina, útil no tratamento da malária, não reduz significativamente a
probabilidade de um infectado precisar de tratamento intensivo ou de
óbito em pacientes com a pneumonia decorrente da infecção.
Sem aval
Para o segundo estudo, de uma equipe chinesa, a cloroquina não
elimina o vírus mais rapidamente do que os tratamentos padrões em
pacientes com uma forma "leve" ou "moderada" da doença. Além disso, os
efeitos colaterais são mais importantes. "Tomados em conjunto, esses
resultados não apoiam o uso da hidroxicloroquina como tratamento de
rotina para pacientes com Covid-19", afirmou a revista médica britânica
BMJ, que publica os dois estudos.
O primeiro estudo foi baseado em 181 pacientes adultos hospitalizados
com pneumonia causada pela Covid-19, que forçou a administração de
oxigênio. Um total de 84 recebeu cloroquina diariamente menos de dois
dias após a hospitalização, diferentemente dos outros 97.
Não houve qualquer alteração com o tratamento, seja na transferência
para a reanimação (76% dos pacientes tratados com cloroquina estavam em
reanimação após 21 dias, em comparação com 75% no outro grupo) ou na
mortalidade (a taxa de sobrevivência no dia 21 foi de 89% e 91%,
respectivamente).
"A hidroxicloroquina chamou a atenção mundial como potencial
tratamento para a Covid-19 devido a resultados positivos de pequenos
estudos. No entanto, os participantes deste estudo não apoiam seu uso em
pacientes hospitalizados com Covid-19 que precisam de oxigênio",
concluem os pesquisadores de vários hospitais na região de Paris.
A cloroquina é usada no tratamento de doenças autoimunes, como lúpus e
artrite reumatoide, e tem fortes apoiadores. O controverso cientista
francês Didier Raoult defende seu uso em pacientes no início da doença,
juntamente com o antibiótico azitromicina.
Maduro defende medicamento
Bolsonaro não está sozinho em sua defesa da cloroquina para o
tratamento da Covid-19 apesar da falta de evidências médicas que o
respaldem. O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, também é
entusiasta do uso da cloroquina. "Com eles (cientistas e médicos),
avançamos na produção de difosfato de cloroquina, um medicamento eficaz
para o tratamento contra a Covid-19. Sim, nós podemos, Venezuela",
escreveu Maduro em rede social. Ele já recomendou ervas para combater o
vírus.
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