A Comissão de Acompanhamento das Ações de Enfrentamento à Covid-19 no
Rio Grande do Norte discutiu, na tarde desta segunda-feira (20), a
eficácia de medicamentos no combate à doença. O médico, professor e PhD
em infectologia Kleber Luz conversou com os parlamentares e respondeu
aos diversos questionamentos. Os parlamentares criticaram o gasto
público com medicamentos sem eficácia comprovada.
Contando com a participação dos deputados Tomba Farias (PSDB),
Hermano Morais (PSB), Francisco do PT, Sandro Pimentel (Psol) e Kelps
Lima (Solidariedade), que é o presidente da Comissão, o grupo fez
questionamentos sobre diversas situações, principalmente sobre o uso de
medicamentos no combate ou prevenção à doença. Kleber Luz disse que,
neste momento, a maior novidade é com relação à eficácia da
dexametasona, quando pacientes estão com oxigenação baixa. Segundo ele,
há estudos publicados que comprovaram a eficácia do uso em alguns
estágios da doença.
No entanto, boa parte dos questionamentos dos parlamentares era com
relação à profilaxia, que é o uso de forma preventiva de algum
medicamento. Kleber Luz disse que não acredita que uma vacina esteja
disponível à sociedade em menos de um ano, assim como também afirmou não
haver nenhuma comprovação científica que aponte para a eficácia de
medicamentos como forma de se prevenir a doença ou amenizar os efeitos,
citando os casos da Ivermectina e cloroquina, principalmente.
“Eu sou pago para estudar, assim como diversos outros pesquisadores.
Até onde foi minha revisão e dos demais profissionais sobre os estudos
publicados nacional e internacionalmente, não há medicamentos que evitem
ou modifiquem o curso inicial da doença”, garantiu o médico. Além
disso, Kleber Luz também disse que há a possibilidade, ainda que remota,
de que uso de cloroquina, hidroxicloroquina e azitromicina piorem
quadros.
De acordo com o médico, na ciência, o ônus da prova é de quem
diz que algo funciona, e não o contrário. Segundo ele, não existe um
estudo para mostrar que um remédio não funciona. Por isso, o médico
disse que a recomendação é que não seja massificado o uso de remédios
sem comprovação científica de eficácia, sob pena de haver má utilização
dos recursos públicos e nenhum retorno à sociedade.
“Distribuir medicamentos é bom, é uma medida positiva, desde que os
medicamentos tenham efeito. Distribuir remédio de pressão alta, verme, é
excelente iniciativa. Distribuir remédio que não funciona é mais
complicado”, disse.
O presidente da comissão, deputado Kelps Lima, questionou diretamente
se a distribuição de Ivermectina pode contribuir para a morte de
pessoas que acreditam estarem imunes. “Sim (corre risco de morrer). Se
não há comprovação de eficácia, há um risco de colaborar para se
afrouxar o isolamento e, se a pessoa tem comorbidades, ela corre o risco
de morrer mesmo tomando a medicação”, garantiu Kleber Luz.
Provocado a opinar, como professor e cidadão, sobre a distribuição e
divulgação de Ivermectina por parte do Poder Público como medicamento
eficaz na prevenção à Covid-19, Kleber Luz disse que acredita ter havido
falta de um debate mais amplo, principalmente ouvindo a comunidade
científica.
“Quando vejo que uma secretaria estadual ou municipal que advoga para
uso de uma medicação de forma profilática, eu penso em duas
possibilidades: ou um assessoramento ruim, ou a falta do contradotório,
que é uma possibilidade mais forte. O gestor, que está usando o dinheiro
público, deveria ter ouvido as partes, o contraditório, porque as
opiniões são divergentes. Deveria se ouvir a parte da comunidade que
também estuda e produz conhecimento. Não posso julgar se é certo ou
errado, mas penso que faltou um pouco de cuidado e zelo”, avaliou o
infectologista.
Finalizando a reunião, Kelps Lima fez críticas diretas ao prefeito de
Natal. “Natal é gerida por um prefeito que está fazendo politicagem e
pondo em risco a vida da população. Nós precisamos dos grandes médicos.
Felizmente é uma minoria, que está se consorciando com o prefeito para
iludir nossa sociedade, que está receitando remédio com fim
político-eleitoral”, criticou Kelps Lima.
Nenhum comentário:
Postar um comentário