Em meio a um novo surto de casos de coronavírus — em poucos dias, no
final de junho, foram registradas mais de 1.500 infecções — a Alemanha
trouxe mais uma prova de que o uso de máscaras pode ser decisivo para o
combate à Covid-19. Um novo estudo publicado no portal VoxEU,
especializado em políticas públicas, destaca que uma cidade do país
reduziu em até 40% a sua taxa de crescimento de casos de Covid-19 ao
tornar obrigatório o uso de uma proteção facial.
A pesquisa analisou a evolução das ocorrências de coronavírus em
Jena, uma cidade de 100 mil habitantes a 220 quilômetros de Berlim.
Nela, a campanha do uso obrigatório de máscaras em transporte público,
locais de trabalho e estabelecimentos comerciais foi lançada no dia 30
de março, e a medida entrou em vigor uma semana depois, no dia 6 de
abril. A iniciativa só foi introduzida no restante da Alemanha três
semanas depois, no dia 27.
“Se observarmos o número de casos de Covid-19 em Jena, as máscaras
parecem ter um efeito positivo. O número de novas infecções registradas
caiu para quase zero nos dias seguintes”, destaca a equipe formada por
pesquisadores das universidades de Kassel, Johannes-Gutenberg Mainz e TU
Darmstadt (todas alemãs) e pela Universidade do Sul da Dinamarca.
Para se certificarem de que o uso obrigatório de máscaras foi o
responsável pela queda de casos de coronavírus, os cientistas projetaram
uma “cidade alternativa”, que teria as mesmas características de Jena,
como densidade populacional regional, idade média da população,
proporção de idosos e média do número de médicos e farmácias por
habitantes.. Nela, porém, não haveria uma política de adoção de proteção
facial contra a Covid-19.
Vinte dias depois de sua política obrigatória para máscaras, Jena
ganhou apenas 16 novos casos de coronavírus, passando de 142 para 158.
Já no modelo projetado da cidade, onde não foi adotada a proteção
facial, número de infectados cresceu de 143 para 205, um avanço de 23%.
“A pesquisa concorda com os estudos de epidemiologistas e
virologistas, que explicam que as coberturas faciais limitam o fluxo de
ar ao falar, reduzindo assim a transmissão de partículas infecciosas”,
explica o estudo. “A exigência de máscaras é uma medida de contenção
econômica e menos prejudicial economicamente para a Covid-19”.
Proteção individual e coletiva
Segundo Rômulo Neris, virologista pela UFRJ e pesquisador visitante
da Universidade da Califórnia, as máscaras simples, que têm de uma a
duas camadas de tecido, poderiam reter até 50% de partículas virais
presentes em gotículas de saliva, espirro e tosse. Este percentual foi
calculado com base em outros patógenos, porque os relacionados ao Sars
CoV-2 ainda estão em andamento:
— A máscara não está associada somente à proteção de seu usuário, mas
também a de quem está ao seu redor, principalmente quando não é
possível fazer um rastreamento sobre as pessoas que estão infectadas.
Ela não deve ser manipulada frontalmente e, após seu uso, deve ser
lavada com sabão ou álcool, caso não seja do tipo descartável.
Betania Drummond, microbiologista da Universidade Federal de Minas
Gerais, destaca que as gotículas e secreções têm de passar por dois
“escudos” no eventual contato entre uma pessoa saudável e uma infectada.
— A máscara de uma pessoa reduz a passagem de gotículas de saliva,
secreção e tosse. O que conseguir sair de lá pode ser “bloqueado” pela
máscara de outro indivíduo — explica.
Desde a semana passada, o presidente Jair Bolsonaro promulgou vetos à
obrigação do uso de máscara em estabelecimentos comerciais, templos
religiosos, instituições de ensino e presídios. A imposição de multas
para quem descumprir as regras e a obrigação do governo de distribuir
máscaras para os mais pobres foram revogadas. Esses vetos, no entanto,
não anulam legislações locais que já estabelecem a obrigatoriedade do
uso da máscara.
ESTADÃO CONTEÚDO
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