O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) mobilizou neste domingo (9)
centenas de motoqueiros para um passeio por Brasília, o que provocou
aglomeração de apoiadores em frente ao Palácio da Alvorada.
O presidente e diversos simpatizantes não utilizavam máscaras. Ao final
do passeio, Bolsonaro cumprimentou apoiadores ao lado da entrada da residência
oficial, contrariando mais uma vez recomendações sanitárias para a contenção da
Covid, que já matou mais de 420 mil brasileiros.
Bolsonaro afirmou que a carreata, que percorreu as principais vias do
centro de Brasília por cerca de uma hora, era uma homenagem ao Dia das Mães.
Ele disse ainda que espera fazer passeios semelhantes em cidades como São
Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte.
Além dos discursos, o presidente assinou decretos para driblar decisões
estaduais e municipais, manteve contato com pessoas na rua e vetou o uso
obrigatório de máscaras em escolas, igrejas e presídios --medida que acabou
derrubada pelo Congresso.
No começo deste ano, quando os números já apontavam para novo avanço da Covid no país, Bolsonaro afirmou que o Brasil estava vivendo "um finalzinho de pandemia". Ele tem falado e agido em confronto com as medidas de proteção, em especial a política de isolamento da população.
Bolsonaro também distribuiu remédios ineficazes contra a doença,
incentivou aglomerações, atuou contra a compra de vacinas, espalhou informações
falsas sobre a Covid e fez campanhas de desobediência a medidas de proteção,
como o uso de máscaras.
O presidente é o principal alvo da CPI da Covid do Senado, que investiga
ações e omissões do governo na pandemia, além do repasses de verbas federais
para estados e municípios.
Neste domingo, tanto na partida quanto na chegada do Alvorada, havia uma
banda militar para fazer a trilha sonora do passeio do presidente.
Ele foi recebido de volta à residência oficial da Presidência com a
música tema da série de televisão Game of Thrones e pelo Tema da Vitória,
canção instrumental utilizada na vitória de pilotos brasileiros de F1.
Num discurso a apoiadores, ao lado do general e ministro Braga Netto
(Defesa), Bolsonaro voltou a usar a expressão "meu Exército" e disse
que os militares não irão para as ruas cumprir ordens de distanciamento social
de prefeitos e governadores -o que nem está em discussão em estados e
municípios.
"Tivemos problema gravíssimo no passado, algo que ninguém esperava,
a pandemia. Mas aos poucos vamos vencendo. Podem ter certeza, como chefe
supremo das Forças Armadas, jamais o meu Exército irá às ruas para mantê-los
dentro de casa", discursou o presidente.
O ato com motoqueiros foi convocado pelo próprio presidente, que durante
a semana disse esperar o comparecimento de mil motociclistas. A Polícia Militar
do Distrito Federal não fez estimativa de público.
O recorrente uso da expressão "meu Exército" por Bolsonaro tem
sido criticado porque indica uma politização das Forças Armadas.
No final de março, Bolsonaro demitiu o então ministro Fernando Azevedo
(Defesa), que segundo relatos vinha resistindo à pressão de Bolsonaro por um
maior apoio do meio militar ao governo durante as ações da pandemia.
Como resultado, os comandantes das três Forças também entregaram seus
cargos, desencadeando a maior crise militar no país desde a redemocratização.
Nas últimas semanas, Bolsonaro tem disparado ameaças de que pode editar
um decreto contra as políticas de distanciamento social impostas por
governadores e prefeitos -como o fechamento de comércios- e já afirmou que pode
acionar os militares para impedir restrições a atividades econômicas.
Em seu discurso neste domingo para os apoiadores aglomerados em frente
ao Alvorada, o presidente afirmou que a manifestação dos motociclistas não era
uma "demonstração política", mas de "amor à pátria" de
todos aqueles que querem "paz, tranquilidade e liberdade".
Na fala, o presidente chamou os motoqueiros de "nosso
Exército" e disse: "O que vocês determinarem, nós faremos".
Nesse momento, muitos dos presentes gritaram "eu autorizo", lema
usado por apoiadores que sugere anuência à adoção de medidas autoritárias pelo
mandatário.
Bolsonaro também defendeu que, nas eleições de 2022, seja instituído uma modalidade de voto impresso no Brasil, outra bandeira do bolsonarismo.
Com informações Ricardo Della Coletta | Folhapress
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