quarta-feira, 3 de agosto de 2022

Tremor no Rio Grande do Norte não é preocupante, diz geofísico

O tremor de 3.7 graus na Escala Richter (mR), que foi percebido no último domingo (31) na costa potiguar ao Norte até Natal, não representa perigo ou preocupação de desastres. Essa é a avaliação do professor Eduardo Menezes, geofísico do Laboratório de Sismologia da UFRN (LABSis/UFRN). Porém, o evento sísmico traz algumas curiosidades: foi precedido de outro com menor intensidade e, coincidentemente, se alinha com a Falha de Samambaia, na região de João Câmara, onde uma série de sismos sacudiram a região, em 1986, destruindo casas e gerando pânico na população, sendo percebidos também na capital do Estado.

Dessa vez, o evento ocorreu no meio do mar, à distância de 40 km, numa região conhecida por borda continental oceânica. Moradores das regiões costeiras de Touros a Natal relataram ter sentido os tremores por volta das 16h do último domingo. De fato, um evento sísmico de magnitude preliminar calculada em 3.7 mR foi registrado pelas estações sismográficas operadas pelo LabSis da UFRN na região litorânea, mas esse não foi o único.

Bem antes, na madrugada, por volta das 0h34min ocorreu um primeiro evento sísmico de magnitude preliminar calculada em 3.7 mR.  Moradores das regiões de Maxaranguape e Maracajaú sentiram as vibrações. Esses eventos são provocados por falhas geológicas que entram em atividade e geram tremores, mas nem sempre preocupam. “Para essa ordem de grandeza, não é preocupante. O que preocupa, às vezes, em áreas que ocorrem tremores de terra, é a frequência. Quando há uma repetição de tremores, não necessariamente ele sendo nessa ordem de grandeza, num período de tempo mais curto. Então, a gente tem um ano praticamente sem nenhum registro desse aí na região”, explicou o professor Eduardo Menezes.
Na plataforma continental, onde ocorreu o de domingo, o último evento registrado pelo LabSis foi às 0h30min do dia 25 de julho de 2021, com magnitude de 3.5 mR, sucedido por outros nos dias 12 (2.0 mR), 19 (1.9 mR), 22 (2.1mR) e no dia 24, quando ocorreram dois (2.5 mR e 1.8 mR).

“Tudo leva a crer que ocorreu na mesma área. Se você olhar a falha de Samambaia, por exemplo, em João Câmara, o epicentro estaria mais ou menos alinhado com ela. Como é no continente, esses eventos estão em outro extremo, mas por enquanto a gente ainda não pode afirmar se tem ou não correlação com a Falha”, explicou o professor.

Samambaia é a maior falha geológica do Brasil. Tem 38 km de comprimento por cerca de 4 km de largura e atravessa os municípios de Parazinho, João Câmara, Poço Branco e Bento Fernandes. Sua profundidade varia entre 1 e 9 km. Próximo a ela se encontra a falha geológica de Poço Branco, que apesar de ser bem menor também contribui por alguns tremores naquela região. As atividades sísmicas ao redor da falha de Samambaia são constantes e em alguns casos podem causar tremores de magnitude elevada, como a de 1986.
Para se ter uma ideia, naquele ano, o primeiro da sequência de tremores em João Câmara, no interior do Rio Grande do Norte, aconteceu no dia 21 de agosto e alcançou 4.3 graus na Escala Richter que é infinita, mas especialistas garantem que nunca chegou ao número 10. No mês seguinte, foram dois eventos sísmicos na mesma cidade: um de 4.3 mR e outro de 4.4 mR, respectivamente. Mas o terremoto principal ocorreu somente no dia 30 de novembro, com magnitude de 5.1, seguido por milhares de réplicas.

Laboratório da UFRN faz monitoramento

Através das estações demográficas que a UFRN mantém no Nordeste e em rede nacional, o Laboratório de Sismologia (LabSis) consegue calcular o momento exato e a localização dos sismos e expressa tudo em gráficos. Segundo o professor Eduardo Menezes, essas informações servem para  dar subsídio aos órgãos como a Defesa Civil e Corpo de Bombeiros dos municípios que avaliam se o tremor trouxe algum problema de estrutura dos imóveis e ao psicológico das pessoas.

“Nós temos na Rede Brasileira 98 estações e dentro dessa rede um conjunto 18 estações nossas, além de mais 22 que não estão integradas à rede, mas são usadas para estudos locais. Todos esses dados, na sua maioria, chegam em tempo real para o laboratório e, através deles, a gente consegue fazer as localizações, as magnitudes e gerar os boletins que  emitimos”, destacou Menezes.
Ele ressalta que não há como prever quando vai ocorrer um tremor, mas é possível observar sua frequência e identificar o risco que a região apresenta. “Toda atividade sísmica ela se manifesta através de um ciclo, de um período, então temos alguns eventos durante um determinado período e depois é tendência natural dele cessar”, pontua.

Segundo informações do LabSis, o Nordeste brasileiro é formado por diversos fragmentos de rochas muito antigas, com maior probabilidade de produzirem atividade sísmica local. Além disso, as camadas de solo são bastante rasas, com camadas finas de terra variando entre 4 e 25 metros acima da rocha. Em algumas localidades, a camada é tão fina que a rocha chega a ficar exposta.  

Em maio de 2011, um tremor de magnitude 6.0 mR ocorreu mais distante, no meio do Oceano Atlântico, na cordilheira meso-oceânica, a 1.276 km de Natal, gerando um boato de que um tsunami atingiria a capital potiguar. Contudo, o coordenador do LabSis à época, Joaquim Ferreira Mendes, explicou que as características dos movimentos de placas tectônicas no Oceano Atlântico tornavam muito improvável a existência de um tsunami em Natal.

Ele explicou que onde os movimentos das placas é vertical, como no Japão ou na Cordilheira dos Andes, o movimento repercute na superfície porque as placas se empurram. No caso das placas do Oceano Atlântico, onde as placas se afastam, a probabilidade de um movimento vertical é quase nula, sendo horizontal, o que não provoca tsunamis.

Da Tribuna do Norte

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