Um estudo publicado no periódico Biomedicine & Pharmacotherapy nesta semana, mostrou que o uso de hidroxicloroquina (HCQ) em pacientes hospitalizados durante a primeira onda da pandemia de covid-19, em 2020, levou à morte cerca de 17 mil pessoas em seis países que tiveram seus dados analisados. O Brasil não está entre as nações estudadas.
O remédio foi usado de forma indiscriminada por vários países no início da pandemia por uma suposta eficácia no combate ao coronavírus.
A pesquisa que buscou estimar o número de mortes associadas ao uso dessa medicação foi realizada por cientistas franceses e fez projeções com base em 44 estudos internacionais com dados da França, Bélgica, Espanha, Turquia, Itália e Estados Unidos. Foram considerados no cálculo indicadores como a taxa de mortalidade hospitalar por covid, a exposição à hidroxicloroquina, o número de pacientes hospitalizados e o aumento do risco relativo de morte com o uso da medicação.
No caso desta última variável, foi considerado um dado já publicado em estudo de 2021 na revista científica Nature Communications que mostrou que a utilização do remédio em pacientes com covid aumentaria em 11% esse risco.
Considerando o número mediano das projeções feitas pelos cientistas para o excesso de mortes atribuíveis às medicações, eles chegaram à estimativa de 16.990 óbitos somente durante a primeira onda de covid-19, que estariam distribuídos da seguinte forma entre os países analisados: 12.739 nos EUA, 1.895 na Espanha, 1.822 na Itália, 240 na Bélgica, 199 na França e 95 na Turquia.
No artigo científico, os pesquisadores ressaltam que o número estimado de quase 17 mil mortes pode ser apenas “a ponta do iceberg” devido à limitação dos dados e de eles serem de apenas seis países.
“Considerando que os dados confiáveis sobre hospitalizações, uso de HCQ e mortalidade hospitalar são limitados na maioria dos países, esses números provavelmente representam apenas a ponta do iceberg, subestimando em grande medida o número de mortes relacionadas ao HCQ no mundo. A prescrição off label (indicação fora da indicada na bula, como foi o caso da hidroxicloroquina para covid) pode ser apropriada quando os médicos julgam ter evidências suficientes para sugerir benefícios do medicamento. No entanto, as primeiras pesquisas relatando o efeito do HCQ mostravam eficácia limitada ou nenhuma na redução da mortalidade”, destacaram os pesquisadores.
De acordo com revisão feita pelos pesquisadores na literatura científica, o principal dano do medicamento em pacientes com covid está relacionado com efeitos colaterais cardíacos, mas alguns doentes também podem ter problemas no fígado e nos rins com o uso do remédio.
Os cientistas defendem, diante dos resultados, “uma regulamentação rigorosa do acesso a prescrições off-label durante futuras pandemias” e dizem ainda que é fundamental que “representantes das autoridades públicas não promovam, com base nas suas convicções pessoais, a prescrição de medicamentos que não tenham sido formalmente avaliados, criando assim falsas esperanças quanto à existência de uma solução para uma crise sanitária complexa”.
Com informações do Estadão
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