segunda-feira, 17 de fevereiro de 2025

Técnica de enfermagem cuida, brinca, dança e faz amizade com paciente de 109 anos em UPA de Fortaleza; veja vídeo

"Você sabe que o amor cura?", pergunta a técnica de enfermagem Danielle Araújo Morais, de 43 anos, com a certeza sobre o potencial restaurativo do cuidado afetuoso. 

Nessa semana, um registro da profissional da saúde interagindo com um paciente de 109 anos na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Itaperi, em Fortaleza, emocionou não só aos familiares, como aos colegas de profissão e furou a bolha nas redes sociais.

Danielle está alocada no setor de Observação Adulto da UPA e participa de todas as etapas de atendimento dos pacientes internados em situação grave, alguns em coma. Foi lá onde conheceu o Francisco Simão Lima, o seu Simão, um "homem cheio de vida e de alegria", como descreve, que chegou à unidade de saúde com pneumonia que exigiu hospitalização, no último domingo (9).

"Ele é um amorzinho, toda vez que eu chegava perto da cama dele, ele começava a falar alguma coisa que eu não entendi. Uma vez, cheguei e disse: 'homem, tu fala baixo e eu já não escuto bem, não entendo o que tu tá dizendo, vamos devargazinho'. Pronto, começou nessa brincadeira", lembra com a entonação típica de uma boa cearense contadora de histórias.

 

Foram vários plantões ao longo da semana cuidando do seu Simão, pedindo a benção e conversando sobre forró. "Ele ficava perguntando para as colegas que hora eu chegava, tanto que no vídeo ele diz 'pra onde você você vai?', eu respondo que vou pra casa e digo que não vou voltar e ele chorou. 

Aqueles olhinhos vermelhos lacrimejando", conta emocionada.Mesmo no ambiente hospitalar, onde a incerteza sobre a volta do paciente para casa intensifica a dor, Danielle e seu Simão conseguiram encontrar leveza

A neta Priscila Lima, de 35 anos, ao ver isso, pediu para registrar alguns vídeos e enviar para a família. O compilado de um cuidado genuíno foi também para as redes sociais e viralizou.

"Quando acordei no outro dia, meu celular vibrando, li uma mensagem assim 'sabe quem está famosa?', eu com sono do plantão queria mesmo era dormir. Fui olhar no Instagram e fiquei sem saber o que fazer e sem saber o que dizer, entrei em contato com a Pri e disse 'pensei que tu ia mandar só pra família', mas ela me falou que não conseguiu se segurar", detalha.

Milhares de curtidas e comentários surgiram para celebrar o gesto e parabenizar a profissional pela entrega. "Escutei de um médico do Mato Grosso do Sul, que me mandou uma mensagem linda, que não é só o medicamento e a estrutura do hospital de onde vem a cura, é quando o paciente se sente acolhido. Para mim, esse carinho que vem de lá pra cá, é muito válido", conclui.

No sábado (15), Danielle chegou para trabalhar à noite, mas não encontrou o seu Simão. Pela manhã, o centenário recebeu alta hospitalar e está nos braços da família. "Os cuidados médicos, a fé e essa alegria da Dani, mesmo na madrugada, sempre com a mesma frequência" foram decisivos para a recuperação, como considera Priscila Lima, produtora de audiovisual.

Para celebrar a vida e a amizade, um café já está marcado na casa da família que "adotou" Danielle. "Quando cheguei na UPA, vi a Danielle com a maior alegria, mexendo com todo mundo, brincando com os pacientes, e muito atenciosa com os acompanhantes. Meu avô ficava buscando ela com o olhar e quando chegava começava a rir", conta sobre o momento que decidiu gravar os vídeos.

Vocação de vida

São dois anos e meio na área da saúde, um ano na UPA, e várias histórias marcadas no peito. Algumas delas, inclusive, voltaram à tona entre os comentários da publicação.

"Nas mensagens que eu tenho recebido, que não são poucas, alguns parentes de pacientes meus apareceram, como a dona Maria Pereira, minha primeira paciente que eu passei 17 dias, mas foi transferida. Quando eu soube, eu corri pra lá para saber se estavam cuidando dela como eu cuidava. Cuidei e banhei dela lá", lembra.

Antes de deixar o local, Danielle pediu a benção, recebeu um beijo na mão, mas sentiu "algo diferente". No outro dia, a notícia da morte da idosa a abalou e, ao recordar da situação, a voz volta a ficar trêmula e os olhos marejados. "Fui para o velório na época e agora vou para o casamento da neta dela", conta como uma mostra dos laços feitos durante os atendimentos.

Com seu Simão, a técnica em enfermagem também torcia para chegar o dia no qual iria acompanhar a evolução do paciente. "O cansaço existe, mas hoje mesmo saí da UPA, passei em casa e vim comemorar o aniversário de um amigo da saúde. Estamos todos aqui", compartilha durante a entrevista.Imagina essa alegria dentro de casa, entre familiares e amigos? A filha de 7 anos reconhece na mãe uma energia fora do normal e já indicou que Danielle causa cenas divertidas não só no trabalho. "Ela disse 'mamãe', um dia eu gravo a senhora arrumando a casa e posto'", comenta entre risadas.

 

Escrito por
Lucas Falconery

Diário do Nordeste

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