Alunos, professores, gestores e trabalhadores da educação viveram momentos de angústia, correria e apreensão na manhã de quinta-feira (25) na Escola de Ensino Médio Professor Luís Felipe, no bairro Campo dos Velhos, em Sobral, região Norte do Ceará. Cinco estudantes, com idades entre 16 e 18 anos, foram atingidos por tiros disparados por dois homens que estavam fora da escola. Dois alunos morreram e três foram hospitalizados. Desses, um segue internado.
A tragédia, marcada pela violência extrema, abalou a cidade reconhecida nacionalmente por seus avanços na educação e deixou marcas profundas em uma das instituições públicas de ensino mais tradicionais de Sobral, com mais de 80 anos de história.
O crime segue em investigação e uma das possíveis motivação é a disputa entre facções. O secretário estadual de Segurança Pública e Defesa Social, Roberto Sá, chegou a afirmar, na noite de quinta-feira que dada as características da ação criminosa, os dois adolescentes mortos teriam sido “executados”. Logo, o crime teria sido premeditado, apontou ele.
A ação criminosa ocorrida na escola se distingue de outros tipos de ataques a unidades de ensino ocorridos no Brasil nos últimos anos, como os atentados em Realengo (Rio de Janeiro em 2011), Suzano (São Paulo em 2019) e Blumenau (Santa Catarina em 2024) os quais também resultaram em desfechos trágicos, com mortes.
Os disparos na Escola Luís Felipe ocorreram quando os alunos das turmas da manhã estavam no intervalo das aulas. A escola, que pertence à rede estadual, conforme registro da Secretaria Estadual de Educação (Seduc), funciona no formato regular. Dados do Censo Escolar de 2024, do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) indicam que a unidade tinha 1.159 alunos matriculados e contava com 54 professores.
A unidade é uma escola tradicional e após a ocorrência teve as aulas suspensas. Ainda não há uma definição pública de quando e como será a retomada.
Registros do Conselho Estadual de Educação (CEE) indicam que, em 2025, a instituição de ensino chegou aos 81 anos. O começo das atividades da unidade, aponta o histórico, ocorreu no dia 1º de fevereiro de 1944, inicialmente em outra localização. Apenas em 1955 a escola passou a funcionar no atual prédio, na rua Coronel José Silvestre, onde aconteceram os disparos.Até 2014, a Escola funcionava com outra estrutura. Em agosto daquele ano, o atual prédio foi entregue completamente reformado pelo então governador do Ceará, Cid Gomes. No local uma “nova” escola foi construída com capacidade para atender até 1.600 alunos, divididos em dois turnos. Na reconstrução, a unidade recebeu biblioteca, refeitório, anfiteatro, auditório, laboratórios de Línguas, Informática e de Ciências, além de quadra poliesportiva.
À época, o investimento foi de cerca de R$ 7,9 milhões, em recursos do próprio Tesouro Estadual, conforme aponta registros da própria Prefeitura de Sobral. Naquele momento, a escola ainda era nomeada como sendo de “ensino fundamental e médio”. Em 2022, um decreto (34.790/22) assinado pela ex-governadora Izolda Cela redenominou a unidade, retirando o “ensino fundamental” e focando no ensino médio.
Desempenho do estudantes
Em relação ao nível de aprendizado dos estudantes, a Escola de Ensino Médio Professor Luís Felipe, no último Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) - indicador que mede a qualidade educacional no país a partir de dois fatores: o fluxo escolar e as médias de desempenho nas avaliações, registrou nota de 4,6 enquanto a meta era alcançar 4,8.
Também nesse contexto, segundo dados do Censo Escolar, desde 2020 a escola não registra abandono de alunos. Uma marca considerável tendo em vista os desafios da evasão nesta etapa de ensino.
Sobre o acesso à universidade, um levantamento feito pelo Diário do Nordeste com base em dados fornecidos pela Seduc em junho de 2025, entre 2017 e 2024, 210 estudantes que concluíram na escola foram aprovados em instituições de ensino superior, incluindo as unidades públicas (federais e estaduais) e particulares.
Outro resultado destacado e registrado na conta oficial da escola em uma rede social é o fato de no Enem 2024, 32 alunos terem tirado nota acima de 800 pontos na redação. Destes, alguns atingiram mais de 900 pontos.
Comunidade escolar abalada
A ocorrência gerou grande repercussão Brasil afora e diversos políticos, figuras públicas e entidades se manifestaram, dentre elas o próprio ministro da Educação, Camilo Santana (PT), o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), o governador Elmano de Freitas, a União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), dentre outros.
À TV Verdes Mares moradores do entorno do local e pais e mães de alunos relataram o terror vivenciado e os temores que a ação criminosa gerou. A manicure Isa Maria, que é mãe de uma aluna da escola, contou que estava próximo à unidade no momento do ataque e relatou a cena de desespero. Segundo ela, pais e mães chegaram a tentar arrebentar o portão para acessar o local.
A dona de casa Sânia Amaral também reiterou a sensação de preocupação com o ocorrido, enfatizando que pais deixam os filhos nas escolas com expectativas de serem locais seguros.
Na quinta-feira, o Diário do Nordeste também noticiou que Centro de Defesa da Criança e do Adolescente do Ceará, junto à ONG de proteção à infância Visão Mundial, enviou no dia 8 de agosto um ofício à Seduc solicitando a transferência de um aluno da escola Luís Felipe por ele receber ameaças.
O estudante, na manhã da ocorrência, estava na unidade e não foi atingido pelos disparos. Um dos alunos mortos morava na mesma comunidade (Nova Caiçara) que esse estudante mencionado pelas ONGs, que reside em uma área dominada por uma facção e a escola fica em uma área na qual outra facção rival atua.
Diário do Nordeste
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