No último debate das eleições 2010, realizado pela TV Globo nesta
sexta-feira (29), Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) evitaram o
contato direto tanto durante suas caminhadas pelo palco como nas
críticas veladas que fizeram um ao outro. Também se esforçaram para não
citar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Na sessão de duas horas de perguntas e respostas a eleitores indecisos,
a petista e o tucano detalharam algumas de suas propostas, mas fugiram
das denúncias que fizeram um contra o outro nos últimos debates –
notoriamente os casos Erenice Guerra, ex-assessora de Dilma, e Paulo
Preto, ex-diretor da empresa paulista de estradas.
No primeiro bloco, questionado por um eleitor do Distrito Federal sobre
corrupção, Serra atacou a falta de punições a corruptos nos últimos 20
anos e, nesse período, acabou incluindo o governo de seu aliado,
Fernando Henrique Cardoso, como um dos que não deixaram atrás das grades
suspeitos de lesarem o patrimônio público. Serra foi ministro do
Planejamento e da Saúde na gestão FHC.
“Nós vimos escândalos grandes nos últimos 20 anos, e ninguém ficou
preso”, afirmou o tucano. "O exemplo tem que vir de cima. O chefe de
governo tem que começar dando exemplo, escolhendo bem as equipes e
punindo quando há alguma irregularidade.”
O ex-governador de São Paulo fez crítica velada a Lula, que criticou
órgãos de fiscalização durante sua gestão. Mas só citou o adversário que
o derrotou em 2002 ao lembrar que também participou da disputa oito
anos atrás. Dilma, líder nas pesquisas, preferiu fazer referência ao
“meu governo” e ao “futuro governo”.
O tom emotivo, visto no último programa do horário eleitoral
obrigatório, ficou restrito aos comentários finais. Dilma disse ter
ficado triste na campanha “em razão de algumas calúnias" feitas contra
ela na internet e em panfletos. “Mas não guardo mágoa”, disse ela, que
já acusou tucanos de promoverem “mentiras e calúnias”.
Serra voltou a pedir a seus eleitores que conquistem mais um voto por
ele e que oferece sua biografia para ser sucessor de Lula na
Presidência.
Ao longo de todo o debate, Dilma e Serra evitaram contato visual,
dirigiram-se para o outro lado enquanto o oponente falava às câmeras e
só se tocaram no começo e no fim do encontro, para se cumprimentarem.
Críticas veladas
Ainda no tema corrupção, Dilma afirmou que a Polícia Federal está
fortalecida para investigar casos do tipo e citou o caso sanguessugas,
que envolve desvio de verbas do Ministério da Saúde, incluindo o período
em que um aliado de Serra passou à frente da pasta. “Começamos a ver
uma porção de casos de corrupção sendo apurados. Pela primeira vez foram
incluídos casos de altas figuras.
Sobre o caso dos sanguessugas, ela afirmou: “Havia todo um processo de
uso do dinheiro público na área da saúde e, junto com a CGU
(Controladoria Geral da União), a Policia Federal investigou”.
Em seguida, referiu-se a um apelido dado por adversários de Geraldo
Brindeiro, procurador-geral da República durante o governo FHC. “É
importante que não haja o engavetador-geral da República”, disse a
petista.
O modelo do debate, em que eleitores indecisos perguntavam aos
candidatos, fez com que houvesse uma redução do confronto entre eles.
Dilma e Serra foram respondendo às questões dos eleitores, sem se
referirem diretamente um ao outro. Cada eleitor perguntou sobre um tema a
um candidato, e o outro fez comentários em seguida.
Nos segundo e terceiro blocos, a corrupção saiu do centro do debate,
mas tanto Dilma quanto Serra continuaram fazendo referências sutis a
episódios que envolvem os dois. O tucano também criticou o governo Lula,
sem citar o nome do presidente. "O governo federal duplicou impostos
sobre saneamento. Isso tira R$ 2 bilhões das empresas estaduais de
saneamento por ano."
Dilma retrucou dizendo que "o Brasil parou de investir em saneamento
durante muito tempo", mas não citou o governo FHC nem Serra diretamente.
Em outro momento, respondendo sobre educação, Dilma disse que "não se
pode receber professores com cassetetes. O diálogo é fundamental." É uma
referência a conflitos entre policiais e professores estaduais em São
Paulo, mas ela de novo não mencionou Serra nem o governo do Estado.
Serra foi um pouco mais incisivo, mas ainda sem falar no nome de Dilma
ou dirigir-se a ela. "Muitos Estados e municípios não estão pagando o
piso nacional [de salários de professores], porque o governo prometeu
complementar, mas não fez isso. A Bahia [Estado da eleitora que fez
pergunta sobre o tema] é governada pelo PT, o partido do governo
federal, mas nem assim melhorou o salário", afirmou o tucano.
No segundo turno, Dilma e Serra participaram de quatro debates nas TVs Bandeirantes, RedeTV!, Record e, finalmente, Globo.
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