Profissionais denunciam "genocídio assistido" pela falta de assistência adequada. Foto: Carlos Santos/DN/D.A Press |
Durante mais de três horas representantes do Fórum ouviram de médicos, enfermeiros, e servidores da saúde em geral, as dificuldades enfrentadas diariamente na unidade hospitalar. Os problemas apresentados são muitos, e graves. A médica da UTI do Giselda Trigueiro, Andréa Cavalcante, denunciou a falta de condições de dar diagnósticos a pacientes HIV positivo. Segundo ela, quando um paciente HIV positivo apresenta um comprometimento do pulmão, por exemplo, não há como realizar exames no Giselda Trigueiro capazes de diagnosticar qual o fungo, o germe, o que está causando aquele problema pulmonar. E aí entra em cena o "exercício da adivinhação".
"A sociedade sabe que esse Estado não tem um hospital para atender pacientes com Aids? A população sabe que esse Estado não tem um hospital com condições de dar diagnósticos para esses pacientes e que, quando eles apresentam comprometimento do pulmão ou cérebro, eles caem em um jogo de adivinhação? Nós não temos como diagnosticar o que está causando aquela piora e vamos tentando adivinhar, dando antibióticos sem a certeza de estar oferecendo o tratamento certo. Atendimentos que eu fiz no pronto-socorro de hospitais em São Paulo eu não tenho como fazer na UTI do Giselda. O índice de mortalidade aqui é de 80%, e nós temos bons médicos, mas fazemos diagnósticos", disse.
A promotora da Saúde, Iara Pinheiro, destacou que os representantes do Fórum estavam ali justamente para conhecer a realidade do hospital para, a partir daí, apresentar propostas concretas ao governo do estado. "Estamos aqui para ter uma aproximação do Fórum a uma realidade concreta dos serviços. Quando dizemos que o dinheiro não está chegando existem danos, e é importante que a gente vá às unidades de saúde para ter a real percepção das implicações dessa realidade. O Fórum tem uma proposta de enfrentamento coletivo ao desgoverno que nós estamos vivendo hoje Estado. Nós estamos buscando saídas para um momento de muita escuridão", disse a promotora.
A diretoria do hospital Giselda Trigueiro participou da reunião e compartilhou das angústias e denúncias dos servidores. As reclamações vão desde a falta de material básico até a escolha do paciente que irá para um respirador, a escolha pela vida de alguém.
"Quantas pessoas vão morrer de doenças infectocontagiosas que têm tratamento desde o século 19 para que o sistema mude? Até quando nós vamos compactuar com a morte de pessoas por falta de assistência? A população tem que ter conhecimento da situação que nós enfrentamos aqui diariamente", disse o diretor técnico da unidade, Carlos Mosca.
"O que nós vivenciamos no Giselda diariamente é um genocídio assistido, isso é crime. Eu não estudei para ver gente morrendo na minha frente por falta de assistência. Saúde é direito do povo e dever do estado. Nós atendemos pacientes que deveriam ser recebidos na rede básica, sem ter condições sequer de atender os nossos pacientes. Trabalhamos sem estrutura, sem o básico, muitas vezes faltam até luvas. É hora de repensar a saúde, alguma coisa tem que ser feita", completou a médica Edna Palhares.
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