Uma das principais agências do governo federal responsáveis pelo
fomento de estudos no exterior –como no programa Ciência sem Fronteiras–
pode, a partir de agora, cancelar bolsas de pesquisa já concedidas
devido à restrição orçamentária.
A decisão foi publicada em junho em uma nova portaria que regulamenta as bolsas no exterior da Capes, agência de fomento vinculada ao MEC.
A decisão foi publicada em junho em uma nova portaria que regulamenta as bolsas no exterior da Capes, agência de fomento vinculada ao MEC.
A norma define que a agência “poderá cancelar a carta de concessão
emitida em função de restrição orçamentária”. Mesma coisa pode acontecer
devido “documentação com dados parciais, incorretos ou inverídicos”.
Isso significa que pedidos concedidos não têm garantia de assinatura
de contrato. A regra vale de graduação a pós-doutorado fora do país.
A nova norma surge no momento em que o Senado vai decidir se dará
continuidade ao programa federal de intercâmbio Ciência sem Fronteiras. A
proposta está tramitando em projeto de lei –e tem causado
controvérsias.
A SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), por
exemplo, apoia o Ciência sem Fronteiras, mas tem torcido o nariz para a
proposta do Senado.
Em carta divulgada em junho, a entidade diz que a definição do
financiamento do programa no projeto de lei “está vaga, imprecisa e
aberta o suficiente para que o programa venha a ter problemas tanto de
orçamento como de liberação de recursos.”
Lançado em 2011, o programa sobrevive com recursos das pastas de Educação e de Ciência. Conforme a Folha apurou, o receio é que o governo aprove novas concessões de bolsas que não consiga pagar.
De acordo com assessoria de imprensa da Capes, apenas bolsas
concedidas a partir de agora estarão submetidas ao novo regulamento.
Em nota, a Capes afirma que “não há nenhuma referência a interromper bolsa de estudos em andamento por corte orçamentário.”
“Todos os bolsistas da Capes possuem garantia de terminar seus estudos, desde que possuam mérito e estejam cumprindo com as obrigações previstas.”
“Todos os bolsistas da Capes possuem garantia de terminar seus estudos, desde que possuam mérito e estejam cumprindo com as obrigações previstas.”
Para quem está estudando fora, o rumor de que a crise financeira
poderia abalar as bolsas vigentes e a incerteza da continuidade do
programa têm causado insônia.
A especulação, dizem os bolsistas, surgiu diante da lentidão do
governo em responder demandas dos cientistas que estão nas universidades
estrangeiras.
“Toda vez que se faz qualquer alteração no projeto, precisamos entrar
em contato com eles [a agência de fomento], justificar e pedir
autorização”, diz Júlia* (nome fictício). A bolsista prefere não se
identificar.
PÂNICO
“Às vezes, eles demoram mais de três meses para responder”, diz. “Com
todas as falhas de comunicação, tenho quase pânico. O medo maior é ter
de restituir o valor recebido da bolsa [caso o pedido de renovação seja
negado definitivamente], o que giraria em torno de meio milhão de reais.
”
Quem mais tem reclamado de “falha de comunicação” entre bolsistas e
governo são os pós-graduandos que tiveram a renovação da concessão da
bolsa negada depois de apresentação do relatório de desempenho acadêmico
(cada ano, os bolsistas devem pedir renovação da concessão mediante
relatório).
Como a Folha informou em reportagem recente,
quatro bolsistas relataram enfrentar problemas financeiros e até legais
por causa da interrupção da bolsa durante o processo de renovação.
Dois deles tiveram a bolsa renovada após a publicação da reportagem; outros dois ainda aguardam retorno da agência de fomento.
De acordo com dados solicitados pela Folha, a agência recebeu
715 pedidos de renovação de concessão de bolsa de doutorado pleno no
exterior neste ano. Desses, 22 pedidos foram, ainda na gestão anterior,
negados “por questões de baixa qualidade”.
De quem teve o relatório negado, um foi definitivamente indeferido e outros seis foram aceitos depois de recurso. Ainda há 15 pedidos em avaliação pela Capes.
De quem teve o relatório negado, um foi definitivamente indeferido e outros seis foram aceitos depois de recurso. Ainda há 15 pedidos em avaliação pela Capes.
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Como funciona
Contrato
Bolsista assina um contrato de quatro anos com o governo
Bolsista assina um contrato de quatro anos com o governo
Renovação
A cada ano, o bolsista deve enviar um relatório três meses antes da renovação da concessão da bolsa para análise da agência de fomento. Não há renovação automática
A cada ano, o bolsista deve enviar um relatório três meses antes da renovação da concessão da bolsa para análise da agência de fomento. Não há renovação automática
Recurso
Se a agência negar o pedido de renovação, o bolsista pode entrar com um recurso em até dez dias. Não há prazo estipulado para que a agência de fomento responda o recurso
Se a agência negar o pedido de renovação, o bolsista pode entrar com um recurso em até dez dias. Não há prazo estipulado para que a agência de fomento responda o recurso
Devolução
Se o pedido de renovação da concessão foi indeferido definitivamente, o bolsista deve retornar ao Brasil e devolver ao governo o dinheiro investido
Se o pedido de renovação da concessão foi indeferido definitivamente, o bolsista deve retornar ao Brasil e devolver ao governo o dinheiro investido
COMO FICA AGORA
Com a nova portaria, a Capes pode cancelar bolsas de pesquisa concedidas devido à restrição orçamentária
De 715 pedidos de renovação de concessão de bolsa de doutorado pleno no exterior, 22 foram negados.
Um foi indeferido definitivamente, seis foram aceitos depois do recurso e 15pedidos estão em avaliação
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