Assim falou o Apóstolo Paulo: “o salário do pecado é a morte” (Rm
6,23), e o livro da Sabedoria diz que foi “por inveja do demônio que a
morte entrou no mundo”(Sb 2,23-24). A morte não é um ser, não tem
identidade própria, não é nem mesmo uma criatura de Deus. Deus não mata,
é o homem que mata! A vida é a vocação do homem, a morte é uma
consequência de suas escolhas. Alguém me dirá: “é próprio do que vive
nascer, crescer, morrer”. Verdade! Nisto somos iguais aos demais
viventes nesta terra porque aqui não temos “morada permanente”. Contudo,
vejamos como é belo e natural a existência de uma planta: é semeada,
nasce, cresce, produz e depois seca ainda revelando beleza. Se todos os
homens pudessem passar por este “caminho” a certeza da morte seria
natural e aceitável. Mas o que acontece é bem diferente: as grandes
indústrias e, infelizmente, até os pequenos produtores, estão lançando
cada vez mais agrotóxicos sobre as plantações. Não se tem mais
prudência, pois o que importa é produzir e produzir, isto é, lucrar e
lucrar. Depois fazemos tantas campanhas “contra o câncer”. Na verdade,
as grandes campanhas deveriam ser “contra o que dá origem ao câncer”.
Nós estamos cuidando dos efeitos, o que é justo, mas estamos fechando os
olhos para as causas. É ridículo como nós gostamos disso e depois ainda
temos “crise de fé” quando perdemos alguém. É o homem que causa o
câncer!Quem mata um pai da família num assalto é o homem, não Deus; quem
extermina a vida promissora de um jovem é o homem, não Deus; quem está
massacrando as vidas humanas na Síria e exterminando sistematicamente no
Iraque é o homem, não é Deus. Quem tira o pão da boca dos pobres nos
esquemas de corrupção e nas leis injustas que só favorecem os
“poderosos” são os homens, a começar pelos do Congresso Nacional.
Malditos sejam! Quero ver se escaparão da morte, que é igual para todos.
Dia de finados não deveria ser um dia de lamentações e tristezas. Um
dia de recordação sim, um dia fazer memória de nossos antepassados, um
dia de rezar pelos que já não estão em nosso convívio, sim. Outrossim, e
talvez mais ainda, deveria ser um dia para rever nossa opção pela vida.
O que podemos fazer para favorecer a cultura da vida? Nossos atos
diários podem contribuir para proteger, favorecer, estimular e valorizar
a vida da natureza em seu sentido mais amplo: “a casa comum”, o planeta
onde vivemos e onde até mesmo somos sepultados – coisa que também
deveria ser digna e gratuita para todos. A cultura da vida inclui a
diminuição da poluição atmosférica, sonoro, visual; a proteção de nossos
rios, riachos, nascentes, lagoas e matas; inclui também a renúncia a
violência física e verbal sem cair num pacifismo alienante. A cultura da
vida requer mais humanização dos serviços públicos, mais participação
popular nas decisões da nação, dos estados e municípios. A cultura da
vida requer ainda uma posição menos hipócrita e mais efetiva pela
educação de todos. Analfabetismo, evasão escolar, retrocessos nas
universidades também são sinais de morte. Não fica de fora também os
temas antigos e sempre novos: rejeitar o aborto, resistir a eutanásia,
renunciar a traição do cônjuge é igualmente cultivar a vida. Neste tema
não há como ser seletivo: se eu defendo a dignidade dos animais como
posso defender a morte atroz dos humanos “incapazes” de autodefesa?
Minha gente, se não assumimos a Vida em todas as suas dimensões, é
melhor parar de tantas passeatas, caminhadas e campanhas… porque elas só
estão revelando o tamanho de nossa contradição e confirmação de nossa
hipocrisia.
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