sábado, 3 de dezembro de 2016

Despedida Cinzas de Fidel chegam a Santiago; cortejo tem emoção e coro ensaiado

Como medir a popularidade do líder de um país onde não há imprensa livre ou eleições e onde opositores costumam frequentar a cadeia?
Na chamada Caravana da Liberdade, que desde a última quarta (30) está atravessando o país com as cinzas de Fidel Castro, centenas de milhares de pessoas se perfilaram nas ruas e rodovias para avistar, por poucos segundos, a pequena urna funerária levada por um veículo militar.
A multidão era uma mistura de grupos uniformizados de estudantes e de funcionários públicos, moradores que acudiram espontaneamente e outros tantos resignados a esperar o fim de bloqueios rodoviários de até 6 horas de duração para seguir viagem.
Por volta das 12h locais deste sábado (3), o cortejo fúnebre chegou a Santiago, berço da Revolução Cubana. À noite, haveria um ato multitudinário com o esperado discurso de Raúl Castro.
As homenagens a Fidel, morto na sexta (25) aos 90 anos, terminam com o funeral neste domingo (4), em Santiago de Cuba. A caravana percorreu cerca de 900 km desde Havana, no sentido contrário ao da marcha revolucionária que levou o líder comunista ao poder, em janeiro de 1959.
Em Santa Clara, a urna de Fidel passou a noite de quinta (1º) para sexta (2) no mausoléu onde estão os restos do guerrilheiro Che Guevara.
A cidade na região central de Cuba foi o palco do último encontro ente os dois, em 1966. No ano seguinte, Che seria assassinado na Bolívia.
Na passagem do cortejo, era comum ver pessoas se emocionarem até as lágrimas. Em Sancti Spíritus (a 344 km de Havana), uma idosa, chorando e com uma bandeirola em mãos, nem percebeu a rápida passagem do caixão.
Mas nem todas as manifestações eram espontâneas. Um dia antes da passagem do cortejo, estudantes do internato Roberto Coco Peredo, na zona rural da província de Camaguey, ensaiavam, à beira da rodovia, a balançar bandeirolas e a entoar o lema oficial do luto.
“Yo soy Fidel!”, gritavam em coro os estudantes, enquanto um professor exortava: “Mais alto! Mais alto!”.
Em comum a todos que esperavam pelo cortejo, elogios a Fidel e declarações de apoio ao regime. As poucas críticas aludiam à difícil situação econômica do país caribenho.
“Entrevistar cubanos é extremamente difícil”, diz uma jornalista de meio não-estatal, sob a condição do anonimato. “Nunca se sabe o que estão realmente pensando ou qual parte do que pensam não querem que se saiba por medo das consequências.”
Ao contrário do que dizia a TV estatal, muitos preferiram ignorar a despedida. Em Cienfuegos (a 250 km de Havana), a praça onde existe um ponto de conexão à internet estava cheia de gente com o rosto grudado no celular no momento da caravana. Em Cuba, poucos têm direito de ter internet em casa, e os telefones celulares tampouco se conectam.
Presente na homenagem ou alheio a ela, o que ninguém ousou desrespeitar foi a proibição de música em lugares públicos. Mesmo num país de tradição musical, a reportagem não ouviu nenhuma nota ao cruzar o país.
Já a venda de álcool ocorria livremente nos hotéis estatais em Havana, onde só há turistas estrangeiros.

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