Como medir a popularidade do líder de um país onde não há imprensa
livre ou eleições e onde opositores costumam frequentar a cadeia?
Na chamada Caravana da Liberdade, que desde a última quarta (30) está
atravessando o país com as cinzas de Fidel Castro, centenas de milhares
de pessoas se perfilaram nas ruas e rodovias para avistar, por poucos
segundos, a pequena urna funerária levada por um veículo militar.
A multidão era uma mistura de grupos uniformizados de estudantes e de
funcionários públicos, moradores que acudiram espontaneamente e outros
tantos resignados a esperar o fim de bloqueios rodoviários de até 6
horas de duração para seguir viagem.
Por volta das 12h locais deste sábado (3), o cortejo fúnebre chegou a
Santiago, berço da Revolução Cubana. À noite, haveria um ato
multitudinário com o esperado discurso de Raúl Castro.
As homenagens a Fidel, morto na sexta (25) aos 90 anos, terminam com o
funeral neste domingo (4), em Santiago de Cuba. A caravana percorreu
cerca de 900 km desde Havana, no sentido contrário ao da marcha
revolucionária que levou o líder comunista ao poder, em janeiro de 1959.
Em Santa Clara, a urna de Fidel passou a noite de quinta (1º) para
sexta (2) no mausoléu onde estão os restos do guerrilheiro Che Guevara.
A cidade na região central de Cuba foi o palco do último encontro
ente os dois, em 1966. No ano seguinte, Che seria assassinado na
Bolívia.
Na passagem do cortejo, era comum ver pessoas se emocionarem até as
lágrimas. Em Sancti Spíritus (a 344 km de Havana), uma idosa, chorando e
com uma bandeirola em mãos, nem percebeu a rápida passagem do caixão.
Mas nem todas as manifestações eram espontâneas. Um dia antes da
passagem do cortejo, estudantes do internato Roberto Coco Peredo, na
zona rural da província de Camaguey, ensaiavam, à beira da rodovia, a
balançar bandeirolas e a entoar o lema oficial do luto.
“Yo soy Fidel!”, gritavam em coro os estudantes, enquanto um professor exortava: “Mais alto! Mais alto!”.
Em comum a todos que esperavam pelo cortejo, elogios a Fidel e
declarações de apoio ao regime. As poucas críticas aludiam à difícil
situação econômica do país caribenho.
“Entrevistar cubanos é extremamente difícil”, diz uma jornalista de
meio não-estatal, sob a condição do anonimato. “Nunca se sabe o que
estão realmente pensando ou qual parte do que pensam não querem que se
saiba por medo das consequências.”
Ao contrário do que dizia a TV estatal, muitos preferiram ignorar a
despedida. Em Cienfuegos (a 250 km de Havana), a praça onde existe um
ponto de conexão à internet estava cheia de gente com o rosto grudado no
celular no momento da caravana. Em Cuba, poucos têm direito de ter
internet em casa, e os telefones celulares tampouco se conectam.
Presente na homenagem ou alheio a ela, o que ninguém ousou
desrespeitar foi a proibição de música em lugares públicos. Mesmo num
país de tradição musical, a reportagem não ouviu nenhuma nota ao cruzar o
país.
Já a venda de álcool ocorria livremente nos hotéis estatais em Havana, onde só há turistas estrangeiros.
Já a venda de álcool ocorria livremente nos hotéis estatais em Havana, onde só há turistas estrangeiros.
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