sábado, 13 de maio de 2017

“Facções criminosas perceberam uma vulnerabilidade no Nordeste”, diz comandante da PM

A Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte sediou debate, por propositura do deputado Hermano Morais (PMDB), em torno da situação das agências bancárias destruídas no Estado, por conta da criminalidade. A audiência pública, promovida nesta sexta-feira, 12, reuniu representantes de diversos municípios, agências bancárias e dos Correios, além de autoridades da segurança pública estadual. O número de ataques a agências bancárias e carros-fortes registrados este ano, em 27 cidades do RN, já chega a 36. Somando-se esses números aos ataques às agências dos Correios este ano, já são 54 ocorrências em 38 cidades potiguares.
“Além do clima de insegurança instalado por essas ações, a demora no restabelecimento dos serviços bancários causa prejuízos para os cidadãos, que precisam se deslocar para municípios vizinhos com a finalidade de resolver suas demandas bancárias e, por consequência, acaba aplicando seus recursos nestas outras cidades”, justifica Hermano Morais.
Esse é o principal problema destacado pelo presidente da Federação dos Municípios do RN (Femurn), Benes Leocádio, que sugeriu a união entre os poderes e entes envolvidos para solucionar o problema. “Vivemos um momento de bastante apreensão. As cidades estão ficando sem instituições bancárias e sem serviços. As ocorrências já somam mais de três dezenas. Não é possível que estejamos regredindo à época em que precisávamos ir até a capital para usar agência bancária. É hora de darmos as mãos e dizer que alguma coisa precisa ser feita para ontem”, sugeriu.
Representante da União dos Vereadores do RN, o vereador de São Paulo do Potengi Diogo Alves, destacou a situação de alerta permanente nos municípios potiguares. “A palavra que ecoa é: socorro. Pela incerteza do que pode acontecer na madrugada”, destacou.
O coordenador do Sindicato dos Bancários, Gilberto Monteiro, ressaltou a importância dos bancos para a economia nacional e elencou o período que algumas agências bancárias permanecem fechadas. As agências das cidades de Acari, Lajes, Florânia, São Paulo do Potengi, Caraúbas e Touros estão fechadas há três ou até cinco meses. Esse período chega há 13 meses, como em Pedro Avelino e até 15 meses, que é o caso de Afonso Bezerra. “Sabemos que não existe uma solução simplista, mas precisamos de urgência”, disse.
O primeiro representante das instituições financeiras alvo das ações dos bandidos a se pronunciar foi o diretor geral dos Correios, Rodrigo do Patrocínio Medeiros. O gestor destacou o investimento em segurança feito pela instituição. “Temos 182 agências no RN, dessas, 24% estão sem poder prestar o serviço por algum problema em decorrência de ação criminosa. O Correios investiu mais de R$ 10 milhões em segurança apenas no RN. Ainda não sabemos a solução, mas essa iniciativa é válida e a ideia de união entre os poderes e os entes é o que a gente precisa”, disse.
O representante do Banco do Brasil, Luiz Gustavo Monteiro, destacou que o problema não é só do RN. “O Banco do Brasil tem sofrido em todo o país. A gente enfrenta uma onda de crime organizado e chegamos à conclusão que não conseguimos conter sozinhos”, disse. Para Lamarck Rodrigues, gerente regional da Caixa Econômica Federal, além da preocupação com as questões de segurança, há a preocupação com a manutenção dos serviços. “Trabalhamos para que os serviços nas agências que sofrem ataques sejam restabelecidos e a população não seja mais penalizada”, disse.
Medidas
A segurança pública foi representada pelo Comando da Polícia Militar no Interior do estado, Polícia Civil e Secretaria Estadual de Segurança. Apesar de reconhecer que a situação é grave, o delegado da Divisão Especializada de Combate Ao Crime Organizado (Deicor), Marcuse de Oliveira Cabral, destacou que o número de crimes contra instituições financeiras no interior não aumentou em relação ao ano anterior, mas sim o potencial lesivo das ações. “A utilização do armamento pesado foi vulgarizada. Tem também o caráter interestadual das quadrilhas organizadas. Aqui destacamos a problemática de se investigar uma organização criminosa que tem ramificação em todos os estados”, explicou.
O comandante da PM no interior, Tenente Coronel Mendonça, e o delegado da Polícia Civil Correia Júnior – representando a secretária estadual de Segurança Pública, Sheila Freitas – também participaram do debate. “O aumento das facções criminosas disseminaram suas ramificações em todos os estados e perceberam uma vulnerabilidade no Nordeste”, disse.
A audiência pública foi acompanhada por representantes dos Poderes Executivo e Legislativo dos municípios atingidos, empresários, comerciantes, além de sindicatos e associações.

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