BRASÍLIA - Após o presidente da Câmara, Rodrigo Maia
(DEM-RJ), acusar o PMDB e o governo de dar uma “facada nas costas” do
DEM, o presidente Michel Temer assumiu nesta quinta-feira, 21, mesmo a
articulação para tentar contornar a insatisfação na base. Horas depois
de chegar de Nova York, onde participou da Assembleia-Geral da ONU,
Temer reuniu auxiliares e disse que marcaria uma conversa com Maia para
resolver o problema e conter a rebelião.
As declarações do presidente da Câmara foram feitas no
momento em que Temer precisa de apoio parlamentar para barrar a segunda
denúncia contra ele no plenário. Nesta quinta-feira, o Supremo Tribunal
Federal (STF) decidiu, por 10 votos a 1, que a acusação apresentada pelo
ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot contra o presidente, por
organização criminosa e obstrução da Justiça, deve ser encaminhada aos
parlamentares e entregou à Câmara a acusação.
O desabafo de
Maia foi feito após o assédio do PMDB a parlamentares do PSB que estavam
prestes a ingressar no DEM. O partido de Temer conseguiu, recentemente,
filiar o senador Fernando Bezerra Coelho (ex-PSB-PE). Pelo menos outros
seis deputados do PSB, que estavam em negociação com o DEM, foram
procurados pela cúpula peemedebista, enfurecendo Maia.
O Planalto, porém, viu nas declarações raivosas do
presidente da Câmara algo muito além do simples desabafo. Nos últimos
dias, Maia tem feito movimentos em direção aos dissidentes do PMDB e à
esquerda.
Ele jantou nesta quarta-feira, 20, na casa da senadora
Kátia Abreu (PMDB-TO), que foi suspensa das funções partidárias após
entrar em confronto com líderes da sigla. “Sobraram ali estocadas à
condução política do governo”, afirmou o deputado Orlando Silva (PC do
B-SP), um dos presentes ao encontro. “Mas o Rodrigo não conspira. Aliás,
se ele quisesse, Temer já teria caído. O palácio é que está fissurado
pela sobrevivência e vê fantasmas em todo canto.”
O jantar reuniu, ainda, os senadores Renan Calheiros
(PMDB-AL) e Eduardo Braga (PMDB-AM), ambos críticos do governo, além do
presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), e de deputados de
outros partidos, como Alexandre Baldy (Podemos-GO).
Na noite desta quinta-feira, Maia esteve com o prefeito
João Doria (PSDB-SP). A aproximação do presidente da Câmara com o tucano
é vista pelo Planalto como mais um gesto político para a eleição de
2018. Tanto o PMDB como o DEM convidaram Doria para ser candidato à
Presidência.
Mais cedo, em um evento no Rio, Maia negou que os
problemas entre PMDB e DEM possam influenciar na tramitação da denúncia
contra Temer. “Não vamos misturar uma coisa tão grave, que é a denúncia,
com um problema que envolve dois partidos e parte do Planalto”, disse.
Embora aliados do presidente avaliem que o governo
enfrentará menos dificuldade na segunda acusação, há muitos “fios
desencapados”. O líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR),
admitiu que a nova acusação “perturbará” votações de interesse do
Planalto.
Ministro. Além da revolta de Maia,
deputados do Centrão – que reúne partidos médios, como PP, PTB e PSD –
pressionam pela saída do ministro da Secretaria de Governo, Antônio
Imbassahy (PSDB). Há também descontentamento por causa da polêmica em
torno da medida provisória que cria o novo Refis.
O líder do PMDB, Baleia Rossi, disse ao Estado que
Imbassahy se fortaleceu com sinal de apoio mútuo dos demais ministros
do PSDB como Bruno Araújo (Cidades) e Aloysio Nunes (Itamaraty).
“Imbassahy tem uma função de atendimento dos parlamentares, então é
natural que haja reclamação. Mas ele tem trabalhado direito.”
Para o deputado Marcos Montes (MG), líder do PSD, os
descontentamentos estão relacionados a indicações para cargos de
terceiro escalão. Segundo ele, o partido se sente desprestigiado e
gostaria de ter um espaço maior no governo, além do Ministério de
Ciência e Comunicações, ocupado por Gilberto Kassab.
Montes mostrou-se solidário à Maia. “A atuação do
Rodrigo na presidência pode não alterar o resultado, mas é determinante
em algumas situações. Ele está com espinho atravessado na garganta. Não
sei de que tamanho é, se de lambari ou de pirarucu.”
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