sexta-feira, 2 de agosto de 2019

Waldonys cresceu no forró com o apadrinhamento de Luiz Gonzaga

 Waldonys, no centro, entre Luiz Gonzaga (à esquerda) e Sivuca: talento precoce na sanfona chamava atenção dos medalhões do forró Acervo Waldonys

Aos 14 anos de idade, Waldonys teve a chance de ganhar uma sanfona de 120 baixos que poderia ser, hoje, um perfeito ítem de museu. Luiz Gonzaga confiou ao jovem sanfoneiro um instrumento de seu uso pessoal, como uma maneira de dar ainda mais credibilidade ao talento que o pernambucano reconhecia no cearense.  
Os dois tiveram uma série de encontros, dentre 1985 e 1989, graças à trajetória precoce de Waldonys na sanfona: o cearense começou a tocar aos 10 anos de idade. Portanto, o elo entre Luiz Gonzaga e o Ceará passa pela relação com o músico cearense, hoje aos 46 anos de idade.  
No dia 6 de junho de 1989, no Teatro Guararapes, no Recife (PE), Gonzagão fazia seu último show na vida e Waldonys era um dos convidados especiais. O cearense tinha 16 anos na ocasião e já tinha noção, àquela altura, da debilidade do padrinho. “Ele pediu para eu e Dominguinhos tocarmos ‘Nilopolitano’, foi um momento muito marcante. Tenho uma lembrança bem forte, dele já na cadeira de rodas”, recapitula.  
Para Waldonys, 30 anos se passaram, mas Luiz Gonzaga segue atemporal. O sanfoneiro conta que é comum encontrar crianças que lhe pedem para tocar “Asa Branca”, dentre outros clássicos do cancioneiro do Rei do Baião. O cearense vê o pernambucano como um gênio, alguém que foi à frente de seu tempo.  
Seu Luiz, quando ninguém pensava nisso, criou uma marca. Se você vê (o visual de) um chapéu de coro, um jibão e uma sanfona, isso é Luiz Gonzaga. Ele criou uma marca registrada, num período sem tecnologia digital, sem rede social. Quanto mais o tempo passa, mais ele está vivo na memória das pessoas”, observa Waldonys.  
Também aviador, o sanfoneiro conta que andou de avião pela primeira vez com Luiz Gonzaga, voando de Fortaleza para Iguatu. Além da cidade do Centro-Sul do Ceará, Waldonys conta que Seu Luiz tinha apreço por toda a região do Cariri. “A gente estava com ele em Exu, e ele inventava de subir a serra do Araripe nem que fosse pra comprar uma aspirina. O Crajubar era a segunda casa dele”, destaca.  
Impressões 
Padrinho musical do cearense, “Seu Luiz” se impressionava por conta do interesse do jovem pela sanfona, no tempo em que a juventude brasileira vivia, na década de 1980, antenada ao pop e ao rock nacional.
Tanto o pernambucano de Exu, quanto Dominguinhos – seu ‘pai musical’, segundo define dona Joana D`ark de Menezes, mãe de Waldonys, percebia a aptidão artística do cearense como um ponto fora da curva. Naquele contexto, os jovens músicos, seduzidos pelas tendências do mercado nacional, procuravam aprender violão, guitarra, baixo, dentre outros instrumentos sem relação direta com a tradição da música nordestina.  
Dona Joana recorda que Seu Luiz se aproximou da família do “afilhado” ao ponto de se hospedar durante duas semanas na casa dos cearenses, em 1986. A pretexto de cuidar da saúde dentária em uma clínica próxima a Praça das Flores, na Aldeota, o Rei do Baião ficou hospedado no bairro da Parquelândia, ao lado de dona Helena Gonzaga.  
“Foi muito prazeroso a gente conviver com ele, porque Seu Luiz era uma pessoa muito simples. Eu tinha muita vergonha de recebê-lo. E Dominguinhos disse para eu não ficar preocupado. Então botamos ele e Dona Helena no nosso quarto”, conta Joana. 
Ela ainda lembra que Luiz Gonzaga andava sempre de pés descalços pela casa da Parquelândia, ao mesmo tempo que costumava acordar perguntando pelo pessoal da casa. “Ele dava aquele grito característico, como se fosse um aboio, meu marido que sabe fazer”, detalha Dona Joana.   
Fragilidade 
A mãe de Waldonys observa que o pernambucano, nesse tempo, já apresentava sérias limitações de saúde. A fragilidade na coluna, dores nos joelhos, nas pernas, limitavam o movimento de Luiz Gonzaga pela capital cearense. Ainda assim, a família anfitriã circulava com o sanfoneiro pela cidade nem que fosse só para dar uma volta de carro.  
“Ele levantava com dificuldade, e dizia que era ‘gota’. A ‘gota serena’ (risos). Gostava muito do restaurante Caravelle, na avenida Luciano Carneiro (Vila União). E n`outro dia, a gente levou ele pra praia (do Futuro), com Dona Helena”, recorda Joana. 
Com carinho, Dona Joana lembra da emoção de “Seu Luiz” na interação com o jovem cearense. “Nesse dia da praia, quando ele foi descer do carro, o Waldonys foi abrir a porta pra ele e Seu Luiz chorou muito. Disse que meu filho era muito especial. Ele ficava muito feliz com esse carinho”, conta.  

*Do Diário do Nordeste

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