O presidente Jair Bolsonaro
adotou nesta quarta-feira um discurso dúbio sobre a reação do governo às
decisões do Supremo Tribunal Federal que têm atingido seus aliados. Na
posse do ministro das Comunicações, Fábio Faria, Bolsonaro citou o
"povo" como escudo, na tentativa de blindar o governo, mas à noite subiu
o tom e comparou o que vem pela frente a uma "emboscada". Menos de 24
horas após ter dito que não poderia assistir calado a "abusos", o
presidente oscilou entre a fúria e sinais de paz na direção do STF.
"É igual a uma emboscada. Tem que esperar o cara se
aproximar, vem mais. Vem jogando ovo, pedra. Chega mais, chega mais
(...) Não quero medir forças com ninguém, (mas) continua vindo", afirmou
Bolsonaro ao falar com apoiadores, na portaria do Alvorada. No dia do
julgamento da validade do inquérito das fake news e depois de o ministro
do Supremo Alexandre de Moraes autorizar a quebra de sigilo bancário de
11 parlamentares bolsonaristas, o presidente mandou recados à Corte.
"Não
são as instituições que dizem o que o povo deve fazer. É o povo que diz
o que as instituições devem fazer", afirmou Bolsonaro, sob aplausos, em
cerimônia no Planalto. Sentado a poucos metros dele, o presidente do
Supremo, Dias Toffoli, não aplaudiu de início, mas acabou se rendendo.
"Temos
de fazer valer os valores da democracia para que consigamos atingir o
nosso objetivo. Nosso povo espera liberdade. Temos uma Constituição. Em
que pese alguns de nós não concordarem com alguns artigos, temos o
compromisso de honrá-la e respeitá-la para o bem comum", disse
Bolsonaro.
Na mesma linha, o novo ministro das Comunicações disse
que é preciso focar no combate ao coronavírus. "É hora de pacificar o
País", disse Faria, que foi eleito deputado pelo PSD do Rio Grande do
Norte e é genro do apresentador Sílvio Santos.
A
cerimônia contou com integrantes do Centrão, como os presidentes do PSD,
Gilberto Kassab; do Republicanos, deputado Marcos Pereira, e do
Progressistas, senador Ciro Nogueira. O Ministério das Comunicações foi
desmembrado da pasta de Ciência e Tecnologia, que continuará sob o
comando de Marcos Pontes. Responsável pela publicidade do governo, a
Secretaria Especial de Comunicação passou para o guarda-chuva da pasta
dirigida por Faria.
'Abuso'
Pouco antes da
solenidade, Bolsonaro se reuniu com um grupo de militantes, nos jardins
do Alvorada. Ali, seu discurso era mais aguerrido. "Eu não vou ser o
primeiro a chutar o pau da barraca. (Mas) eles estão abusando. Isso está
a olhos vistos. O ocorrido no dia de ontem (anteontem), quebrando
sigilo de parlamentares, não tem em história nenhuma vista em uma
democracia, por mais frágil que ela seja", disse o presidente, embora
essa prática já tenha sido adotada várias vezes. "Então, está chegando a
hora de tudo ser colocado no devido lugar."
Mesmo sem citar o
STF, Bolsonaro não deixou dúvidas sobre o destinatário de suas
mensagens, tratando os magistrados por "eles". Não é de hoje que o
presidente se queixa de que decisões da Corte e do Congresso invadem
atribuições do Executivo e parecem feitas sob medida para derrubá-lo.
No
último dia 27, por exemplo, um dia depois de o Supremo fechar o cerco
contra o "gabinete do ódio", Bolsonaro fez ameaças e disse que "ordens
absurdas não se cumprem", agravando a crise institucional.
Após a deflagração da operação de terça-feira no inquérito que
investiga o financiamento de atos antidemocráticos organizados por seus
aliados, no entanto, Bolsonaro ficou em silêncio por algumas horas.
Pressionado nas redes, porém, falou em "abuso". "Só pode haver
democracia onde o povo é respeitado, onde os governados escolhem quem
irá governá-los e onde as liberdades fundamentais são protegidas."
As
informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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