Mirtes Renata de Souza, mãe do garoto Miguel Otávio de Santana, 5, que
morreu no dia 2 de junho após cair do 9º andar de um prédio no Recife,
se encontrou na manhã desta segunda-feira (29) com a ex-patroa.
"Ela não demonstrou arrependimento nenhum", declarou, após
falar com Sarí Gaspar Côrte Real, que prestou depoimento na delegacia de
Santo Amaro, na zona norte do Recife.
Mirtes disse que ouviu absurdos e chamou a ex-patroa de fria e calculista. "A cara dela mostra isso", afirmou.
Na
tarde do dia 2 de junho, Miguel estava aos cuidados de Sarí, enquanto
Mirtes, que trabalhava como empregada doméstica, passeava com a cadela
da ex-patroa.
A Polícia Civil de Pernambuco prendeu Sarí em
flagrante por homicídio culposo após ela deixar Miguel sozinho no
elevador, de onde ele se deslocou até um andar mais alto, escalou um
buraco de ar condicionado, caiu e morreu.
Ela foi liberada no mesmo dia depois de pagar fiança no valor de R$ 20 mil.
Na
manhã desta segunda-feira, ao ser informada que Sarí estava na
delegacia prestando depoimento, Mirtes resolveu ir até o local.
Com
a foto do filho nas mãos, se posicionou em frente ao carro no qual a
ex-patroa chegou à delegacia. Afirmou que iria esperar ela sair porque
precisava dizer algumas verdades.
Em pouco tempo, moradores do
entorno da delegacia se uniram aos familiares da criança para pedir
justiça. Os policiais civis isolaram o local para evitar que as pessoas
entrassem na delegacia.
Um esquema especial foi montado pela
Polícia Civil de Pernambuco. Sarí Côrte Real chegou à delegacia de Santo
Amaro pouco antes das 6h acompanhada de advogados e do marido, o
prefeito do município de Tamandaré, Sérgio Hacker (PSB). Ela foi ouvida
pelo delegado Ramon Teixeira.
Mirtes questionou o fato de a ex-patroa ter sido ouvida antes do
horário normal de abertura da delegacia. Disse que ela deveria ter
esperado o local abrir normalmente como todas as outras pessoas fazem.
Às 10h50, acompanhada de um advogado, a mãe de Miguel entrou na delegacia. Ficou uma hora e meia lá dentro.
Na
saída, disse que Sarí afirmou que não havia apertado o botão do
elevador e que não teve intenção de fazer nada. "Ela é um monstro, uma
pessoa fria e calculista", declarou Mirtes.
Pouco tempo depois,
por volta das 13h, sob gritos de "assassina", Sarí deixou o local sem
falar com a imprensa. Houve tumulto. Policiais civis fizeram uma
barreira para levá-la até o veículo.
Indignadas, algumas pessoas que pediam justiça para Miguel bateram com as mãos no carro em que ela estava.
No dia da morte, Mirtes havia levado Miguel ao local de trabalho porque não tinha com quem deixá-lo.
Escolas
e creches estão fechadas devido à pandemia do novo coronavírus. Mesmo
assim, ela continuava trabalhando, apesar da alta incidência da doença
em Recife. O próprio Hacker anunciou em abril que estava infectado pelo
novo coronavírus.
"A responsabilidade legal naquela circunstância era da moradora. A
criança permaneceu e estava sob a sua responsabilidade", disse, na
época, o delegado responsável pelo caso. "Ela tinha o poder e o dever de
cuidar da criança e impedir, em última análise, o trágico resultado que
adveio de uma tragédia", complementou.
De acordo com as
investigações da polícia, Mirtes havia descido para levar a cadela da
família para passear e deixado o filho sob os cuidados da patroa. Depois
disso, a criança saiu do apartamento e tomou o elevador.
Os
policiais analisaram imagens do circuito interno do condomínio e
verificaram que a proprietária do apartamento permitiu que a criança
entrasse sozinha no elevador.
O delegado Ramon Teixeira afirmou
que o menino primeiro tentou sair do apartamento e a mulher o
repreendeu. Em nova tentativa, relatou o delegado, a criança retornou ao
elevador e nada foi feito para impedir.
Os investigadores afirmam
que as imagens de circuito interno mostram Sarí observando o menino
entrar no elevador no 5º andar e registram o momento em que ela apertou o
botão para a cobertura.
Ainda segundo o vídeo, na presença de
Côrte Real, Miguel acionou os botões do 7º e do 9º andar. A porta do
elevador então se fecha e ele sobe desacompanhado, primeiro até o 7º
andar, sem desembarcar, e depois até o 9º andar.
Após deixar o
elevador, Miguel subiu em uma caixa em que havia condensadores de
aparelhos de ar-condicionado. Em seguida, de maneira acidental, segundo
as investigações, ocorreu a queda, porque o local não estava devidamente
protegido. O garoto caiu de uma altura de 35 metros.
Os
investigadores afirmam que, naquele momento, o menino gritava pela mãe,
que passeava com o cadela na avenida em frente ao edifício Píer Duarte
Coelho, mais conhecido no Recife como Torres Gêmeas. Ao retornar ao
prédio, alertada pelo porteiro, Mirtes encontrou o filho estirado no
chão, gravemente ferido.
O inquérito que apura a morte da criança ainda não foi concluído.
Em
nota, a Polícia Civil de Pernambuco informou que os advogados de Sarí
apresentaram requerimento ao delegado solicitando a realização do
depoimento em horário mais cedo. O pedido foi aceito por levar em conta
os argumentos relativos à possibilidade de aglomeração de pessoas e
risco de agressão à depoente.
A Polícia Civil destacou que o deferimento do pedido não significa qualquer prejuízo aos trabalhos investigativos.
(FOLHAPRESS)
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