O ex-presidente Luiz Inácio
Lula da Silva (PT) sugeriu hoje que o presidente Jair Bolsonaro (sem
partido), inventou estar contaminado pela covid-19 para promover a
cloroquina, um medicamento cuja eficácia contra o novo coronavírus tem
sido questionada.
"Acho que o Bolsonaro inventou que estava contaminado para anunciar o
remédio. Não sei se ele é um parceiro, mas ele se comporta como se fosse
o dono da fábrica que faz o remédio", disse Lula, durante uma coletiva
de imprensa virtual com correspondentes estrangeiros.
Bolsonaro anunciou em 07 de julho que havia contraído a covid-19, uma
doença que chegou a classificar de "gripezinha" e que já matou mais de
90 mil brasileiros.
No último sábado, ele disse que estava curado e
deixou o isolamento social que cumpria dentro do Palácio da Alvorada,
sua residência oficial. Hoje sua esposa, Michelle Bolsonaro, anunciou
que está com coronavírus.
Além de colocar em dúvida a infecção do
Presidente, Lula também apontou a "responsabilidade" de Bolsonaro sobre a
situação séria da pandemia no Brasil, o segundo país mais afetado no
mundo.
"Se o Brasil tivesse feito o que o bom senso
ordena, não estaríamos com 90.000 cadáveres, o que torna Bolsonaro um
genocida", afirmou o ex-presidente.
Lula também acusou Bolsonaro
de "menosprezar" o "perigo" do coronavírus e ignorar as recomendações
médicas, incluindo a obrigatoriedade de quarentenas. "O Presidente não
se esforça para agradar a ciência e ouvir os cientistas, ele faz uma
política em que somente ele e os milicianos que lidera acreditam",
disse.
Nos últimos meses, Bolsonaro desafiou o vírus quase
diariamente, circulando pelas ruas em confinamento, participando de
eventos públicos sem a máscara, abraçando e beijando apoiadores sem
nenhum cuidado, como fez nesta quinta-feira no seu primeiro ato público
desde que anunciou a sua recuperação.
Em relação à crise da saúde, Lula elogiou a gestão do Presidente
argentino Alberto Fernández, que decretou uma das quarentenas mais
severas da América do Sul. "O que Alberto faz é digno de respeito, acho
que ele está fazendo uma política correta, de respeito pelo ser humano. O
ser humano não é um algoritmo, ele tem um sentimento, um coração e as
pessoas precisam ser bem tratadas", enfatizou.
O ex-presidente
aproveitou também para criticar a política externa do atual Governo.
"Nunca vi uma dependência e servidão em minha vida como a que o Governo
brasileiro tem pelos Estados Unidos", disse.
Lula também criticou a
"servidão" de Bolsonaro em relação ao Presidente dos Estados Unidos,
Donald Trump, e questionou o "complexo de inferioridade" do Brasil nesta
relação. "Para ser amigo dos Estados Unidos, você não precisa ser
inimigo da Rússia e da China, ou a Argentina, que era nosso maior
parceiro comercial, era o maior comprador de produtos manufaturados",
enfatizou.
O ex-líder culpou o Governo Bolsonaro por "destruir a
política de integração da América do Sul e da América Latina" e apontou
os Estados Unidos como um travão ao desenvolvimento e crescimento da
região. "Vivi um período em que o Brasil se tornou protagonista
internacional. Valorizamos muito a integração latino-americana e
fortalecemos o Mercosul", lembrou Lula.
Lula governou o Brasil
entre 2003 e 2010, foi preso em abril de 2018 após ser condenado em
segunda instância pelo Tribunal Regional Federal da 4.ª Região (TRF-4),
num processo sobre a posse de um apartamento, que os procuradores alegam
ter sido dado como suborno pela construtora OAS em troca de vantagens
em contratos com a estatal petrolífera Petrobras.
O ex-presidente
cumpria pena em regime fechado, mas foi colocado em liberdade no dia 08
de novembro de 2019, após o Supremo Tribunal Federal decidir anular
prisões em segunda instância. O Supremo alterou um entendimento adotado
desde 2016, decidindo que réus condenados só poderão ser presos após o
trânsito em julgado, ou seja, depois de esgotados todos os recursos, com
exceção de casos de prisões preventivas decretadas.
*Com informações do Notícias Ao Minuto Brasil
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