Procuradores do Ministério Público Federal (MPF) em Mossoró (RN) ingressaram nesta terça-feira 31/08, com uma Ação Civil Pública (ACP) contra a União, acusando o ex-juiz Sérgio Moro, de influenciar no resultado das eleições presidenciais em 2018 e no impeachment da ex-presidente Dima Rousseff em 2016 com as decisões da Operação Lava Jato. Na ação, os procuradores da República Emanuel Ferreira e Camões Boaventura, afirmam que o ex-juiz atuou de modo parcial e inquisitivo, que contribuiu para a insegurança democrática que o país vive hoje com a desarmonia entre os três Poderes.
A ACP tramita na 10ª Vara da Justiça Federal no RN, em
Mossoró, sob o número 0801513-73.2021.4.05.8401. No entendimento dos
procuradores, o ex-juiz praticou reiteradas ofensas contra o regime
democrático, a partir da Operação Lava Jato, que geraram danos morais
coletivos à sociedade brasileira.
“Foram comportamentos que
auxiliaram na erosão constitucional. E esse é um processo que atinge
muitas democracias, fragilizando as eleições. Ele autorizou, por
exemplo, a divulgação de uma delação premiada contra um dos candidatos à
Presidência da República, dias antes das eleições, desequilibrando o
que deveria ser um processo político. Também teve a divulgação do áudio
da presidente da República, que por sinal foi ilegal, que também
interferiu no processo de impeachment", disse o procurador Emanuel
Ferreira.
A colaboração premiada da qual ele se
refere foi a do ex-ministro Antônio Palocci, divulgada e incluída nos
autos por iniciativa própria de Sérgio Moro, seis dias antes do primeiro
turno das eleições de 2018. Naquele momento, o prazo para juntar provas
(instrução processual) já havia se encerrado e o próprio magistrado
reconheceu que a delação não poderia ser levada em conta quando da
sentença, ou seja, não tinha qualquer efeito jurídico.
A outra
situação que o procurador mencionou foi quando, em 2016, Moro derrubou o
sigilo e divulgou o grampo de uma ligação entre a então presidente
Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula, sob a suspeita de que se tratava
de uma articulação para acelerar a nomeação do petista como Ministro da
Casa Civil, numa tentativa de tumultuar e atrasar as investigações sobre
ele.
A escuta foi realizada quase duas horas
depois de Moro mandar a Polícia Federal suspender as interceptações
telefônicas do petista. Mais tarde, o Ministro do STF, Teori Zavascki,
anulou a validade da interceptação da conversa, considerando que Sérgio
Moro não tinha competência para analisar o material, por envolver a
presidente da República.
A Ação Civil Pública
em Mossoró está embasada nas decisões do Supremo Tribunal Federal (STF)
que, no último mês de abril, considerou que houve parcialidade da parte
de Moro e anulou todas as condenações do ex-presidente Lula na operação
Lava Jato. Com isso, o petista se tornou elegível para disputar as
eleições de 2022. "Naquela ação se tratava do interesse de um réu. Na
nossa, é o interesse coletivo contra um juiz parcial que atuou de forma
antidemocrática", disse o procurador Emanuel Ferreira.
Segundo
ele, a atuação do ex-juiz Sérgio Moro, contribuiu para fortalecer
discursos antidemocráticos. "Temos visto manifestações de desapreço às
minorias, manifestações racistas, saudosistas e negacionistas da
ditadura. Falas sobre fechar o Congresso e o STF. Tudo isso cria um
ambiente para que, no final das contas, surjam situações de caos e
desobediência policial. Não digo que tudo isso foi causado pela Lava
Jato, mas que a operação teve seu papel nisso”, disse.
Meta
O
objetivo da Ação Civil Pública contra a União por danos morais
coletivos, causados pela atuação antidemocrática do ex-juiz Sérgio Moro
na condução da Operação Lava Jato, tem um caráter educativo e
preventivo, segundo o Procurador da República Emanuel Ferreira.
Na
ação, os autores requerem que a União promova a educação cívica para a
democracia "a fim de prevenir que agentes do sistema de justiça atuem em
prol de novos retrocessos constitucionais''.
"A gente pede
que as escolas de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados (ENFAM) e do
Ministério Público (ESMPU) abordem todo o tipo de postura para
disseminação do ensino e do conhecimento, voltado para a identificação
desses modelos autoritários. Não é tema político-partidário. É chamar a
atenção para esse cenário, para defender a democracia. O que a gente
quer é promover mudanças institucionais para promover a educação.
Estamos sendo propositivos", disse o procurador.
O
documento diz que o objetivo é incentivar “a promoção de cursos,
pesquisas, congressos, conferências, seminários, palestras, encontros e
outros eventos técnicos, científicos e culturais periódicos com
magistrados e membros do Ministério Público abordando os temas da
democracia militante, erosão constitucional e democrática e das novas
formas de autoritarismo de tipo fascista e populista, a fim de
qualificar os respectivos profissionais nas novas tarefas a serem
desempenhadas em prol da proteção do regime democrático e em respeito ao
sistema acusatório”.
O ex-juiz Sérgio Moro disse à Agência Estado que não vai se manifestar sobre a ação.
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