segunda-feira, 14 de agosto de 2023

Prefeitos iram a Brasília para sensibilizar relator e reverter pontos da reforma tributária

Ao menos 1.700 prefeitos estão inscritos para participar de uma mobilização em defesa dos interesses dos municípios na reforma tributária, na próxima semana em Brasília.

Os gestores chegam à capital federal na terça-feira (15) e buscam sensibilizar o relator da proposta no Senado, Eduardo Braga (MDB-AM), contra trechos aprovados pelos deputados no final de julho e que, segundo eles, podem ter sérios impactos nas contas dos estados.

Uma das principais reclamações de gestores municipais ouvidos pela CNN é a junção do Imposto sobre Bens e Serviços (IBS) a alíquota de Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS). Os dois impostos reúnem o ISS e o ICMS, IPI, PIS e Cofins.

A proposta também cria um Imposto Seletivo, que será cobrado sobre a “produção, comercialização ou importação de bens e serviços prejudiciais à saúde ou ao meio ambiente”.

Segundo os prefeitos ouvidos pela reportagem, os trechos foram incluídos, por meio de uma emenda aglutinativa da Câmara, e não teriam sido debatidos antes da aprovação.

A proposta gera receio em especial com disparidades regionais, sobretudo com relação aos municípios menores. “A grande preocupação é a questão do ISS, né? O ISS hoje é gerido realmente pelo município e da forma que está (na reforma) vai ser aglutinado com ICMS, e nesse fundo que vai ser criado ninguém sabe qual vai ser a força dos municípios, sobretudo os pequenos municípios, para poder participar”, disse à reportagem um prefeito do sul da Bahia que pediu para não ser identificado.

Outro gestor argumentou que algumas unidades federativas até possuem capacidade econômica e infraestrutura para capitalizar a contribuição e conseguir sustentar as contas de outras formas. Mas outras, em economias menos diversificadas, acabam ficando em desvantagem.

Em texto divulgado pela Confederação Nacional de Municípios (CNM), a entidade aborda que a extinção gradual de tributos como o ICMS e o ISS “pode causar uma reconfiguração na arrecadação dos estados e municípios, respectivamente”.

“O ICMS, em particular, é uma fonte crucial de receita para muitos estados, e sua substituição pelo IBS deve ser manejada com extrema cautela para evitar desequilíbrios fiscais e perda de autonomia das unidades federativas”, diz a nota.

O texto aprovado pela Câmara prevê tratamentos diferenciados a setores da economia, como o agronegócio, cesta básica, educação privada, saúde privada e outros segmentos de bens e serviços. A manutenção do Simples (regime das pequenas empresas) e da Zona Franca de Manaus, também estão na lista.

Leonardo Roesler, advogado especialista em Direito Tributário e Empresarial, aponta que, embora tal diferenciação possa ser justificada sob certas perspectivas econômicas, é essencial garantir que ela não culmine em práticas anti-concorrenciais ou em distorções que prejudiquem os objetivos de uma reforma tributária ampla e equitativa.

“A emenda aglutinativa, embora sirva como instrumento de consenso, carrega consigo aspectos que podem impactar de maneira heterogênea as unidades federativas. E, diante da complexidade da matriz tributária brasileira, é imperativo que cada alteração seja ponderada sob o prisma de seus reflexos imediatos e futuros na saúde fiscal e na equidade entre os estados”, disse.

Os gestores municipais irão se reunir na sede da CNM nos próximos dias 15 e 16 de agosto.

Na ocasião, a entidade também vai apresentar outros pontos de revisão na reforma. Além da agenda com o relator Eduardo Braga, estão previstos encontros com os presidentes da Câmara e do Senado, Arthur Lira (PP-AL) e Rodrigo Pacheco (PSD-MG).

Municípios no vermelho

Dados da CNM apontam que 51% dos Municípios estão com as contas no vermelho. Segundo o levantamento da entidade, considerando o mesmo período de 2022, somente 7% dos Municípios incorreram em déficit.

“A queda é explicada por muitos fatores, principalmente pelo pequeno crescimento da arrecadação e pela expansão do gasto público”, destaca o presidente da CNM, Paulo Ziulkoski.

O prefeito de Campos Verdes e presidente da Federação Goiana de Municípios, Haroldo Naves (MDB), afirma que o acordo feito antes da votação garantia a distribuição do IBS mais igualitária. Segundo ele, o novo texto distribui o imposto da seguinte forma: 85% do critério populacional, 5% igualitário e 10% da educação.

“A gente quer que seja o que foi lá atrás: 60% do critério populacional, 25% através de legislação estadual, até porque cada estado tem a sua particularidade local, 10% da educação e 5% igualitário. E temos também a questão do peso maior que ficou o conselho federativo para os estados do Rio (de janeiro), São Paulo e Minas (Gerais). Nós não não concordamos. Queremos um conselho paritário, 27 representantes dos estados, os municípios com com peso igual”, disse à reportagem.

 

CNN

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