O diretor de Relações Institucionais da J&F, Ricardo Saud,
entregou, como parte do acordo de colaboração assinado com o Ministério
Público Federal (MPF), documentos que indicam que grupos empresariais do
Rio Grande do Norte foram utilizados em 2014 para lavar dinheiro que
seriam, na verdade, propinas pagas aos candidatos ao Governo do Estado
na época Robinson Faria (PSD) e Henrique Alves (PMDB) e ao deputado
federal Fábio Faria (PSD), este candidato à reeleição.
Segundo
Ricardo, além dos pagamentos feitos aos candidatos de forma dissimulada
por meio de contribuições registradas oficialmente às campanhas,
despesas de Robinson, Henrique e Fábio junto a essas empresas, que
funcionaram como lavanderias de dinheiro, foram pagas diretamente pela
JBS.
Delator Ricardo Saud, diretor da J&F – Foto: Reprodução
É o caso, por exemplo, da Consult Pesquisa (Consultoria e Pesquisa
Técnica LTDA – EPP), que executou diversas sondagens de intenção de voto
durante a campanha para o Governo do Estado de 2014. Pelos documentos
entregues por Ricardo ao MPF, a empresa forneceu uma nota fiscal no
valor de R$ 176 mil por serviços que teriam sido prestados diretamente à
JBS S/A.
Este valor, no caso, seria propina paga indiretamente a
Henrique Alves; e a nota, fria, pois não houve serviços prestados
diretamente à JBS, segundo o delator. Para fundamentar a acusação de
contribuição ilícita, o executivo disponibilizou cópia de uma
transferência bancária no valor de R$ 161.656,00 realizada no dia 27 de
agosto daquele ano.
De acordo com Saud, a Consult também teria
recebido mais R$ 380 mil. Para justificar o pagamento, o executivo
relata o fornecimento de uma nota fiscal emitida em 15 de outubro de
2014.
Ainda envolvendo pagamentos ao peemedebista, Ricardo Saud
cita a empresa Alves Andrade e Oliveira Advogados Associados. O
escritório de advocacia teria recebido R$ 888.500,00, também via
transferência bancária. Em contrapartida, uma nota fiscal avulsa no
valor de R$ 1 milhão foi fornecida pelo escritório.
No caso da
Alves Andrade e Oliveira Advogados Associados, o executivo da J&F
também apresentou um contrato de prestação de serviços que teria sido
assinado pela empresa e a JBS. No documento, o escritório potiguar
deveria prestar assessoria jurídica à JBS entre junho de 2014 e maio de
2015.
Empresas teriam recebido valores que seriam destinados a Henrique – Foto: Reprodução
Nota fiscal da Alves Andrade e Oliveira Advogados Associados – Foto: Reprodução
Entre os pagamentos efetuados a Henrique, há ainda menções e
registros de contatos telefônicos da agência de propaganda Art&C.
Segundo
o mesmo delator, empresas potiguares também se envolveram em esquemas
ilícitos envolvendo as campanhas de Robinson Faria e Fábio Faria. Nestes
casos, Ricardo Saud relata que uma das empresas que disponibilizaram
notas fiscais frias – sem ter executado serviços para a JBS – foi o
escritório Erick Pereira Advogados S/C.
O serviço de advocacia,
segundo contrato disponibilizado pelo delator, dizia respeito ao
“levantamento, análise e sugestões temáticas referentes aos processos
trabalhistas, em tramitação até a data da assinatura deste instrumento,
no Tribunal Superior do Trabalho”. Por este serviço, a JBS deveria pagar
R$ 1,2 milhão. Segundo o delator, na verdade, o dinheiro era para as
campanhas de Robinson e Fábio. Para justificar o pagamento, a Erick
Pereira Advogados S/C disponibilizou uma nota fiscal pelos honorários
advocatícios. O pagamento, de acordo com Saud, aconteceu via
transferência bancária.
Outra empresa envolvida no esquema,
conforme relatos de Saud, foi a E A Pereira Comunicação Estratégica –
ME. Ao Ministério Público Federal, o delator entregou um contrato de
prestação de serviço de marketing direto assinado pela empresa com a JBS
no dia 4 de setembro de 2014. O pagamento foi de R$ 2 milhões.
Ricardo
Saud aponta também que fez pagamentos dissimulados a empresa Ecoar
Agência de Notícias e Marketing Político Ltda EPP. O delator apresenta,
neste caso, um contrato de prestação de serviços datado de 1° de agosto
de 2014 no qual a Ecoar fica responsabilizada por efetuar uma pesquisa
de mercado sobre a qualidade da carne consumida no Rio Grande do Norte.
Para
justificar o pagamento, a Ecoar emitiu uma nota fiscal no valor de R$
400 mil, quitados via transferência bancária feita pela JBS (Saud
disponibilizou cópias da movimentação financeira).
Nesta delação,
Ricardo Saud cita também que um valor em espécie foi pago diretamente a
Fábio Faria. Neste caso, em que não há maiores especificações sobre a
maneira como haveria acontecido, R$ 957.054,56 foram pagos junto ao
supermercado Boa Esperança, em Natal.
OUTRO LADO
O governador Robinson Faria e o deputado federal Fábio Faria, ambos do
PSD, negaram qualquer irregularidade nos recebimentos durante a campanha
em 2014. Em nota conjunta, os dois afirmam que conheceram a JBS apenas
no período eleitoral e que todas as contribuições recebidas foram
“devidamente registradas na Justiça Eleitoral sem qualquer contrapartida
nem ato de ofício”. O chefe do Executivo estadual e o parlamentar
consideram, ainda, “absurdas as declarações do delator que chama de
propina contribuições eleitorais lícitas”.
O escritório Erick
Pereira também rechaça as acusações de Ricardo Saud. De acordo com o
grupo, há provas que demonstram que serviços foram efetivamente
realizados. Em nota, o grupo afirma que “procurações, petições
apresentadas à Justiça, relatórios de balanço e as conversas por e-mail e
WhatsApp com os clientes” comprovam a prestação do serviço.
O
advogado Marcelo Leal, que trabalha na defesa do ex-deputado Henrique
Alves, também negou as afirmações. “A defesa de Henrique Eduardo Alves
refuta veementemente as afirmações do delator Ricardo Saud e reafirma
que todas as doações de campanha foram regularmente recebidas e
declaradas à Justiça Eleitoral”, afirma em nota.