O argumento dos parlamentares de que a proximidade das eleições de
2018 dificulta a aprovação agora da reforma da Previdência inspirou a
equipe econômica a moldar seu discurso durante o jantar oferecido na
noite desta quarta-feira, 22, pelo presidente Michel Temer aos
parlamentares em busca de apoio à proposta, segundo apurou o Broadcast.
Em um alerta contundente, o governo tentou mostrar que a crise
econômica pode voltar em 2018, em meio à campanha, se a proposta não for
aprovada agora, complicando o discurso de quem pretende se eleger.
O ministro do Planejamento, Dyogo Oliveira, foi um dos que tentou
explorar as pretensões eleitorais dos parlamentares em favor da reforma.
Ele disse aos deputados presentes que, sem a aprovação da proposta, a
recuperação da economia pode ser revertida em crise já no ano que vem.
Oliveira ainda advertiu que uma crise econômica em 2018 atinge a todos e
que “não é trivial” explicar isso aos eleitores no meio da campanha.
Já o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, tentou convencer os
parlamentares de que os efeitos positivos da aprovação da reforma sobre
as perspectivas de investidores podem se transformar em cabo eleitoral
dos candidatos. O argumento de Meirelles é que, com as mudanças nas
regras da Previdência, há potencial para se ter um bom crescimento em
2018, o que garante uma “situação privilegiada” para quem vai concorrer
às eleições.
O efeito prático do discurso adotado pela equipe econômica deve
começar a ser medido a partir desta quinta-feira, 23, quando o governo
continuará com as articulações políticas. O relator da reforma, deputado
Arthur Oliveira Maia (PPS-BA), já avisou que continuará conversando com
as bancadas para tirar dúvidas e prestar esclarecimentos sobre a nova
proposta – o que não foi possível durante o jantar.
O governo sabe que ainda não tem os 308 votos necessários para
aprovar a proposta e que terá de trabalhar duro para chegar a esse
número. Pelo menos cinco mesas vazias no amplo salão do Palácio do
Alvorada lembravam o presidente Michel Temer dessa dificuldade. No fim
das contas, o quórum de parlamentares no evento ficou abaixo do esperado
pelo governo e ainda sem a presença de partidos importantes, como PSDB e
PTB. O PSD enviou poucos representantes, segundo apurou o Broadcast.
O PP também ameaçou boicotar o jantar, uma vez que não teve seu
pedido atendido para nomear o deputado Carlos Marun (PMDB-MS) como novo
ministro-chefe da Secretaria de Governo, no lugar do tucano Antonio
Imbassahy. O Palácio do Planalto chegou a programar a posse de Marun,
mas recuou e acabou desagradando os dois lados – os partidos que queriam
a mudança e o PSDB, que ficou insatisfeito por saber da possível
substituição pela imprensa.
O jantar estava convocado para as 20 horas, mas até as 20h50 só 15
deputados haviam chegado. A conta-gotas, o número de parlamentares
presentes superou a marca dos 30 por volta das 21h30, mas o maior grupo
só chegou mesmo depois das 22h. Além da trapalhada na nomeação de Marun,
a longa duração da sessão do Congresso Nacional acabou atrasando os
planos de Temer para o evento.
Crise. O alerta para o risco de retorno da crise
econômica foi endossado pelos economistas de fora do governo chamados
para falar durante o jantar. O presidente do Insper, Marcos Lisboa,
ressaltou que a janela para a aprovação da reforma da Previdência
“começa a fechar” e que o País pode voltar para um quadro econômico ruim
de forma muito rápida sem a votação da proposta. A possibilidade de
paralisação da agenda de reformas já acendeu a luz amarela, alertou ele.
Segundo Lisboa, ou a reforma é aprovada agora, ou a crise volta. Ele
listou todos os ganhos recentes, como a queda dos juros, para tentar
ilustrar o que o atraso na mudança das regras de aposentadoria e pensão
pode pôr a perder.
O economista Paulo Tafner também ressaltou a janela estreita para
evitar que a crise volte. Já o economista José Marcio Camargo centrou
seu discurso no combate a desigualdades entre o sistema previdenciário
dos trabalhadores do setor privado e dos servidores públicos.
A exemplo da campanha do governo, o combate a privilégios foi um dos
focos dos economistas, assim como a necessidade de instituir uma idade
mínima para aposentadoria no Brasil.