Repórter
A maioria dos potiguares com 16
ou 17 anos não demonstrou interesse em participar do pleito eleitoral
que se aproxima. Apenas 31% destes jovens exerceram o direito de tirar o
título de eleitor e estão credenciados a escolher os próximos gestores
do Brasil e Estado. O voto facultativo sofreu queda se comparado com a
última eleição geral, em 2010. Há quatro anos, 49% da população nessa
faixa etária decidiu ir às urnas. Apesar das manifestações populares
realizadas em 2013, onde mudança na política era uma das principais
reivindicações, esses jovens preferiram não ter que ir às urnas.
A
baixa participação da juventude neste pleito também é perceptível
quando analisado o número de candidatos com até 29 anos de idade que
estão na disputa pelo voto. De acordo com informações do Tribunal
Superior Eleitoral (TSE), o Rio Grande do Norte possui apenas 22
candidatos com esta característica. O número representa 6,25% no
universo de 352 postulantes a um cargo público no Estado.
Em
2010, segundo o Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), havia 125.184 jovens com 16 ou 17 anos no RN. Desta
quantia, 62.496 (49%), de acordo com o TSE, tiraram o título de
eleitor. Este ano, fazendo uma projeção com o número de jovens que, em
2010, estavam com 12 ou 13 anos e excluindo variáveis como mortalidade e
migração, o Estado conta 117.473 jovens com 16 ou 17 anos. Deste grupo,
37.477 pessoas, o que corresponde a 31%, decidiram procurar a Justiça
Eleitoral para retirar o título. Ficaram fora do pleito, quase 80 mil
pessoas.
Uma delas é a estudante do 3º ano do ensino médio, Maria Clara Dantas,
17 anos. Apesar de existir a possibilidade de votar, a jovem disse que
não sentiu interesse na disputa deste ano. “Eu até acompanho algumas
coisas, mas não me senti estimulada em tirar o título. Todo político é
corrupto”, afirma. A também estudante do 3º ano, Isabela Maia, 17 anos,
não vai votar porque não possui o documento necessário. “Acabei não
prestando atenção nas datas do calendário eleitoral. Quando percebi, já
era o último dia e não tinha tempo. Esse ano, estou focada nos estudos”,
conta.
Desinteresse pelo pleito, descredibilidade dos políticos e
da política, falta de tempo ou até mesmo burocracia. A reportagem ouviu
alguns depoimentos que apontavam os porquês da exclusão de participação
no pleito. A maioria destoa do que foi levado às ruas durante o ano
passado. Entre os meses de março e julho, milhares de jovens ocuparam os
espaços públicos e exigiram mudança. Políticos eram os alvos preferidos
de cartazes e palavras de ordem que reverberaram nos quatro cantos do
país.
Para o cientista político e social e professor da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Alípio de Sousa
Filho, os dados apresentados pelo IBGE e TSE precisam ser analisados com
cautela. O especialista acredita que o fato de as pessoas optarem pela
abstenção na votação não significa necessariamente que perderam o
interesse na participação política ou na política como tal. “Não vejo
desinteresse generalizado pela política, mas a recusa de importantes
parcelas da população em legitimar a política como é praticada por
certos atores políticos hoje”, coloca.
O problema, segundo ele,
não é a política, “mas as apropriações da atividade política que a
distorcem”, pondera. O professor acredita ainda que se abster do
processo eleitoral não é desinteresse. “É denúncia da política como
instrumento para a dominação de poucos e expressão do desejo por uma
política que torne possível a participação igualitária de todos no
debate e na tomada de decisões”.
Votar ou não votar?
Eles
estão com o título de eleitor em mãos e aguardam ansiosamente pelo dia 5
de outubro. Alguns já decidiram em quem votar. Outros, ainda analisam
as propostas dos candidatos, conversam com amigos, professores e
parentes para fazer a melhor escolha. Pela primeira vez, a turma de
jovens de 16 ou 17 anos – a maioria estudante do 3º ano do ensino média –
vai escolher os representantes políticos.
Em contrapartida, há
aqueles que preferem não participar do pleito. Eles tiveram a
oportunidade de retirar o título, mas – devido a uma série de fatores –
não procuraram a Justiça Eleitoral. Apenas quando completarem 18 anos, e
sob a obrigação da lei, vão escolher em quem votar. Em uma das escolas,
a direção realizou o primeiro debate entre os candidatos a governador.
Foi um momento importante para que os eleitores ouvissem as propostas. A
TRIBUNA DO NORTE foi aos colégios e ouviu quais as expectativas e
histórias destes jovens.
“Ainda não sei em quem vou votar.
Acho meio chato acompanhar o horário político, mas, próxima semana, vou
analisar as propostas dos candidatos. Vou pesquisar na internet para
saber o que eles estão pensando. Acredito que os próximos governantes
precisam priorizar a saúde e educação. São os principais problemas do
país”.
Rebeka de Oliveira, 17 anos. Pretende ser biomédica.
“O
meu voto faz a diferença. Eu tenho certeza disso. Por isso, decidi
retirar meu título. Participei do debate na escola, mas confesso que não
gostei da participação dos candidatos. Eles tinham as mesmas propostas,
mas não disseram como vão executar as ideias. De onde vai sair o
dinheiro, por exemplo. Acredito ainda que o Governo Federal precisa
dividir mudar a forma de distribuição das verbas. Os Estados e
Municípios precisam receber mais investimentos em áreas importantes como
saúde e educação. Se você analisar, as universidades estão bem, mas a
educação básica está deficitária”.
Mariah Liberato, 17 anos. Vai disputar uma vaga no curso de engenharia mecânica ou civil.
“Eu
participei das manifestações ano passado, mas não tirei meu título este
ano. Nós não fomos ensinados a gostar de política. Acho que falta uma
disciplina nas escolas que introduzisse esse tema e, assim, despertar o
interesse dos jovens. Como vou fazer o Enem [Exame Nacional do Ensino
Médio] esse ano, estou focada nos estudos. Não prestei atenção nas datas
e, quando percebi, era o último dia para retirar o título. Fiquei sem
tempo e não fui. Mesmo assim, acompanho a discussão eleitoral”.
Isabela Maia, 17 anos. Pretende ser jornalista.
“Ainda
não decidi meus votos. As perspectivas não são muito boas. Não vejo a
renovação dos políticos. Os candidatos são os mesmos. A gente fica sem
opção. Na minha turma, a maioria não foi atrás do título. O pessoal não
está interessado, mas o voto é válido. Todo voto é importante. Acho que
os próximos governantes precisam priorizar a saúde, educação e
segurança. São esses os maiores problemas do país”.
Vítor Barbosa, 17 anos. Vai disputar uma vaga para o curso de Direito.
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