O ministro das Comunicações, Fabio Faria, começa a despontar no
Palácio do Planalto como um forte nome a compor a chapa como vice do
presidente Jair Bolsonaro na disputa presidencial do ano que vem. O
chefe da pasta é, hoje, o principal conselheiro de Bolsonaro e tem
participado das principais articulações envolvendo o governo para 2022.
Deputado eleito pelo Rio Grande do Norte, Fabio Faria foi escolhido
por Bolsonaro em junho de 2020 para assumir o Ministério das
Comunicações, criado especialmente para ele. Na época, o governo sofria
pressões e desgastes por falhas nas estratégias de comunicação e
Bolsonaro negou que a escolha seria uma aceno ao Centrão, já que Faria é
do PSD.
“Vamos ter alguém que, ele não é profissional do setor, mas tem
conhecimento até pela vida que ele tem junto à família do Silvio Santos.
A intenção é essa, é utilizar e botar o ministério pra funcionar nessa
área que estamos devendo há muito tempo uma melhor informação”, disse
Bolsonaro na época. O ministro é genro de Silvio Santos, dono do SBT.
Desde então, Fabio Faria adotou um novo modelo na comunicação do
Palácio do Planalto e assumiu a articulação do Brasil no leilão da
tecnologia 5G, onde empresas da China e dos Estados Unidos disputam o
direito de explorar a tecnologia no mercado brasileiro. Além disso, o
ministro mantém uma boa interlocução com o Congresso, o que permitiu uma
aproximação do Executivo com alguns grupos de parlamentares.
Ainda sem partido para a disputa do ano que vem, Bolsonaro estuda a
possibilidade de alguns partidos “nanicos” como Patriota, PMB e DC.
Segundo interlocutores do Planalto, Fabio Faria tem participado dessas
conversas e conversado com outras lideranças do Centrão, no intuito de
compor a coligação de reeleição para Bolsonaro.
“Já estou atrasado. Não tenho outro partido, espero que esse mês eu
resolva. Abril está bom (como prazo para definir). O duro foi quando eu
me candidatei (em 2018), que eu acertei em fevereiro, março (do ano da
eleição), em cima da hora”, explicou Bolsonaro em conversa com
apoiadores na entrada do Palácio da Alvorada no último dia 19.
Além de participar dessas articulações sobre o futuro partido do
presidente, o ministro das Comunicações tem sido o principal defensor da
agenda pragmática que deve ser adotada pelo presidente Bolsonaro. Fabio
Faria tem aconselhado o presidente a manter uma base de aliados no
Congresso e ao mesmo tempo aprofundar relações diplomáticas com outros
países como China e Estados Unidos.
Recentemente, o ministro reuniu cerca de 40 pessoas em sua casa, em
Brasília, onde serviu um almoço para o ministro do Meio Ambiente,
Ricardo Salles. Com a presença de Bolsonaro, o encontro foi em reação às
pressões pela saída de Salles, que ocorreram na véspera da Cúpula de
Líderes pelo Clima.
Segundo fontes ouvidas pela reportagem e que estiveram no almoço,
Faria defende a manutenção de Salles no cargo, mesmo com a pressão
contra o ministro. No entanto, Bolsonaro teria sido aconselhado a adotar
uma nova agenda ambiental, como forma de segura o ministro no cargo e
ao mesmo tempo não gerar novos desgastes ao governo.
Aos seus interlocutores, o presidente Bolsonaro tem afirmado que o
ministro das Comunicações seria um bom nome para estar ao seu lado na
disputa de 2022, principalmente pelo seu poder de articulação com o
setor empresarial e com o Congresso. Recentemente, após o ministro Luís
Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinar
a instauração da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, Fabio
Faria foi o primeiro integrante do primeiro escalão a sair em defesa do
governo.
Em uma de suas publicações, o ministro disse que o resultado da CPI
será “uma vitória antecipada” para Jair Bolsonaro. Segundo Faria, a
atuação do presidente foi “responsável e íntegra”. “Se forem investigar
omissões e desvios na pandemia, será uma vitória antecipada do PR Jair
Bolsonaro, que vai comprovar uma atuação responsável e íntegra”,
escreveu nas redes.
Em outra frente, o ministro também esteve na organização do jantar
entre Bolsonaro e empresários que ocorreu no começo de abril em São
Paulo. Ao mercado financeiro, Fabio Faria sinalizou que o governo estava
passando por mudanças e citou como exemplo as seis trocas de ministros e
recentes alianças para evitar mais atritos com o Congresso. “Tudo o que
os empresários querem é um ambiente político calmo”, afirmou Faria ao
jornal “O Estado de São Paulo”.
Com embate com PSD, Faria pode mudar de partido para 2022
Indicação pessoal de Bolsonaro, Fabio Faria poderá ter que deixar o
seu partido, caso queira permanecer no governo na disputa de 2022. O
ministro tentou levar o PSD para a base governista, no entanto, o
partido tem dado sinalizações contrárias a isso.
Recentemente o presidente do PSD, Gilberto Kassab, afirmou ao jornal
“Valor Econômico” que a pandemia e o cenário econômico, com desemprego e
inflação em alta, podem deixar o presidente Jair Bolsonaro fora do
segundo turno das eleições presidenciais de 2022. As declarações
irritaram Fabio Faria, que já admite a possibilidade de deixar o
partido.
Kassab afirmou que o cenário atual sugere que, sendo Luiz Inácio Lula
da Silva o candidato do PT a presidente, a tendência é que o petista
dispute o segundo turno do pleito com um adversário do centro.
“Bolsonaro vai ter que trabalhar muito para reverter sua imagem […]
poderemos ter um segundo turno que tenha um candidato que não seja ele
[Bolsonaro] contra o Lula. Acho mais fácil ter um candidato de centro
contra o Lula do que ter um candidato de centro contra o Bolsonaro”,
disse Kassab.
Como reação, Bolsonaro já ameaça exonerar nomes indicados por Kassab
para o governo federal. Entre esses nomes estão o presidente da
Telebras, José Jarbas Valente, e da Fundação Nacional da Saúde, coronel
Giovanne Gomes da Silva. Embora tenha sido comandante da Polícia Militar
de Minas Gerais, o coronel é uma indicação política e chegou ao órgão,
que tem um orçamento bilionário, pelas mãos do deputado Diego Andrade
(PSD-MG).
Uma possibilidade de partido para Fabio Faria seria o PP, presidido
pelo senador Ciro Nogueira (PI), que vem sendo a principal sigla de
apoio ao projeto de reeleição de Bolsonaro. Na visão de pessoas do
entorno do ministro, caso ele fosse escolhido para vice na chapa de
2022, o PP garantiria estrutura partidária para campanha, enquanto o
presidente poderia abarcar seus demais parlamentares no partido nanico
que escolher para se filiar.
Gazeta do Povo