Em
documento enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF), a
procuradora-geral da República, Raquel Dodge, disse que há suspeitas de
que executivos do frigorífico JBS repassaram R$ 58 milhões ao ministro
da Ciência e Tecnologia, Gilberto Kassab, e ao PSD, partido fundado por
ele.
As suspeitas embasaram os mandados de busca e apreensão cumpridos pela Polícia Federal
nesta quarta-feira (19), autorizados pelo ministro Alexandre de Moraes,
do Supremo Tribunal Federal – secretário de Transportes durante a
gestão de Kassab na Prefeitura de São Paulo
Ao G1, Kassab disse que "não há nada que macule"
sua imagem. "Ao longo de todos esses anos de vida pública não há nada
que me comprometa no campo da imoralidade. Estou tranquilo porque sempre
respeitei os princípios da ética. Estou à disposição do Ministério
Público e do Poder Judiciário", disse por telefone.
Kassab foi nomeado secretário da Casa Civil do governador eleito
de São Paulo, João Doria (PSDB). Considerado um homem forte do governo
devido às suas habilidades de negociação, ele será o articulador
político do Palácio dos Bandeirantes com os deputados na Assembleia
Legislativa.
Em
nota, o governador eleito de São Paulo disse que confia na "conduta da
Justiça e no amplo direito de defesa do ministro para os esclarecimentos
necessários".
De acordo com a colunista do G1 Julia Dualibi, na operação desta quarta a PF apreendeu R$ 300 mil em dinheiro no apartamento de Kassab.
Repasses a Kassab
O
ministro passou à condição de investigado após os executivos da JBS
Wesley Batista e Ricardo Saud narrarem, em delação premiada, pagamentos a
ele em troca de apoio político enquanto ele era prefeito de São Paulo
e, depois, como ministro de Estado, além de apoio ao PT na disputa
presidencial de 2014.
Segundo o documento enviado pela PGR ao Supremo, Kassab teria recebido uma mesada de R$ 350 mil entre 2010 e 2016.
Ao todo, o valor recebido pelo ministro teria chegado a R$ 30 milhões, afirma a PGR.
De
acordo com os delatores, os repasses mensais tinham como objetivo
"eventual influência política futura em demandas de interesse da JBS".
Para
viabilizar os repasses, os delatores narraram que foram firmados
contratos fictícios de prestação de serviço entre a JBS e uma empresa da
qual Kassab foi sócio até 2014. Os pagamentos, segundo a delação, foram
feitos, inclusive, no período em que o ministro já estava na chefia da
pasta da Ciência e Tecnologia.
"Parte
dos pagamentos relatados coincidem com o exercício atual do cargo de
ministro de Estado da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, por
parte de Gilberto Kassab, cuja nomeação ao referido cargo ocorreu em
12/05/2016", diz a PGR no inquérito.
Por
outro lado, Raquel Dodge também destaca que os delatores narraram em
depoimentos que Kassab teria vendido apoio político do PSD à campanha da
ex-presidente Dilma Rousseff à reeleição em 2014.
Segundo o documento, a tratativa teria rendido R$ 28 milhões ao PSD.
Os
delatores afirmaram que o valor foi repassado ao diretório nacional do
partido, e tinha como destino as campanhas políticas do governador do
Rio Grande do Norte, Robinson Faria, e de seu filho, o deputado federal
Fábio Faria.
"Em
razão do referido negócio, a JBS, com autorização do PT, teria
realizado pagamentos na ordem de R$ 28.000.000,00 ao Diretório Nacional
do PSD para as campanhas políticas do deputado federal Fábio Faria e do
seu pai, o governador do estado do Rio Grande do Norte, Robinson Faria,
bem como diretamente para Gilberto Kassab", narra a PGR no documento.
Nesta
quarta, além dos mandados de busca e apreensão no apartamento de Kassab
e em endereços ligados às empresas investigadas, a Polícia Federal
também cumpre mandados em Natal (RN).
A
PGR afirma que o repasse ao diretório do PSD foi operacionalizado por
meio de doações oficiais de campanha, além da quitação de notas fiscais
falsas de prestação de serviços e da entrega de dinheiro em espécie aos
envolvidos no esquema.
O
G1 entrou em contato com a assessoria de Fábio Faria por volta das
10h30, mas não obteve resposta até a última atualização desta
reportagem. A reportagem também buscava contato com o PT.
Em
nota, o advogado de Robinson Faria disse que nenhum endereço do
governador foi alvo de busca e apreensão nesta quarta-feira. "Com
relação à investigação sobre doações da JBS, segue a tramitação do
procedimento para apuração de possível crime eleitoral, conforme
determinado pelo STF. Registro, finalmente, que Robinson Faria tem 32
anos de vida pública, tendo pautado sua carreira pela ética e correção",
diz a nota, assinada por José Luis Oliveira Lima.
G1/RN
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