Lixão Santana do Matos
Acabar com
os lixões a céu aberto, dar um destino correto aos detritos domésticos
produzidos nos 167 municípios do Rio Grande do Norte e,
consequentemente, proporcionar uma condição de vida mais digna às
pessoas que sobrevivem do que é jogado fora. Tudo isso faz parte de um
projeto pioneiro de preservação ambiental chamado ‘Lixo Negociado’,
desenvolvido pelo Ministério Público Estadual por meio do Núcleo
Permanente de Incentivo à Autocomposição (Nupa) e pelo Centro de Apoio
Operacional às Promotorias de Justiça de Defesa do Meio Ambiente (Caop
Meio Ambiente), em conjunto com o Ministério Público do Trabalho.
O projeto
foi criado em julho de 2018 e, desde então, vem colaborando para mudar a
forma como os entes públicos lidam com os resíduos sólidos. “Estamos
diante de uma realidade que precisa ser alterada urgentemente. Esta é a
nossa missão. E é este é o propósito principal do projeto Lixo
Negociado”, destacou a promotora Mariana Barbalho, coordenadora do Caop
Meio Ambiente.
E a
promotora tem razão em estar preocupada. A lei que determina a
substituição dos lixões por aterros controlados ou aterros sanitários é
de 2014, mas pelo alto custo para a implantação destas unidades, poucos
municípios conseguiram se adequar à legislação ambiental.
Antes de a
promotora falar sobre o que vem sendo feito para mudar esta realidade, o
Agora RN procurou entender o processo. Segundo a Secretaria Estadual do
Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos (Semarh), um pessoa produz, em
média, de 800 gramas a 1 quilo de lixo por dia. Como o Rio Grande do
Norte possui cerca de 3,4 milhões de pessoas, logo se entende que todos
os dias são produzidos, em média, de 2,72 a 3,4 mil toneladas de lixo. E
qual o destino de toda esse material? Vai tudo parar nos 165 lixões a
céu aberto que atualmente existem no estado. O pior é que apenas 8% de
tudo o que é jogado fora volta ser reutilizado após passar por algum
tipo de coleta seletiva. Atualmente, ainda de acordo com a Semarh, 879
pessoas vivem como catadores de lixo em 147 municípios do estado.
Daí a
importância do projeto. “Que não é apenas acabar com os lixões ou fazer a
lei sair do papel, mas antes de tudo cuidar do meio ambiente, cuidar da
saúde das pessoas”, reforçou Mariana.
Com o Lixo
Negociado, as prefeituras estão sendo chamadas para celebrar um Termo
de Acordo. E os primeiros resultados já podem ser comemorados. Em pelo
menos 10 municípios a realidade é outra. Em Ceará-Mirim, Mossoró,
Upanema, Riacho da Cruz, Alto do Rodrigues, Acari, Santana do Seridó,
Serra Negra do Norte, Santa Cruz e Tenente Ananias, os lixões que
outrora atraíam dezenas de pessoas em busca de materiais recicláveis,
objetos que pudessem ser revendidos, e até mesmo resto de comida, agora
são coisas do passado.
“É claro
que o lixo não vai deixar de existir nestas cidades, mas o destino que é
dado a ele é que se tornou bem diferente. Invés de ser recolhido e
simplesmente despejado em terrenos a céu aberto, nos lixões, os detritos
seguem para aterros controlados ou estações de triagem, onde existe uma
organização para a separação do que pode ser reaproveitado e do que
realmente precisa ser descartado”, acrescentou a assistente ministerial
Janny Lima, que também atua no Caop Meio Ambiente.
Entenda
Para uma
melhor compreensão, define-se lixão como verdadeiros vazadouros a céu
aberto, sem qualquer tratamento. Em outras palavras, são terrenos que
servem apenas como depósitos de tudo o que é descartado em residências,
indústrias, comércio, hospitais, etc. Enfim, são espaços apresentados
como uma falsa solução à população. Inclusive, há muitos lixões
clandestinos.
Como essa
destinação não possui nenhum controle sanitário de proteção ao meio
ambiente, o resultado é que todo esse lixo jogado ao solo de qualquer
jeito acaba por contaminar a água, a terra, o ar, o lençol freático,
aquíferos próximos, como rios, lagoas e açudes, e ainda atrai vetores de
inúmeras doenças. São exemplos a dengue, febre amarela, febre tifoide,
cólera, disenteria, leptospirose, malária, esquistossomose, giardíase,
peste bubônica, tétano e hepatite A.
Em um
aterro sanitário, que é apontado como uma solução apropriada para o
lixo, o que se tem é um espaço adequado para a acomodação do lixo
residencial e industrial, que são depositados em solos que recebem
tratamento, que foram impermeabilizados. Os aterros sanitários também
possuem drenagem para o chorume (líquido preto e tóxico que resulta da
decomposição do lixo), que também é levado para tratamento, sendo depois
devolvido ao meio ambiente sem risco de contaminação, além de captação
dos gases liberados, como metano, seguida da sua queima.
Já o
aterro controlado, entende-se como um local onde o lixo é colocado de
forma controlada, recebendo coberturas de terra. No entanto, os aterros
controlados não recebem impermeabilização do solo nem sistema de
dispersão de gases e de tratamento do chorume. Enfim, o aterro
controlado acaba sendo uma solução paliativa, mas não definitiva.
Aterros sanitários e controlados
Em
Ceará-Mirim e Mossoró o lixo é tratado em aterros sanitários, os únicos
do estado. Para o aterro de Ceará-Mirim vai a maior parte dos resíduos
produzidos na Grande Natal. A unidade funciona por meio de uma Parceria
Público Privada envolvendo a empresa Braseco e as prefeituras de Natal,
São Miguel do Gostoso, Touros, Maxaranguape, Rio do Fogo, Taipu, Bento
Fernandes, Extremoz, Ielmo Marinho, São Gonçalo do Amarante, Macaíba e
Parnamirim.
Em
Mossoró, a situação é diferente. Como o aterro sanitário foi doado pela
Petrobras como compensação pela exploração de Petróleo na região, apenas
o lixo da própria cidade é tratado na unidade.
Já nos
municípios de Upanema, Riacho da Cruz, Alto do Rodrigues, Acari, Santana
do Seridó, Serra Negra do Norte e Santa Cruz, o lixo vai para aterros
controlados, que são uma espécie de intermediário entre o lixão e o
aterro sanitário.
E ainda
tem Tenente Ananias, que é um caso atípico. Lá não existem lixão nem
aterros. Por meio de um convênio, a prefeitura recolhe todo o lixo
produzido na cidade e leva direto para um aterro sanitário que fica em
uma cidade vizinha, na Paraíba.
Natal não
aparece na lista de cidades sem lixões por causa da estação de
transbordo de Cidade Nova. O fato de os resíduos ainda estarem sendo
depositados diretamente no chão é o maior problema, o que causa a
contaminação do solo e lençol freático. Em abril, um catador de 19 anos
morreu ao ser soterrado por uma pilha de lixo.
O material
deveria ter saído dos caminhões de coleta direto para as empilhadeiras,
e em seguida já ter seguido viagem para o aterro sanitário da Braseco. E
quando isso não acontece, é comum que dezenas de catadores se aventurem
sobre os entulhos, pondo suas vidas em risco.
Nova fase
No início
deste mês começou uma nova fase do projeto, onde os municípios que estão
localizados até 100 quilômetros do aterro sanitário da Braseco foram
convidados para firmar o Termo de Acordo. Já assinaram as prefeituras de
Monte Alegre, Lagoa Salgada, Brejinho e Pureza.
“Para as
cidades que ficam em um raio de até 100 quilômetros do aterro, a nossa
proposta é para que se leve os resíduos para a Braseco, já que é um
aterro regional. Esta opção não existe nas demais regiões do estado, uma
vez que o Rio Grande do Norte não possui outros aterros sanitários
regionais. Com isso, queremos mostrar que não é o município que escolhe
construir o aterro controlado ou enviar o lixo para a Braseco, isso vai
depender de onde o município é localizado”, observou a promotora.
Não basta acabar, tem que recuperar
Não basta
acabar com o lixão. Para cumprir o que diz a lei e fazer valer o acordo
com o MP, a prefeitura precisa recuperar a área degradada. É o caso de
Santa Cruz, que desde o dia 7 deste mês encerrou as operações de despejo
de lixo no lixão da cidade. Porém, ainda falta limpar a área.
“É uma das
cláusulas do Termo de Acordo. Depois de encerrar a atividade do lixão,
tem que cuidar do terreno. E ainda tem que preservar o local para que
não seja reutilizado para outras finalidades que possam trazer algum
risco para a população. O terreno não pode ser usado para a construção
de moradias nem escolas, por exemplo”, ressalta a promotora Mariana
Barbalho.
Acordo Firmado x Ação Civil Pública
Além dos
10 municípios que conseguiram erradicar os lixões em seus territórios,
outras 74 cidades já assinaram ou estão em vias de assinar o Termo de
Acordo com o Ministério Público. A maior parte, 66, se comprometeram em
construir aterros controlados. As demais, fecharam parceria com a
Braseco e devem passar a levar seus resíduos domésticos para o aterro
sanitário em Ceará-Mirim.
Contudo,
ainda há prefeituras que parecem não se importar com o problema e
insistem em manter os lixões operando. É o caso de 10 municípios que se
tornaram alvo de ações civis públicas movidas pela promotoria de Meio
Ambiente.
Quando o
município não cumpre o que foi acordo, o Ministério Público esclarece
que tanto o município quanto o gestor podem ser multados
financeiramente, cabendo ao prefeito até uma possível ação criminal pelo
descumprimento.
IRREGULARIDADE
O acordo
mais recente do projeto firmado com o MP foi assinado com a prefeitura
de Monte Alegre. Aconteceu no início desta semana. E o Agora RN, de
certa forma, contribuiu para isso. É que a equipe da assessoria
ministerial, a pedido da reportagem, foi a Monte Alegre para visitar uma
usina de reciclagem que recentemente havia fechado contrato com a
prefeitura municipal. O problema foi encontrar um lixão a céu aberto ao
lado da usina.
Ficou
constatado que a prefeitura havia feito o contrato com a usina para
tratar apenas o lixo produzido na zona urbana. Já o lixo da zona rural,
estava sendo despejado no lixão, sem cuidado algum.
Enquanto
uma queimada destruía o que restava de móveis velhos, roupas, livros,
carcaças de animais e até seringas, um dos catadores falou sobre a
situação. “Aqui eu tiro o meu pão, o da minha mulher e de meus cinco
filhos”, disse Joseilton Gomes.
O homem
contou que é natural de Mossoró, mas já estava vivendo do lixão em Monte
Alegre fazia quatro anos. “Chego de manhã e vou para casa à noite. Aqui
trabalho todos os dias. Não tem essa história de final de semana. Se eu
não vier trabalhar, vem outro e pega as coisas na minha frente”,
alertou.
“Por
coincidência, nesta mesma semana, a prefeitura reconheceu que o fato de o
local ser aberto facilita a continuidade do lixão. Portanto, preferiu
firmar o acordo. E foi o que ele fez. A partir de agora, a usina vai
separar o que é possível ser reciclado, e o restante vai para a
Braseco”, acrescentou Janny Lima.
Acordo para aterros controlados
1. Água Nova 2. Alexandria 3. Barcelona 4. Bom Jesus 5. Caiçara do Rio dos Ventos 6. Caicó 7. Campo Grande 8. Campo Redondo 9. Caraúbas 10. Carnaúba dos Dantas 11. Cerro Corá 12. Coronel Ezequiel 13. Coronel João Pessoa 14. Cruzeta 15. Currais Novos 16. Encanto 17. Equador 18. Felipe Guerra 19. Florânia 20. Francisco Dantas 21. Guamaré 22. Ipueira 23. Itaú 24. Jaçanã 25. Jandaíra 26. Janduís 27. Japi 28. Jardim de Angicos 29. Jardim de Piranhas 30. Jardim do Seridó 31. João Dias 32. José da Penha 33. Jucurutu 34. Lagoa de Velhos 35. Lagoa Nova 36. Lajes 37. Lajes Pintadas 38. Luís Gomes 39. Macau 40. Major Sales 41. Monte das Gameleiras 42. Ouro Branco 43. Paraná 44. Parazinho 45. Parelhas 46. Pau dos Ferros 47. Pedra Preta 48. Pilões 49. Poço Branco 50. Rodolfo Fernandes 51. Ruy Barbosa 52. Santana do Matos 53. São Bento do Trairi 54. São Fernando 55. São Francisco do Oeste 56. São João do Sabugi 57. São José do Campestre 58. São José do Seridó 59. São Miguel 60. São Tomé 61. São Vicente 62. Serra de São Bento 63. Serra Negra do Norte 64. Tenente Laurentino Cruz 65. Timbaúba dos Batistas 66. Triunfo Potiguar
1. Água Nova 2. Alexandria 3. Barcelona 4. Bom Jesus 5. Caiçara do Rio dos Ventos 6. Caicó 7. Campo Grande 8. Campo Redondo 9. Caraúbas 10. Carnaúba dos Dantas 11. Cerro Corá 12. Coronel Ezequiel 13. Coronel João Pessoa 14. Cruzeta 15. Currais Novos 16. Encanto 17. Equador 18. Felipe Guerra 19. Florânia 20. Francisco Dantas 21. Guamaré 22. Ipueira 23. Itaú 24. Jaçanã 25. Jandaíra 26. Janduís 27. Japi 28. Jardim de Angicos 29. Jardim de Piranhas 30. Jardim do Seridó 31. João Dias 32. José da Penha 33. Jucurutu 34. Lagoa de Velhos 35. Lagoa Nova 36. Lajes 37. Lajes Pintadas 38. Luís Gomes 39. Macau 40. Major Sales 41. Monte das Gameleiras 42. Ouro Branco 43. Paraná 44. Parazinho 45. Parelhas 46. Pau dos Ferros 47. Pedra Preta 48. Pilões 49. Poço Branco 50. Rodolfo Fernandes 51. Ruy Barbosa 52. Santana do Matos 53. São Bento do Trairi 54. São Fernando 55. São Francisco do Oeste 56. São João do Sabugi 57. São José do Campestre 58. São José do Seridó 59. São Miguel 60. São Tomé 61. São Vicente 62. Serra de São Bento 63. Serra Negra do Norte 64. Tenente Laurentino Cruz 65. Timbaúba dos Batistas 66. Triunfo Potiguar
Acordo com a Braseco
1. Bento Fernandes 2. Caiçara do Norte 3. Pedra Grande 4. Pureza 5. São Bento do Norte 6. Monte Alegre 7. Lagoa Salgada 8. Brejinho
1. Bento Fernandes 2. Caiçara do Norte 3. Pedra Grande 4. Pureza 5. São Bento do Norte 6. Monte Alegre 7. Lagoa Salgada 8. Brejinho
Respondem a Ação Civil Pública
1. Areia Branca 2. Tibau 3. Grossos 4. Riacho de Santana 5. Rafael Fernandes 6. João Câmara 7. Angicos 8. Afonso Bezerra 9. Fernando Pedrosa 10. Venha Ver
1. Areia Branca 2. Tibau 3. Grossos 4. Riacho de Santana 5. Rafael Fernandes 6. João Câmara 7. Angicos 8. Afonso Bezerra 9. Fernando Pedrosa 10. Venha Ver
Nenhum comentário:
Postar um comentário