O show de críticas entre os dois parlamentares não encerrou nas acusações de irregularidades entre os municípios nos quais ambos têm interesse político-eleitoral
Alex Viana
Repórter de Política
Tudo começou quando Nélter publicou no Twitter uma notícia, dando
conta de que um homem havia morrido em Assú, após ter o atendimento
negado no Hospital Regional de Assu, base política do deputado estadual
George Soares e onde Nélter tenta ter alguma ascendência eleitoral.
“Lamentável, na cidade do deputado filho da terra”, provocou Nelter.
Foi o suficiente para, do outro lado da timeline, o deputado agredido
revidar com ataques ao peemedebista. “Quem comanda o hospital de Assu é
seu aliado, amigo e rosalbista o prefeito de Assu. Todos os cargos,
todos. Você apoiou seu governo”, disse Soares, querendo associar Nélter
ao desgaste da governadora Rosalba Ciarlini (DEM) no município.
George faz oposição a Ivan Júnior, prefeito de Assu, que é do PP,
partido do cunhado da governadora, mas que, hoje, é ligado ao PMDB, que
faz oposição a Rosalba. Já o PR, em que pese hoje estar fora do governo,
foi, até recentemente, aliado político. E quem foi aliado de Rosalba
até recentemente, encontra dificuldades para justificar essa aliança
perante o eleitorado.
A confusão no Twitter, entretanto, estava só começando. Como resposta
à contra-ofensiva de George, que apontou Ivan Júnior como responsável
pelo caos no hospital regional, Nélter demarcou que “sempre” foi contra a
gestão Rosalba Ciarlini, a quem cabe gerir o equipamento público.
“Sempre fui contra esse governo de Rosalba. A discussão é outra”,
despistou Nélter. “Sempre fui contra esse governo. A discussão é cobrar
responsabilidade da Secretaria de Saúde do Estado”, afirmou, partindo
para mais um ataque.
“George, você está um verdadeiro ‘galo de campina’, depois da eleição
para prefeito do Assu, quando Ivan lhe derrotou com mais de 11 mil
votos de maioria. Parece que você tem um trauma com esse ’11′ mil.
Aliás, o 11 em Assu é comandado pelo deputado Betinho Rosado”, satirizou
Nélter, ao fazer menção ao PP, partido do cunhado da governadora.
Na sequencia, George não deixou por menos, passando a atacar a gestão
do prefeito Ivan Júnior, apoiado pelo peemedebista, e inserindo
Jucurutu, cidade administrada pelo filho de Nélter, George Queiroz, na
confusão do debate. “Deputado Nélter, Assu está sem prefeito, sem
carnaval, sem saúde e sem educação. Semelhanças com Jucurutu. E você
apoiou as 2 administrações”, esculachou. “Nélter, peça a seu prefeito.
Ele comanda o hospital. Dos empregos aos recursos. Até um pronto
atendimento tem lá. Não funciona. Nos ajude a saber de quem é a culpa
(pela morte do cidadão) para cobrarmos. O governo da rosa em Assu é 11.
Fica a dica”, disse George, que também respondeu sobre a pecha de galo
de campina, lançada por Nélter. “Deputado, você chamando os outros de
galo de campina… O RN está num fundo do poço mesmo. Vai tomar o lugar do
Papa”, disse.
Ainda segundo George Soares, os 11 mil votos que teve Ivan júnior de
maioria na cidade “se tornaram 11 mil arrependidos e decepcionados”.
Concluiu George: “Seu prefeito está afundando a cidade. Vamos ver o que
esses 11 mil vão fazer em outubro. Olha seu bloco em Assu”, postou
George, anexando uma foto em que aparece um carro de som com poucos
foliões ao redor. “Cadê o povo, deputado?”, indagou.
PROCESSOS
O show de críticas entre os dois parlamentares não encerrou nas
acusações de irregularidades entre os municípios nos quais ambos têm
interesse político-eleitoral. Ao se reportar novamente às palavras de
George Soares, Nélter fez uma comparação danosa para George, segundo a
qual Nélter está no sétimo mandato sem contabilizar qualquer processo
judicial, enquanto que George está no primeiro mandado e já teria ações
na Justiça contra ele.
“George, estou no 7º mandato e não há um processo contra mim.
Encaminhe esta denúncia. Pena que você tem um único mandato e é tão
novo, e já tem processo”, afirmou Nélter, noutra postagem no Twitter.
George respondeu, no entanto, reacendendo uma acusação contra Nelter,
desta feita, de que o deputado de Jucurutu respondera a inquérito na
Polícia Federal. “Nélter, você tem memória fraca. Tem processo na PF por
compra de voto na eleição do seu filho. Com filmagem e gravações”,
afirmou. “Deputado, se tem algo de errado, pergunte a seu sócio Bebe
pneus. Quem não deve, não teme”, afirmou George.
George apontou a existência de uma sumula do Supremo Tribunal Federal
(STF). “Deputado Nélter mais uma vez mal informado. Recomendação
007/2008. Cumprir a súmula STF na prefeitura do Assu. Mais de R$ 1
milhão em contratos”, declarou, sendo respondido por Nélter: “George,
esta súmula não trata de nenhuma irregularidade da administração do
prefeito Ivan Júnior”.
MAIS CONTRATOS
Ao abordar denúncia de que o prefeito Ivan contratou a esposa e a
clínica do próprio pai para prestar serviços ao município, Nélter disse
não haver irregularidades, já que o Ministério Público não fez qualquer
recomendação a respeito.
George disse: “Nélter, seu prefeito foi recomendado pelo MP a
cancelar os contratos da família, mais de R$ 1 milhão/ano. Ele não
atendeu. E aí, deputado?”, ao que Nélter respondeu: “O que sei é que o
prefeito Ivan contratou sua esposa médica numa seleção e seu pai tem um
laboratório que há 30 anos atende pelo SUS/Assu. No entanto, informação
importante é que o Ministério Público não fez nenhuma recomendação sobre
contratos da administração Ivan Júnior”, rebateu Nélter, que
acrescentou. “Essas denúncias são sem nenhum valor, sem nenhuma prova e
estou esperando ser citado, ganhar a eleição com 80% dos votos e eleger
10 vereadores”, finalizou.
PARLAMENTARES CONTINUAM TROCA DE ACUSAÇÕES
A discussão acalorada não terminou nesse ponto. Outros tópicos da
polêmica entre as duas lideranças foram postos sobre a mesa na “lavagem
de roupa suja”. Ao responder por que a prefeitura de Assu não realizou
carnaval este ano, Nélter Queiroz disse que “o prefeito Ivan seguiu uma
orientação do Ministério Público para não fazer o carnaval”. Em seguida,
Nélter passou a questionar nada menos os contratos da Prefeitura de
Assú na época que o pai de George, ex-deputado Ronaldo Soares, era o
prefeito da cidade.
“Sobre festa, época de Ronaldo prefeito quem ganhava os contratos?”,
indagou Nélter, insinuando direcionamento de licitação em benefício do
grupo político do deputado de Assú. Nélter disse que, em Jucurutu,
cidade gerida por seu filho, sabia-se quem vencia contratos,
diferentemente de Assú, quando Ronaldo governava a cidade. “Pelo que sei
lá em Jucurutu foi Samuka (quem venceu contratos) somente para palcos e
banheiros. E as bandas na época de Ronaldo, quem ganhava os
contratos?”, provocou Nélter.
George não silenciou, respondendo que as empresas vencedoras dos
contratos na gestão do seu pai foram “as mesmas que seu prefeito
contratou”, disse, referindo-se a George Queiroz. “Inclusive, depois do
seu apoio a ele, umas estão trabalhando em Jucurutu. Coincidência”,
disse, partindo para mais uma denúncia; “Em Jucurutu, a prefeitura
licita obras e quem executa são as máquinas da própria prefeitura. Isso é
o quê, nobre deputado?”, questionou Soares, acrescentando: “Seu
prefeito foi recomendado pelo Ministério Público a cancelar os contratos
da família, de mais de R$ 1 milhão/ano. Ele não atendeu. E aí,
deputado?”
Disse ainda o deputado assuense: “Seu filho prefeito e você deputado
não fizeram nada de carnaval em Jucurutu. Aí inventa em Assu e passa uma
vergonha dessas”, disse, ao publicar mais uma foto em que o próprio
George era carregado nos braços do povo. “Acho que essa foto que está
nos blogs e redes sociais deixou o nobre deputado irritado”, provocou.
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