Reportagem da revista Veja publicada neste fim de semana
revela que investigação realizada pelo Ministério Público desde 2010
descobriu esquema de desvio de dinheiro público por meio da ONG
Instituto Brasil, criada por petistas na Bahia. Segundo a matéria, a
entidade recebeu R$ 17,9 milhões do Fundo de Combate à Pobreza para a
construção de 1.120 casas populares para família de baixa renda, tarefa
confiada à ONG pelo governo estadual. Parte do dinheiro desapareceu.
A reportagem informa que investigadores do Ministério Público já
tinham provas de que o dinheiro foi desviado, mas o trabalho ainda não
revelou o destino final do montante. Mas, em entrevista a Veja,
a presidente da ONG, Dalva Sele Paiva, admitiu que o instituto foi
criado como linha auxiliar do abastecimento de caixa eleitoral do PT na
Bahia. “Um esquema que funcionou por quase uma década com dinheiro
desviado de ‘projetos sociais’ das administrações petistas”, diz a
revista, acrescentando que, segundo Dalva, R$ 50 milhões foram desviados
desde 2004.
“O golpe era sempre o mesmo: o Instituto Brasil recebia os recursos,
simulava a prestação do serviço e carreava o dinheiro para os candidatos
do partido. Como os convênios eram assinados com as administrações
petistas, cabia aos próprios petistas a tarefa de fiscalizar. Assim, se o
acordo pagava pela construção de 1 000 casas, por exemplo, o instituto
erguia apenas 100. O dinheiro que sobrava era rateado entre os políticos
do partido”, diz trecho da reportagem.
O presidente do PT da Bahia, Everaldo Anunciação, negou que o partido
tenha criado a ONG. Ele disse que, quando irregularidades foram
detectadas, o próprio governador da Bahia, o petista Jaques Wagner, foi
quem bloqueou os contratos com a entidade. Everaldo disse ainda que a
ONG já havia firmado contratos com o governo anterior, cujo titular era
Paulo Souto (DEM).
Desmentido
Ainda segundo Dalva, o deputado federal e candidato do PT ao governo
baiano, Rui Costa, recebeu montantes mensais que variavam de R$ 3 mil a
R$ 5 mil. Walter Pinheiro teria recebido repasses em 2008, quando
disputou a Prefeitura de Salvador. Dalva disse também não ter
informações a respeito de eventual envolvimento de Jaques Wagner,
governador do estado desde 2007, no esquema da ONG, mas que considerava
“impossível” ele nada saber.
Por meio de sua assessoria, Walter Pinheiro negou ter feito
declarações no sentido de que foi “ludibriado” pelo PT, como foi
registrado na revista. Na entrevista que concedeu a Veja, ele
reclama da postura de Dalva. “Ela [Dalva] chegou na minha campanha
trazida pelo PT. Essa mulher não veio para a campanha pelas minhas mãos
ou pelas mãos da minha mulher, por ninguém. Ela veio a partir das
relações dela dentro do PT. [...] Isso me dói muito. Você ser enganado,
ludibriado por um esquema desses, por alguém que vem como militante, se
aproveitando. Ela está querendo, no fundo, é extorquir o governo do
estado. Aí vai jogando lama na vida de todo mundo”, disse Walter
Pinheiro.
Em nota de esclarecimento, o senador diz ainda que “toda a
arrecadação e gastos das campanhas estão devidamente declarados na
Justiça”, e que tomará medidas judiciais tanto quanto à reportagem
quanto às declarações de Dalva.
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