FOLHAPRESS - O corpo de Juliana Marins, 26, passa por autópsia na manhã
desta quarta-feira (2) no Instituto Médico Legal do Rio de Janeiro.
Policiais civis do Departamento-Geral de Polícia Técnico-Científica
realizam o exame.
A perícia é realizada com a presença de um familiar
de Juliana e de um perito da Polícia Federal. O exame foi homologado
após audiência na Justiça Federal na terça (1º), com presença da AGU
(Advocacia-Geral da União), Defensoria Pública da União e governo do
estado do Rio.
O corpo de
Juliana chegou ao Rio na noite desta terça (1º), após ser transportado
pela FAB (Força Aérea Brasileira) entre o aeroporto internacional de
Guarulhos, em São Paulo, e a Base Aérea do Galeão.
O corpo já havia passado por autópsia na Indonésia, mas a família pediu um novo procedimento à União.
O
objetivo é esclarecer data e hora da morte e identificar sinais que
apontem a causa e que não tenham sido observados pela perícia indonésia.
Não há prazo
para apresentação do resultado da necropsia, que vai depender do estado
do corpo e da eventual necessidade de realizar novos exames.
A família
ainda não tem certeza sobre a data da morte. Juliana caiu no monte
Rinjani, na ilha de Lombok, na Indonésia, no dia 20 enquanto fazia a
trilha. Inicialmente ela chegou a ser vista com vida, mas o resgate só a
alcançou no dia 24, quando já estava morta.
O corpo foi resgatado
no dia 25, com múltiplas fraturas e grave hemorragia interna, o que
explicaria a morte, segundo o médico legista responsável pela autópsia.
Pela estimativa do médico, a turista brasileira pode ter sobrevivido por
quatro dias após a primeira queda.
O estado do
corpo, por conta do tempo, pode ser um empecilho para descobrir com
precisão a causa da morte. Em publicação nas redes sociais, a família
afirmou que a equipe de resgate foi negligente e que vai lutar por
justiça.
O local em
que ela caiu era de difícil acesso, e as buscas precisaram ser
paralisadas diversas vezes devido às más condições climáticas.
É
possível que a brasileira tenha sofrido uma segunda queda. No dia 21,
vídeo feito por drone captou Juliana, sentada e em movimento, em um
local íngreme.
No dia 24,
quando foi encontrado o corpo, outra gravação mostrou que ela estava em
um local diferente, mais plano. A segunda queda pode tê-la levado mais
para o fundo do penhasco.
Na Indonésia,
a polícia da ilha de Lombok anunciou na segunda (30) que já ouviu
testemunhas e inspecionou o local onde Juliana caiu para tentar
identificar se houve qualquer tipo de irregularidade na morte dela.
COMO FOI A PRIMEIRA QUEDA?
O que se sabe
é que Juliana Marins caiu após ter sido deixada para trás pelo guia,
para descansar. A primeira imagem dela, feita por um drone de turistas
espanhóis, no sábado (21), mostrou que ela estava a cerca de 200 metros
da trilha, em uma área com muitas pedras soltas e pouca vegetação.
QUANTAS VEZES JULIANA CAIU?
Após a
primeira imagem, ela foi avistada novamente apenas no dia seguinte, por
um drone com imagem térmica da equipe de socorristas. Naquele momento
ela estava presa a uma encosta rochosa a cerca de 500 metros da trilha,
imóvel.
Já no momento do resgate, na quarta-feira, ela estava a
cerca de 650 metros da borda, em uma área rochosa, o que sugere que ela
pode ter caído mais de uma vez.
POR QUE HÁ DIFERENÇA ENTRE OS HORÁRIOS DE MORTE DIVULGADOS?
A Basarnas,
agência responsável pelas buscas na Indonésia, disse à família que
Juliana havia sido encontrada já sem vida na noite de terça (24) no
horário local, por volta das 11h de Brasília. Já o legista estimou a
morte entre 14h de terça e 2h de quarta no horário de Brasília.
Especialistas
ouvidos pela Folha avaliam que é muito difícil precisar o horário da
morte porque uma série de elementos importantes comumente usados em
autópsia para determinar o horário de morte não pôde ser analisada pelas
condições em que o corpo da jovem foi encontrado.
Além disso, a
autópsia foi realizada apenas na noite de quinta (26), após o corpo ser
transportado em um freezer por horas até Bali. Esse período de mais de
24 horas também influencia na definição da hora da morte, segundo o
legista.
POR QUE ELA NÃO USAVA CASACO?
A
imagem feita pelo drone dos espanhóis mostrou que Juliana usava apenas
calça, uma camiseta de manga curta, luvas e botas. Não se sabe se ela
carregava mochila e outros equipamentos.
Montanhistas e
turistas que já fizeram a trilha afirmam que, à noite, a temperatura
pode chegar a 4°C. Por isso, o casaco é necessário para evitar
hipotermia.
POR QUE O RESGATE DEMOROU?
Um
dos pontos mais criticados pela família e pelos brasileiros que
acompanharam o caso foi a demora no resgate. Autoridades locais disseram
que enfrentaram dificuldades como terreno íngreme, altitude e mau
tempo.
Em depoimento
nas redes sociais, o geógrafo e montanhista Pedro Hauck afirmou que a
Indonésia é um país pobre e não possui um serviço de resgate igual ao do
Brasil, onde equipes ficam de prontidão e atendem 24 horas por dia.
O Parque
Nacional Monte Rinjani, onde fica o vulcão, não possui uma equipe
especializada de plantão. Assim, quando ocorre um acidente como o de
Juliana, é preciso reunir socorristas e voluntários e levar equipamentos
até o local para iniciar as buscas. Não há infraestrutura ou
equipamentos de resgate disponíveis na montanha.