A luta de José Alencar, 79 anos, contra o câncer terminou ontem. O
ex-vice-presidente da República morreu às 14h41, no Hospital
Sírio-Libanês, em São Paulo, em decorrência de falência de múltiplos
órgãos, depois de resistir, por mais de 13 anos, a um câncer na
próstata. Tinha à sua volta a mulher, Mariza, os três filhos e os netos.
Ao longo de mais de uma década, foi submetido a 17 cirurgias. A brava
resistência de Alencar à doença, que sensibilizou todo o País, sempre
foi enfrentada com realismo e extremo senso de humor. “Eu não tenho medo
da morte. O homem tem de ter medo é de perder a honorabilidade,
especialmente na vida pública. O homem que não perde a honorabilidade
não morre. Não morre para os filhos, os ancestrais, os amigos, os
patrícios. Agora, quando o camarada faz coisa errada, em vida pode se
considerar morto, porque ninguém quer se aproximar dele. Quando Deus
quer levar, leva, independentemente do câncer”, declarou em entrevista
ao jornal O Estado de S. Paulo, em 2009.
Velório será no Palácio do Planalto
O
governo federal decretou luto oficial de oito dias pela morte do
ex-vice-presidente José Alencar. O corpo de Alencar deve sair hoje às
6h30 de São Paulo, em avião da FAB para o Palácio do Planalto, onde será
velado a partir das 10 horas. O sepultamento deverá ser quinta-feira,
em Belo Horizonte Em Brasília, o corpo do ex-vice-presidente será
transportado em carro aberto do Corpo de Bombeiros por uma das
principais via da capital federal, da base aérea ao centro da cidade.
Haverá também velório no Palácio da Liberdade, no dia 31.
A
presidenta Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula foram informados da
morte de Alencar em Portugal. Ambos chegam hoje ao Brasil para
participar do velório. O presidente em exercício, Michel Temer, afirmou
que Alencar enfrentou o câncer com “galhardia exemplar”. “Embora
enfrentasse uma tragédia pessoal, ele soube revelar a harmonia interior.
O Brasil perde uma de suas grandes e expressivas figuras, tanto no
setor empresarial como no setor público”, completou. Temer.
A
última aparição pública de Alencar foi na cerimônia do aniversário de
São Paulo, quando recebeu a Medalha 25 de Janeiro e, emocionado,
conseguiu falar por nove minutos. “Deus sabe o que faz e aceitaremos sua
decisão de bom grado. Se eu morrer agora, tenho até que me sentir um
privilegiado, pois está todo mundo rezando e torcendo por mim. Não posso
me queixar se eu morrer”, declarou na ocasião, ao lado de Lula e Dilma.
Alencar lutou até o fim, trabalhando mesmo enquanto estava
internado para se recuperar de cirurgias ou se submeter a sessões de
quimioterapia, sempre otimista. Cada vez que recebia alta e deixava o
hospital, caminhando ou numa cadeira de rodas, explicava à imprensa, sem
rodeios, como estavam sua saúde e sua disposição de espírito.
A
última internação foi na segunda-feira, quando o ex-vice-presidente
apresentara um quadro de obstrução intestinal com perfuração abdominal e
peritonite (infecção na membrana que protege a cavidade abdominal).
Devido a seu estado crítico, os médicos descartaram qualquer
procedimento cirúrgico. Nos últimos momentos de vida, Alencar recebeu
analgésicos para aliviar a dorMinutos antes de o hospital confirmar a
morte, o médico-cirurgião Raul Cutait, que acompanhou Alencar ao longo
da luta contra o câncer, afirmara que o paciente se preparava “para
descansar”.
Na segunda-feira, Alencar foi internado com quadro
de suboclusão intestinal, depois de passar 11 dias em seu apartamento da
Alameda Itu, na capital. No ano passado, foram várias idas e vindas
entre o hospital e sua casa.
Empresário bem sucedido em Minas
Gerais, Alencar foi o fiador da aliança política que aproximou o setor
produtivo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e viabilizou a
eleição do petista em 2002. Nos oito anos do governo Lula, (2003-2010), o
mineiro foi um recordista: ocupou interinamente a Presidência por 450
dias, exatos um ano e 85 dias. Sepultamento vai ser em Belo Horizonte
A
morte José Alencar levou governo mineiro a decretar ontem luto oficial
de sete dias no Estado natal do ex-vice-presidente. Na quinta-feira, o
corpo de Alencar será velado no Palácio da Liberdade, antiga e suntuosa
sede do Executivo estadual - que o então empresário chegou a disputar,
em 1994 -, antes de ser enterrado em Belo Horizonte.
Nascido no
Distrito de Itamuri, em Muriaé, na Zona da Mata de Minas Gerais, em 17
de outubro de 1931, o empresário José Alencar ficou conhecido
nacionalmente na eleição presidencial de 2002, quando o PT o apresentou
como candidato na chapa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Alencar faleceu no início desta tarde, em São Paulo, segundo confirmou o
oncologista Paulo Hoff, do Hospital Sírio-Libanês.
Rico e
bem-humorado, o “patrão” que avalizava a candidatura do ex-líder
sindical doou, oficialmente, R$ 3 milhões para a campanha, deixou as
empresas definitivamente sob a chefia do filho Josué Gomes da Silva e
percorreu cidades e grotões ao lado de Lula, compartilhando gritos e
palmas de multidões, nos comícios animados pela dupla sertaneja Zezé di
Camargo e Luciano
O homem que iniciou a carreira política só aos
63 anos, quando concorreu sem sucesso ao governo do Estado, nunca
precisou esperar uma viagem de Lula para assegurar espaço na imprensa.
Com discursos que expressam as opiniões da classe empresarial, Alencar
fez do cargo uma função de destaque na mídia em plena Era Lula, uma
época marcada pela grande exposição da figura do presidente, com
discursos carregados de metáforas facilmente compreendidas pela
população.Em 2 de janeiro, a sala do vice era uma das poucas com as
luzes acesas na área central de Brasília, que abrange a Praça dos Três
Poderes e Esplanada dos Ministérios. Enquanto boa parte das autoridades
prolongava a folga de ano-novo, Alencar despachava com assessores.
Em
tratamento desde 1997 contra a doença, Alencar disse que não
considerava correto omitir informações sobre a saúde, um comportamento
raro na política brasileira, marcada por dramas como o internamento
repentino do presidente eleito Tancredo Neves à véspera da posse, pela
situação clínica do governador de São Paulo, Mário Covas, e, mais
distante no tempo, pela agonia do presidente Costa e Silva durante mais
de cem dias de internação.
“Nunca omiti nada, mesmo porque o
homem público não é dono de si Ele tem de ser transparente mesmo,
inclusive nisso”, afirmou. “Exerço função pública, eletiva, com a maior
responsabilidade. As pessoas têm de estar informadas. Provavelmente,
isso tenha criado esse mito de força. Eu não sou mais forte do que
ninguém. Sou uma pessoa absolutamente normal.”
Mesmo em momentos
mais críticos da enfermidade, o ex-vice não deixava de fazer comentários
sobre a taxa de juros determinada pelo Comitê de Política Monetária
(Copom) do Banco Central (BC), e de reclamar dela.
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