repórter
O Hospital Walfredo Gurgel está ultrapassando em 50% a sua capacidade de atendimento, confirmou, ontem à tarde, o seu diretor geral, médico Mozar Dias de Almeida: "O hospital bateu recorde de internações de pacientes, todos os nossos setores estão sobrecarregados".
Aldair DantasOntem
à tarde, os corredores de todos os setores do Hospital Walfredo Gurgel
estavam superlotados de pacientes de todas as regiões do Estado
Mas,
o diretor técnico do HWG, médico João Batista Rabelo, foi mais
contundente ainda, admitindo que os profissionais daquela unidade
hospitalar "tem de decidir entre quem vive e quem morre, em saber quem é
que entra para ser atendido".Mozar Dias disse ainda que a capacidade atual do HWG é de 280 leitos, dos quais 35 são de Unidades de Terapia Intensiva (UTIs), todas ocupadas, inclusive por pacientes crônicos. "Hoje nós temos 26 pacientes esperando por UTI".
Para Dias, o HWG e mais o Pronto-Socorro Clóvis Sarinho "só deixarão de ter pacientes nos corredores" depois que a assistência básica de saúde passar a funcionar com eficiência nos municípios, de onde vem a maioria dos pacientes, que só entre 1º e 30 de maio proporcionaram 7.234 atendimentos.
Segundo Dias, a maior parte dos pacientes que procuram o Hospital são de pessoas com doenças crônicas, como descompensações cardíacas, diabetes, acidentes vascular cerebral ou crises hipertensivas, "fugindo do perfil do Walfredo Gurgel", que é o atendimento referencial de urgência e emergência de vítimas da violência urbana.
Dias afirmou que os pacientes vão procurar no Hospital Walfredo Gurgel "o que não encontram na rede básica de saúde", que é uma responsabilidade dos municípios.
Por isso, segundo Dias, não existe uma triagem nas unidades básicas e nem mesmo nos hospitais regionais, que possa tirar pacientes dos corredores do HWG. Para ele, essa triagem poderia ser a solução para o caos que existe hoje, de uma forma geral, na rede de saúde pública.
"Nossos corredores estão cheios porque o pronto-socorro funciona 24 horas e recebemos os pacientes", continuou o diretor geral do HWG, onde ele atua há pelo menos 20 anos, desde que saiu de Currais Novos, na região do Seridó, e onde foi prefeito.
Para ele, o fato das Ames e Upas estarem sub judice em Natal, também é um problema para a superlotação do HWG, pois "funcionando ruim ou bom, desafogava um pouco o atendimento no pronto-socorro Clóvis Sarinho".
Para Dias, em virtude do atendimento acima de sua capacidade, não existe mais condições do HWG continuar dando assistência à baixa e média complexidade.
Para também desafogar os corredores e, inclusive, salas de cirurgia que deixa de funcionar porque está ocupada por pacientes crônicos, é que se criou um Programa de Internação Domiciliar (PID), que atualmente atende 38 pacientes em casa. "É que chamamos de desospitalização".
Desses pacientes que são tratados em casa, oito são da zona Sul de Natal, 13 da zona Leste e da zona Oeste, que foi divida em duas áreas, 10 e sete pacientes. A equipe de atendimento é formada por um médico, um enfermeiro, um técnico de enfermagem e um fisioterapeuta.
Diretor técnico: "É cada um por si e Deus por todos"
"O que está havendo é a judicialização da saúde, que só vai na pancada", diz o diretor técnico do Hospital Walfredo Gurgel, o médico e professor universitário João Batista Rabelo.
Segundo Rabelo, atualmente o maior doutor, "pos-graduado em Massassuchets ou Havard, é o motorista de ambulância", que trazem pacientes que não encontram assistência básica no interior. Ele deu o exemplo de um paciente diabético, que foi transferido do interior porque faltava e não conseguiu tomar aplicação de soro fisiológico.
Na opinião dele, o problema da saúde pública brasileira também ocorre porque está se acostumado a tentar resolver os problemas imediatos e não se executar um plano macro, de soluções de longo e curto prazo: "Falta um modelo, uma diretriz que seja publicada e acompanhada. É cada um por si e Deus por todos".
O diretor Mozar Dias de Almeida e o próprio João Rabelo fazem questão de dizer que receberam carta branca da governadora Rosalba Ciarlini e do secretário estadual de Saúde Pública (Sesap), Domício Arruda, para gerir o Hospital Walfredo Gurgel, inclusive sem ingerências políticas.
O secretário Domício Arruda chegou até a dizer, no meio da semana durante uma assembléia geral no Sindicato dos Médicos do Rio Grande do Norte (Sinmed-RN), que uma das condições feitas para Mozar Dias assumir a direção geral do Walfredo Gurgel, foi de não "ter remanejamento de médicos" do quadro de profissionais daquela unidade de saúde.
Para Rabelo, a tradição mesmo é de que os dirigentes de hospitais públicos são indicados mais por questões políticas e menos por sua capacidade profissional: "Ninguém tem coragem de dizer isso, que é preciso haver uma política de gestão e não política partidária".
Na reunião do Sinmed, ocorrida na noite de terça-feira, dia 31, quando os médicos em greve aceitaram a proposta da incorporação de gratificações ser implantada a partir de junho, o secretário Domício Arruda também chegou a dizer que, antes do Carnaval deste ano, pela primeira vez, segundo o seu conhecimento, teve de publicar uma escala de plantão no "Diário Oficial do Estado" (DOE), porque alguns plantonistas não queriam trabalhar no Carnaval. Rabelo admitiu que problemas internos também têm de ser resolvidos, tanto que em 90 dias de gestão, foram editadas 30 portarias relacionadas a fluxo de pessoal, falta ao expediente e proteções trabalhistas.
"Nós estamos fazendo um relatório para o secretário Domício Arruda, porque não podemos compactuar com essa situação", disse Rabelo, a respeito de todos os problemas vivenciados pelo HGW, coisa que, como diretor técnico, tem de informar o Conselho Regional de Medicina (CRM-RN): "Não posso dizer que não estou vendo", encerrou.
Da TN
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