Andrielle Mendes
Repórter
Os
Ministérios Públicos Federal e Estadual pediram ontem à Justiça Federal
do Rio Grande do Norte que proíba, novamente, a operadora de telefonia
TIM de habilitar novas linhas e realizar portabilidade de acesso de
outras operadoras no RN. A Justiça confirmou o recebimento do pedido e
deverá se pronunciar nos próximos dias. Para os Ministérios Públicos, as
ações previstas no "Plano de Ampliação de Rede", apresentado pela
empresa para o estado, não são suficientes para atender a demanda dos
consumidores.
O plano da TIM prevê R$ 30 milhões em
investimentos para aumentar a capacidade da rede de acesso no RN e foi
dividido em duas etapas. Mesmo com o cumprimento da primeira etapa do
plano, em março, verificou-se congestionamento de linha em 15 municípios
e queda de chamadas em outros 92, sendo que em 84 cidades o percentual
de queda de chamada ultrapassa 10% e em 30, ultrapassa 50%. O limite,
segundo o Plano Geral de Metas de Qualidade para o Serviço Móvel
Pessoal, é 2% - mostrando como a operadora está distante desta
realidade.
A nova ação civil pública baseou-se na análise feita
pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) sobre o projeto da
TIM. Ao analisar os documentos enviados pela operadora, a Anatel chegou a
conclusão de que
não é possível atestar a conformidade do
serviço prestado, somente com os relatórios elaborados pela empresa de
telefonia. Além disso, mesmo após implementação da primeira etapa do
plano de ampliação da rede, a operadora apresenta, segundo os órgãos,
graves problemas de congestionamento e queda de chamadas, tendo
apresentado melhora somente em cinco municípios incluídos no Plano.
Para
o Ministério Público, o alto índice de queda nas chamadas pode
beneficiar a operadora, aumentando seu lucro. Isso porque, com as
quedas, o consumidor teria que realizar novas ligações.
A
gravidade dos fatos, segundo o MP, é suficiente para proibir novamente a
habilitação de linhas no estado. Em janeiro deste ano, tal proibição já
havia sido imposta e valeu por mais de 40 dias.
Segundo o
procurador da República Ronaldo Sérgio Chaves Fernandes, as últimas
informações revelam que o serviço não está sendo prestado como deveria.
"Diante das informações, não tínhamos outra alternativa senão pedir a
proibição das habilitações até a operadora prestar um serviço de
qualidade", afirma.
O pedido, segundo ele, é mais uma medida de
proteção ao consumidor do que uma punição à operadora. "Não se trata de
punir, mas de defender o consumidor. A Tim não está prestando um serviço
de qualidade aos atuais usuários, e mesmo assim, está recebendo novos.
Defendemos que ela só possa receber novos clientes quando mostrar que
pode atender bem a demanda. Temos elementos que mostram que quem
contratou os serviços da operadora não está sendo bem atendido".
Segundo
o procurador, outras operadoras de telefonia móvel estão investigadas
pela Anatel. "Cada uma vai ter o momento de melhorar a rede. Este é o
momento da Tim". Na ação encaminhada à Justiça Federal, o MP também pede
para que a Justiça multe a operadora por habilitar linhas durante a
proibição judicial e intima a Anatel a prestar novos esclarecimentos
sobre o plano.
Os Ministérios Públicos estudam a possibilidade
de pedir indenização por danos morais coletivos. Procurada pela equipe
de reportagem, a operadora informou "que ainda não tomou conhecimento de
qualquer manifestação do Ministério Público quanto ao Plano de
Desenvolvimento de Rede para do Rio Grande do Norte, mas reforça que
está à inteira disposição das autoridades para prestar os
esclarecimentos que se fizerem necessários".
Ação contra a operadora se desenrola desde janeiro no RN
As
ações dos Ministérios Públicos e da Justiça Federal contra a TIM se
desenrolam desde o início deste ano no Rio Grande do Norte. O processo
teve o primeiro capítulo público em 14 de janeiro, quando a Justiça
Federal do RN proibiu a empresa de comercializar novas assinaturas,
habilitar novas linhas ou fazer portabilidade de acesso de outras
operadoras até que comprovasse a instalação e perfeito funcionamento dos
equipamentos necessários para atender às demandas dos consumidores no
estado.
A suspensão, determinada pelo juiz Magnus Augusto Costa
Delgado, foi consequência de uma ação civil pública movida pelo
Ministério Público Federal e a Agência Nacional de Telecomunicações
(Anatel), contra o que chamaram de má prestação de serviços por parte da
operadora. Diante de denúncias de usuários, o MPF instaurou inquérito
civil, bem como pediu a Anatel que realizasse uma ação de fiscalização
para constatar a existência de problemas na rede da empresa. E alguns
problemas, de acordo com o relatório judicial, foram, de fato,
encontrados.
A empresa recorreu da decisão, mas em fevereiro teve
o pedido negado pelo Tribunal Regional Federal da 5ª Região. Ainda em
fevereiro, no dia 14, a TIM entregou um plano de expansão da capacidade
de rede ao Juiz Magnus Delgado, prevendo R$ 30 milhões em investimentos
para aumentar a capacidade de atendimento no estado. Em 27 de fevereiro,
a proibição, que já durava 45 dias, foi suspensa por 90 dias pela
Justiça Federal, com a condição de que a empresa apresentasse relatórios
mensais informando o cumprimento das medidas que compõem o plano. A
operadora voltou a habilitar novas linhas. Em março, entretanto, foi
mais uma vez alvo de relatório desfavorável. O Juiz Magnus Delgado
recebeu da Anatel, informações que apontavam que a empresa habilitou
linhas durante o período de proibição judicial. Pelo descumprimento,
pediu o Ministério Público, a operadora deveria pagar multa, mas o
pedido ainda está sob análise da justiça.
Em maio, no dia 25, a
TIM pediu à Justiça Federal do Rio Grande do Norte que encerrasse o
processo. Mas em vez de atender o pedido, o Juiz Magnus Delgado
prorrogou a suspensão da medida contra a operadora, por um período de
120 dias. A expectativa era que, neste período, provas fossem produzidas
e os autores da ação, Ministérios Públicos Estadual, Federal e Anatel,
se manifestassem sobre o processo.
O Ministério Público recebeu
os Autos, espécie de caderno contendo todo o processo movido contra a
TIM, no dia 30 de maio. Ontem, encaminhou nova ação à Justiça Federal
pedindo que a proibição que havia sido imposta em janeiro seja retomada.
À
exemplo do que ocorreu no Rio Grande do Norte, o juiz Cid Peixoto do
Amaral Neto, da 3ª Vara Cível da Justiça Estadual, do Ceará, decidiu, há
cerca de duas semanas, suspender a habilitação de novas linhas, após
uma série de problemas no serviço. A decisão só seria revista após a
operadora entregar um plano de expansão da rede à Justiça do Ceará. O
serviço da TIM no Ceará, segundo noticiado pelo jornal cearense Diário
do Nordeste, apresenta instabilidade nas últimas semanas e deixa seus
usuários sem acesso. Segundo o juiz, a decisão deve persistir "enquanto
não se comprovar que foram instalados e estão em perfeito funcionamento
os equipamentos necessários e suficientes para atender às demandas dos
seus consumidores". Também há reclamações contra o serviço em outros
estados, conforme noticiou o jornal. Na semana seguinte, a TIM anunciou
investimento de R$1 bilhão em sua rede de acesso no País. Segundo Marco
Di Costanzo, diretor de rede da TIM Brasil, o investimento "não é uma
reposta ao que aconteceu em algum Estado".
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