Foto - O riacho do Brás, em Poço Redondo (SE), virou cemitério de animais com a maior seca já registrada no Nordeste em décadas Beto Macário/UOL
Não é difícil encontrar animais mortos pelas estradas, pastos e riachos
secos no sertão do Nordeste. Para evitar mortes, muitos produtores
dividem a água que recebem com os animais para evitar que eles fiquem
ainda mais debilitados. Outros preferem vender animais a preços até 50%
menores e evitar as mortes.
Em Poço Redondo, município mais afetado pela seca em Sergipe, todos os criadores ouvidos pelo UOL
afirmam que já perderam animais com a estiagem. No riacho do Brás, que
está completamente seco há meses, carcaças de bois e vacas estão
espalhadas pelo local. Em pouco mais de 300 metros, a reportagem
encontrou sete animais mortos. O último deles, segundo a dona do
terreno, morreu no fim de semana anterior à visita.
“É uma tristeza grande demais. Se não chover, ou o governo não ajudar
com ração, em três meses não teremos nenhum animal vivo mais na cidade”,
disse a pecuarista Sônia Souza Costa, que viu a morte de sete de suas
vacas nos últimos meses.
“Se pelo menos o governo ajudasse com a ração, que é o que faz os
animais darem leite, ajudaria bastante. Mas até agora recebemos água de
carro-pipa só para nosso abastecimento de casa. Mas, mesmo não dando,
temos que dividir a água com os animais para que eles não morram”,
afirma.
Para evitar mortes, Alexandre Fernando da Silva, 55, vendeu dois
animais por R$ 300 cada, quando poderia cobrar R$ 600 por cabeça. "Se
não for assim, não teríamos como manter o resto", diz o sertanejo, que
tem 15 cabeças de gado na cidade.
Mapa mostra as cidades visitadas pelo UOL em quatro Estados
Perda de leite
Dona da maior bacia leiteira de Alagoas, a região do município de Batalha é uma das que mais sofre com a seca e já viu a produção de leite cair à quase metade. Na zona rural, os pecuaristas são obrigados a vender animais para garantir o sustento dos outros bichos.
“Nunca vi chegarmos ao mês de maio numa situação dessa, tão seca. Do
jeito que vai, não tem quem suporte muito tempo”, diz José Carlos
Matias, 31, responsável pela criação de animais numa fazenda.
Por conta da seca e sem recursos, Matias conta que já teve que vender
pelo menos uma vaca para comprar alimento para o gado. “Olha o capim que
a gente está dando”, diz o criador, apontando para um mato seco colhido
no terreno ao lado e transportado em uma pequena carroça por duas
crianças.
“Essa seca está lascando todo mundo. Igual a essa, só vi nos anos 70.
Todo mundo está tendo prejuízo com a falta de leite”, afirmou Antônio
Tenório Bezerra, 47.
Aos 80 anos, Antônio Saturnino também lamenta o sofrimento do gado com a
estiagem. "Crio minha palma [espécie de planta que resiste à seca e que
é dada de alimento ao gado] aqui do lado. Se não fosse isso, já teria
perdido meus quatro animais. Muita gente está perdendo. É muito triste
essa situação", conta.
Preços
Não bastasse a falta de pasto, os produtores reclamam dos altos preços
praticados por fazendeiros e comerciantes que vendem produtos que
substituem o capim. A tarefa da palma (correspondente à área plantada de
3.052 metros quadrados), que não passava de R$ 1.200, já está sendo
vendida a R$ 2.500 em vários pontos do Nordeste.
Os farelos de trigo, milho ou algodão também está com preços até 200%
maiores nessa época do ano. A tendência é que o preço suba ainda mais
nas próximas semanas. “Essa realmente é a tendência, mas não é culpa
nossa, pois já recebemos os produtos mais caros. Em vez de lucrar mais,
estou lucrando menos, pois as vendas caíram muito”, alega um vendedor.
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