Passados quase três meses da morte do cantor e compositor Wando, a psicóloga Renata Vasconcelos, de 41 anos, tem agora a missão de provar, na Justiça, que foi mulher dele durante sete anos.
Há um mês,
Renata, moradora do Bairro Buritis, na Região Oeste de Belo Horizonte,
pediu a comprovação de união estável com o artista mineiro batizado
Vanderley Alves dos Reis e vítima de complicações cardiorrespiratórias
que o levaram à morte em 8 de fevereiro.
"Faço isso por uma questão moral, simbólica, para preservar a memória de Wando", conta a mãe da Maria Sabrina, de 5 anos, fruto do seu relacionamento com o autor dos sucessos Fogo e Paixão, Moça e O importante é ser fevereiro.
Durante a entrevista, ela falou das questões judiciais, do amor por Wando, da filha, do trabalho e dos tempos de encantamento.
Wando não deixou testamento e não houve acordo entre os herdeiros, explica Renata, na ampla sala da residência de seus pais, no Bairro São Bento, na Região Centro-Sul. Na semana passada, ela foi confirmada pela Justiça de Minas Gerais como inventariante dos bens deixados pelo cantor, então com 66 anos. Sem saber o valor total do patrimônio, apenas que a maioria se relaciona a imóveis, a psicóloga diz que os filhos do casamento anterior do artista, residentes no Rio de Janeiro (RJ), ingressaram primeiro com ação na Justiça, na capital fluminense, requerendo a inventariança do espólio.
"Esse direito foi indeferido pelo juiz. Eles queriam que apenas a Maria Sabrina fosse declarada herdeira, como se eu não fosse ninguém nessa história", afirma com indignação. Como sempre ocorre em espólio de celebridades, é de se esperar vários rounds na disputa pelos bens deixados pelo artista.
Espólio
Além de Maria Sabrina, o cantor deixou os filhos Vanderlei Júnior e Gabrielle Burcci, do casamento anterior, e uma neta de 11 anos, filha do maranhense Marco Antônio, já falecido. Uma suposta filha que vive na Alemanha não entra no espólio, já que nunca fez o exame de DNA para comprovar a paternidade, esclarece a psicóloga.
O sorriso volta a iluminar o rosto de Renata ao falar do cantor com quem iria se casar no civil e religioso em 1º de setembro – a cerimônia seria celebrada pelo padre Jefferson Moreira Lima, da Igreja Católica Ecumênica do Brasil. "O meu objetivo era fazer uma festa de casamento como foi a dos meus 21 anos, aqui mesmo nesta casa, com uma tenda armada na quadra de esportes.
Na época, Wando cantou e iria repetir a dose", diz Renata, que era chamada pelo artista de "Vida". Outra alegria é falar sobre Maria Sabrina, que tem duas primas da mesma idade e se mostra uma garota sem timidez. "Na escola, ela adora cantar e subir no palco. Está na aula de balé", conta Renata, abrindo um livro com fotos de dias mais felizes, como numa viagem da família à Disneylândia, nos Estados Unidos.
A história de amor de Wando e Renata, casal com diferença de 25 anos, começou quando ela tinha 19 anos, em 1991. Num fim de semana com a família, no Rio – "a gente ia sempre, raramente ficava em Belo Horizonte –, a menina foi a um show do cantor, por insistência da irmã mais nova. "Era Tenda dos Prazeres, no Caneção. Fiquei apaixonada por ele, era um artista de primeira no palco. A partir daí, a jovem aprendeu todas as canções do repertório do cantor e comprou vários LPs.
Tempos depois, Wando veio fazer um show no Palácio das Artes, em BH, sem lugares marcados na plateia, e Renata, por armadilhas do destino, sentou logo na frente: "Foi pura sorte. Havia só uma fila bem comprida. De repente, o porteiro a dividiu em duas e eu fui a primeira da outra fila". Wando logo notou a garota que sabia de cor e salteado todas as músicas e a convidou, no fim do espetáculo, para ir ao camarim com a irmã e a mãe.
Depois, eles namoraram e terminaram, até que Renata entrou para a faculdade e se casou com um advogado, que morreu num acidente em 2005. "Era uma pessoa excelente, adorável, mas Wando foi diferente, tinha essa alma de artista", resume.
Viúva, Renata se encontrou novamente com Wando e resolveram morar juntos. "No nosso relacionamento não faltou nada. Ele era romântico, engraçado, delicado, elegante, vigoroso, bom pai, bom genro e muito sensual. Não tinha defeitos. Tinha um jeito especial de olhar para a gente. Aliás, só de olhar já me preenchia", conta Renata, já que está envolvida com a vida profissional, dividida entre o trabalho num hospital, clínica de psicologia e de hemodiálise.
Com bom humor e elegância, Renata conta que, quando bem jovem, teve a fase de jogar calcinha no palco, um ritual nos shows do futuro marido. "Uma vez, minha mãe voltou da Europa e nos deu de presente umas calcinhas francesas."
Cantor teve problemas no coração
O coração de Wando parou de bater no início da manhã do dia 8 de fevereiro. Ele sofreu parada cardíaca às 6h40 e, mesmo com manobras de ressuscitação no Centro de Tratamento Intensivo (CTI), morreu às 8h.
Em 27 de março, o artista chegou ao Instituto Biocor, em Nova Lima, por uma recomendação do cardiologista João Carlos Dionísio. Fatores como estresse, sedentarismo, má alimentação e hereditariedade foram apontadas pela equipe médica como as possíveis causas da aterosclerótica que vitimou o artista e se traduz pelo entupimento dos vasos por placas de gordura.
A luta pela vida de Wando começou com alterações no eletrocardiograma e outros exames, como a cintilografia miocárdica. Ele estava pesando 110kg e, devido ao quadro de angina, foi submetido, no mesmo dia, a cateterismo.
Na madrugada seguinte, sofreu infarto. Teve que fazer angioplastia coronariana de múltiplas artérias, com implantação de stents –tubos de metal colocados na artéria coronária. Não foi possível uma ponte de safena.
Na sequência, voltou ao bloco cirúrgico para se submeter a traqueostomia. Os dias seguintes animaram médicos, mas o artista morreu a poucos dias do carnaval.
Do Estado de Minas
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