terça-feira, 21 de maio de 2013

Riscos de uma gravidez na adolescência podem ser maiores do que em mulheres acima dos 45

Por: Gessica Ribeiro
Especialista alerta as jovens sobre o risco de serem mães antes do tempo. Foto: Divulgação
Especialista alerta as jovens sobre o risco de serem mães antes do tempo. Foto: DivulgaçãoA adolescência é um período de muitas descobertas, mas também bastante conturbado, devido às mudanças que acontecem nessa fase da vida. A transação entre a infância e a vida adulta traz uma série de novidades, com as mudanças do corpo e na forma de pensar e agir. É na adolescência que meninos e meninas começam a formar sua identidade e fazem valer suas vontades. A partir daí, começam as paqueras, os namoros e muitos deles decidem iniciar sua vida sexual.
No entanto, pela falta de maturidade de meninos e meninas que tomam essa decisão precoce, o número de adolescentes grávidas é cada vez maior. E segundo pesquisadores e especialistas no assunto, isso já não caracteriza apenas uma questão sócio-econômica, pois ao contrário do que acontecia há alguns anos, atualmente adolescentes das classes média e alta também compõem esse quadro.
No Brasil, o índice de gravidez na adolescência é de 20% e para evitar que esse número aumente, governos, escolas, hospitais, igrejas e entidades que desenvolvem ações sociais, estão desenvolvendo projetos de conscientização quanto à essa temática.
No Rio Grande do Norte, a cada 100 crianças nascidas, 21 são filhos de jovens de 10 a 19 anos, isso corresponde a 21% do total de grávidas. Na tentativa de reduzir esse índice, em março deste ano, o Governo do Estado aderiu ao projeto ‘Vale Sonhar’, do Instituto Kaplan, que foi implantado em 167 municípios, por meio da Secretaria de Estado da Educação e Cultura (Seec).
O Instituto Kaplan, referência em todo o Brasil na disseminação do conhecimento sobre educação e responsabilidade sexual, desenvolve o projeto ‘Vale Sonhar’, que visa contribuir com a diminuição do número de gravidez na adolescência através de um trabalho desenvolvido nas escolas públicas. O projeto realiza nas escolas de Ensino Médio palestras, ações e oficinas de prevenção sobre responsabilidade pessoal dos alunos, a partir da percepção do impacto da gravidez no projeto vida e no futuro de um adolescente.
Para a titular da Seec, Betania Ramalho, a implantação do projeto tende a diminuir evasão escolar, causada pelas dificuldades geradas com uma gravidez precoce. “A gravidez na adolescência é o motivo pelo qual 25% das meninas deixam a escola antes do tempo. Por ser um período muito difícil para elas, quando a vida muda em diversos aspectos, e até por não ter com quem deixar os bebês quando nascem, elas optam por abandonar a vida escolar, abrindo mão das expectativas e do sonho de ser alguém por via da escola. Acredito que através do projeto ‘Vale Sonhar’, nós conseguiremos reduzir os índices de adolescentes grávidas no nosso Estado e evitar que elas desistam de seu futuro, afirmou.
A gravidez é o período de crescimento e desenvolvimento do embrião na mulher e envolve várias alterações no organismo, e sendo ela planejada ou não, exige cuidados importantíssimos à saúde da mãe e do bebê. Do ponto de vista físico-biológico, a gravidez na adolescência é de alto risco, devido ao sistema reprodutivo na menina ainda não estar completamente desenvolvido.
De acordo com a ginecologista e obstetra Cleide Bessa, os riscos em uma gravidez precoce são os mesmos de uma gravidez de uma mulher prestes a atingir a chamada melhor idade. “Do mesmo modo que uma mulher com mais de 45 anos apresenta uma gravidez de alto risco, uma adolescente também apresenta, pois seu ovário não ovula normalmente, e seu organismo não produz hormônios no equilíbrio total. A incidência de hipertensão, comum na gravidez, é ainda maior nas adolescentes que também são mais propensas a ter anemia. Além disso, elas não se cuidam como devem, geralmente continuam com os mesmo hábitos alimentares, não tomam a medicação indicada e, com isso, se o quadro anêmico se agravar, aumenta ainda mais o risco de o bebê nascer prematuramente, com baixo peso e dificuldades para sobreviver”, explicou.
A série de mudanças físicas e psicológicas que ocorrem durante a gestação, aliada aos conflitos com familiares e a perda da liberdade com a chegada do bebê, tornam o período pós-parto um momento difícil, e que pode trazer como conseqüência, a depressão. Para muitos destes adolescentes, não há perspectiva no futuro, e os planos de vida se perdem.
Por isso, Cleide Bessa alerta sobre a importância da realização do pré-natal para que a adolescente tenha o apoio de um profissional para explicar todas as mudanças que ocorrem durante e depois da gestação. “A adolescente gestante deve ter o acompanhamento pré-natal, pois nesses atendimentos ela poderá  compreender melhor o que está acontecendo com seu corpo, com seu bebê, prevenir doenças e, além disso, poder conversar abertamente com um profissional, esclarecendo suas dúvidas e anseios”, disse.
A gravidez na adolescência, geralmente acarreta sérias conseqüências para todos os familiares, mas principalmente para os adolescentes envolvidos, pois envolvem crises e conflitos, já que não estão preparados emocionalmente e nem mesmo financeiramente para assumir tamanha responsabilidade. Com isso, muitos são expulsos de casa ou até mesmo saem por conta própria para fugir da pressão que sofrem. Sem apoio, algumas meninas chegam a cometer abortos ou abandonam as crianças sem saber o que fazer ou para fugir da própria realidade.
Diversos fatores podem estar relacionados à gravidez na adolescência e vão desde a estrutura familiar até a formação psicológica. Por isso, o apoio da família é tão importante, como afirma a ginecologista e obstetra, Cleide Bessa. “Muitas adolescentes escondem a gravidez dos pais, por medo das reações e até mesmo porque nunca tiveram um bom relacionamento com eles. A família é a base que pode ser um suporte para esses adolescentes, que não estão preparados para enfrentar todas as mudanças causadas por uma gravidez precoce. É importante a compreensão, o diálogo, a segurança, o afeto e auxílio para que tanto os adolescentes envolvidos quanto a criança que está sendo gerada se desenvolvam de forma saudável. O apoio da família é indispensável nesse momento”, afirmou.

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