Nova ação é feita para 31º envolvido em esquema que já tem ex-governadora e atual presidente da Assembleia
Ciro Marques/Jornal de Hoje
Repórter de Política
Quase quatro anos de apuração e a Operação Sinal Fechado continua
incrementando sua lista de réus. Composta atualmente por 30 nomes, entre
eles, a ex-governadora Wilma de Faria (PSB), o filho dela, Lauro Maia, e
o presidente da Assembleia Legislativa do RN, Ezequiel Ferreira (PMDB),
o nome de um novo denunciado deverá ser denunciado nos próximos dias.
Pelo menos, é a informação que circula dentro do Ministério Público do
RN e foi até confirmada pelo procurador-geral de Justiça, Rinaldo Reis.
Os elementos para essa nova denúncia teria sido consequência da
retomada das investigações após a delação premiada de George Olímpio.
Considerado o chefe do esquema irregular montado para implantar a
inspeção veicular no RN, ele assinou a delação em agosto de 2014 e,
desde lá, levou novos elementos de prova e áudios que terminaram por
transformar em “denunciados” quem antes era, apenas, “investigado”.
Exemplos disso são Delevam Gutemberg Melo, ex-secretário do governo
Wilma de Faria, e Ezequiel Ferreira, presidente da Assembleia
Legislativa. “Com relação aos que já estavam, aos que a denúncia já
havia sido recebida, já havia elemento de prova suficiente até para a
condenação, ao nosso ver. Mas a delação dele foi importante até para
reforçar, porque trouxe novos elementos. Por exemplo, trouxe a conversa
com Delevan, que foi incluído também, que fortalece a denúncia contra
Wilma e Lauro (Maia, filho da ex-governadora)”, explicou Rinaldo Reis.
Em contato com O Jornal de Hoje, o procurador-geral de justiça também
confirmou que novos nomes deverão ser incluídos na lista de
denunciados, mas não por parte da Procuradoria, e sim da promotoria do
Patrimônio Público. Ou seja: o novo denunciado não tem foro
privilegiado. “Na Procuradoria-geral de Justiça, não temos mais nada
para oferecer. Mas no âmbito da promotoria do patrimônio público ainda
vai haver novos desdobramentos”, antecipou Rinaldo Reis.
Além de Ezequiel Ferreira e de João Faustino, os áudios entregues por
George Olímpio e liberados pelo Ministério Público envolvem, também, o
marido da ex-governadora Rosalba Ciarlini, Carlos Augusto Rosado. Ele
teria recebido R$ 1 milhão para a campanha da mulher em 2010 e, segundo o
diálogo entre João Faustino e George, demonstrava ciência do
“compromisso” que tinha com a Inspar, mesmo tendo sido um dos obstáculos
para o chefe do esquema conseguir instalar a inspeção veicular no RN.
“Vai ter mais denúncia. Um novo denunciado. Por hora, vai ter um novo
denunciado”, acrescentou o procurador-geral de justiça sem, no entanto,
relevar o nome do novo envolvido no esquema.
AGRIPINO
É importante lembrar que a lista de 30 réus, hoje, não inclui João
Faustino, nem o ex-governador Iberê Ferreira, que faleceram em 2014. Não
inclui, também, o senador José Agripino Maia, que foi alvo de um pedido
de reabertura da investigação na Procuradoria-geral da República.
George tomou “precauções de segurança” após a delação
Em contato com O Jornal de Hoje, o procurador-geral de Justiça,
Rinaldo Reis, e o promotor Afonso de Ligório, que trabalhou na
promotoria do Patrimônio Público, também comentaram a situação hoje do
réu George Olímpio. Segundo eles, há um contato constante dele com o
Ministério Público, consequência da “colaboração premiada” assinada
entre as duas partes.
“A gente mantém contato permanente com o colaborador, como tem que
ser. A colaboração é durante todo o processo, inclusive, nas fases
recursais”, revelou Afonso de Ligório, acrescentando que o réu tem
ciência de toda a repercussão que a Sinal Fechado passou a ter desde a
divulgação da sua delação premiada e que, com medo, George Olímpio já
tomou medidas de segurança.
“Ele tomou precauções de segurança”, confirma o promotor de Justiça,
ressaltando que, por isso, não pode dizer onde ele se encontra. Nem
mesmo se ainda está no Rio Grande do Norte. “Nós mantemos um contrato
através de um número de segurança”, explicou Afonso de Ligório.
“George Olímpio sabia da divulgação. Sabia que em algum momento seria
divulgado. Sabia que o juiz já havia levantado o sigilo do processo,
inclusive, ele autorizou. Acompanha tudo que sai porque é daqueles
sujeitos antenados com a tecnologia”, acrescentou o promotor.
MARCCO defende MP: “O único objetivo é tirar foco de acusados”
Apesar de afirmar que tem elementos suficientes para a condenação por
corrupção dos 30 acusados, o Ministério Público do RN vem sofrendo
algumas críticas por parte de alguns denunciados, como o presidente da
Assembleia Legislativa, o deputado Ezequiel Ferreira, do PMDB. Por isso,
na quinta-feira, o Movimento Articulado de Combate à Corrupção
(MARCCO/RN), se pronunciou sobre o caso, cobrou celeridade no julgamento
dos envolvidos e condenou as ofensas a instituição MPRN.
É importante ressaltar que, apesar de composta também por promotores
de Justiça, o MARCCO é um órgão independente, composta por organizações
privadas e públicas que, simplesmente, são contrários a corrupção.
Tanto, inclusive, que quando pediu o impeachment da governadora Rosalba
Ciarlini (DEM), nem o apoio do procurador-geral de justiça, Rinaldo
Reis, teve.
“O MARCCO vem a público manifestar seu APOIO à atuação investigativa
independente do MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE no
tocante à apuração de infrações penais atribuídas ao atual PRESIDENTE DA
ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA e demais denunciados”, afirmou Carlos José
Cavalcanti de Lima, coordenador do MARCCO/RN.
“O MARCCO registra seu REPÚDIO a manifestações ofensivas à honra de
Instituições e de seus Membros, sem qualquer contribuição à sociedade,
além de desbordar do saudável debate democrático sobre a lisura da
conduta dos agentes políticos. Não se combate efetivamente a corrupção
com tentativas antidemocráticas de intimidação e de deslegitimação dos
órgãos de controle, cujo único propósito é retirar o foco sobre a
imprescindível apuração da conduta dos acusados. Respeitado o devido
processo legal”, acrescentou Cavalcanti.
“O MARCCO/RN, imbuído de sua função de Combate à Corrupção, pugna
publicamente pela celeridade na apreciação das ações penais relativas à
OPERAÇÃO SINAL FECHADO, notadamente a recém-ajuizada no TRIBUNAL DE
JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE, fóruns onde todos os
envolvidos poderão expor seus argumentos de maneira civilizada e
fundamentada”, finalizou o coordenador, por meio de nota.
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