Agência Estado
A madrugada do dia 29 de novembro de 2016 escreveu na história a
maior tragédia do futebol brasileiro. A queda do voo que levava a
delegação da Chapecoense para a primeira final de uma competição
internacional da sua história completa um mês nesta quinta-feira. Se
tanto o time catarinense como os sobreviventes lutam para seguir em
frente com dignidade, ainda existem algumas questões referentes ao
acidente a serem respondidas.
Uma das poucas certezas que já se têm a respeito da tragédia que
deixou 71 mortos e apenas seis sobreviventes é o fato de que o voo era
irregular, e não deveria ter sido aprovado pelas autoridades de aviação
bolivianas. As investigações do próprio país culparam a companhia aérea LaMia pelo acidente.
A empresa costumava realizar trajetos utilizando a carga de combustível
abaixo do que manda a lei – planos de voo apontam que é necessário ter
combustível suficiente para a viagem, além de uma reserva em caso de
imprevistos como o ocorrido, que provocou a pane seca e,
consequentemente, a falha elétrica que derrubou o avião.
Apesar de atuar irregularmente, a LaMia era frequentemente utilizada
por equipes de futebol da América do Sul em seus percursos. A seleção da
Argentina e a própria Chapecoense já haviam voado pela companhia aérea
boliviana – um vídeo gravado antes da decolagem com a delegação
catarinense, inclusive, continha elogios do técnico Caio Júnior e de
membros da diretoria ao serviço prestado na viagem anterior, na
semifinal do torneio, contra o San Lorenzo-ARG.
A Colômbia, local do acidente, decidiu liderar as investigações,
afirmando que a Bolívia não teria capacidade para avaliar o caso
corretamente. Nesta semana, as autoridades locais confirmaram que o voo da LaMia possuía excesso de peso e um plano de voo irregular.
O país, inclusive, demonstrou enorme solidariedade após a tragédia,
com manifestações vindas de políticos, equipes de futebol e moradores. A
mais emblemática delas partiu do próprio rival da Chape, o Atlético
Nacional, de Medellín – destino final do voo -, que demonstrou enorme
espírito esportivo e sentimento ao ‘entregar’ o título da Copa
Sul-Americana ao rival.
O local da queda, inclusive, vai mudar de nome: o governador da
região de Antioquia, Luis Perez, decretou que a montanha da região
conhecida como Cerro Gordo, no município de La Union, passará a se chamar ‘Chapecoense‘, em memória aos mortos no acidente.
Procedimentos e regimentos internos da Bolívia, no entanto, seguem
sendo investigados. Nesta quarta-feira as autoridades de Santa Cruz de
la Sierra, cidade de onde partiu o avião, processaram o chefe de controle aéreo municipal
e mais quatro funcionários da agência de aviação local, que, na
avaliação deles, não deveriam ter aprovado o plano de voo da LaMia.
QUEDA DO VOO DEIXA SEIS SOBREVIVENTES, QUATRO DELES BRASILEIROS
A queda do avião da LaMia matou 71 pessoas, mas outras seis
resistiram ao acidente. O primeiro a ser resgatado na ocasião foi o
lateral Alan Ruschel. Ele também foi o primeiro sobrevivente brasileiro a ter alta.
O goleiro Jackson Follmann foi o segundo, ainda que tenha tido sequelas
severas – ele perdeu uma das pernas e é o único a ainda seguir
internado. Rafael Henzel, único jornalista a sobreviver, deu entrada no
hospital ainda consciente.
O caso mais difícil foi o do zagueiro Neto. Ele foi encontrado quando
as buscas já haviam sido encerradas: um dos bombeiros ouviu gemidos do
atleta e decidiu voltar ao local, encontrando-o seis horas após a queda.
Ainda com algumas sequelas respiratórias, perdeu muito sangue e estava
hipotérmico quando foi achado, mas já teve alta médica e seguirá sua recuperação em casa.
Dois únicos tripulantes do voo boliviano que sobreviveram, Erwim
Tumiri, um mecânico, e Ximena Suárez, comissária de bordo, também já
deixaram o hospital. O primeiro afirmou, na ocasião da sua alta médica,
que sobreviveu por ter seguido os protocolos de acidente comuns da
aviação – ele se abaixou no seu assento, abraçando as pernas. Nenhum
aviso, no entanto, foi dado no momento da falha elétrica pelo piloto –
que também faleceu na queda -, de acordo com os sobreviventes.
COM VAGA NA LIBERTADORES-2017, CHAPE OLHA PARA O FUTURO
Com membros da diretoria mortos no voo – incluindo o presidente do
clube, Sandro Pallaoro -, a equipe catarinense teve de se reconstruir
praticamente do zero. Dentre os três sobreviventes, apenas o lateral
Alan Ruschel, quem melhor se recupera do acidente, deve ter condições de
voltar a atuar em um futuro próximo. O zagueiro Neto só deverá ser
liberado pelos médicos para realizar exercícios físicos dentro de pelo menos quatro meses. Jackson Follmann, por sua vez, avalia a possibilidade de se tornar atleta paralímpico.
Plinio David De Nes Filho, que fazia parte da direção da Chape,
assumiu a presidência, e trouxe quatro reforços para o elenco. O goleiro
Elias (ex-Juventude), o zagueiro Douglas Grolli (ex-Cruzeiro), o meia
Dodô (ex-Atlético-MG) e o atacante Rossi (ex-Goiás) assinaram contrato e
vestirão o uniforme verde a partir de janeiro de 2017 e disputarão a
próxima edição da Copa Libertadores – vaga a que tem direito o campeão
da Copa Sul-Americana, em conquista confirmada pela Conmebol no último dia 21, ocasião do sorteio dos grupos da competição.
Nenhum comentário:
Postar um comentário