Mirtes Renata, mãe de Miguel (Foto: Reprodução/TV Globo ) |
Na
última terça-feira (2), Mirtes Renata saiu da sua casa, localizada no
Barro, uma comunidade humilde na Zona Oeste do Recife, para trabalhar no
apartamento dos patrões, em um prédio de luxo, no bairro de São José,
centro da cidade. Era empregada doméstica. Há quatro anos, cuidava da
casa e dos filhos de Sérgio Hakcer, prefeito de Tamandaré - Litoral Sul
-, e sua esposa, Sari Corte Real.
Em
plena pandemia, Mirtes não teve escolha: precisou levar o filho, Miguel
Otávio, 5 anos, ao trabalho. Em tempos normais, o menino passava o dia
na escola, pela manhã, e na creche, à tarde. Mas com esses espaços
fechados, a criança teve que acompanhar a mãe no serviço. O que ela não
poderia imaginar é que, ao final do dia, voltaria para casa sem seu
pequeno nos braços.
Miguel morreu em um
acidente no prédio, após entrar no elevador de serviço atrás da mãe, que
havia saído para passear com a cadela da família para a qual
trabalhava. Câmeras do circuito interno do edifício, mostram o momento
que o menino entra no elevador e a patroa, Sari, aperta o botão do
último andar e a porta se fecha. A criança desceu no 9º andar, onde caiu
de uma sacada na parte onde ficam os condensadores dos apartamentos.
"Eu
não consigo mais entrar no quarto direito. Eu vejo a cama do meu filho,
mas não vejo meu filho ali. Eu olho para aquela bicicleta, mas não vejo
meu filho naquela bicicleta. Eu olho para todos os cantos da casa e não
vejo meu filho. Tá muito difícil", conta Mirtes em entrevista à
repórter Sabrina Rocha, da Rede Globo, veiculada pelo Bom Dia Pernambuco
na manhã desta quinta-feira (4).
Mirtes conta
que ao retornar para o edifício, foi avisada pelo zelador que alguém
havia caído do prédio. "Quando eu abri a porta, eu vi meu filho ali,
estirado no chão. 'Meu filho, não deixa mãe, filho'. Aí eu peguei,
devagarzinho, virei ele. Eu disse 'meu amor, meu amor, mamãe tá aqui,
não deixa mamãe, respira'. Toquei nele aqui (pescoço), ele ainda tava
tendo pulsações, ele tava respirando, mas assim, ele não piscava, só
olhava fixo".
Em seguida, de acordo com
Mirtes, ela gritou pedindo ajuda à patroa, que desceu e, junto com um
médico, morador do edifício, levou Miguel de carro para o Hospital da
Restauração. "Não demorou muito não e veio a notícia que meu filho virou
estrelinha, que meu filho tá lá junto com Jesus e Maria. Ele tá lá no
colinho de Maria. Eu pedi para Jesus tirar a minha vida e dar a ele para
ele para ele permanecer vivo porque ele era minha razão de viver.
Aquela criança era minha razão de viver. Eu fazia tudo por ele para ter a
felicidade dele, para ter o bem estar dele", relata a mãe emocionada.
A
empregada doméstica acredita que "faltou paciência" por parte da patroa
a quem entregou seu filho enquanto precisou se ausentar da casa por
alguns minutos a fim de cumprir seu trabalho. "No período que eu tava
andando com a cadela, que ele entrou no elevador, não tiveram paciência
de tirar ele do elevador, pegar pelo braço e 'saia'. Porque se fossem os
filhos da minha ex-patroa, eu tiraria. Ela confiava os filhos dela a
mim e à minha mãe. E no momento que eu confiei meu filho a ela,
infelizmente ela não teve paciência para cuidar, para tirar (ele do
elevador)".
"Eu não vou dizer que eu tô com
raiva, que eu tô com ódio dela porque a dor pela morte do meu filho tá
prevalecendo, mas eu espero que a justiça seja feita porque se fosse o
contrário, eu acho que eu não teria nem direito a fiança. Porque foi uma
vida, uma vida que se foi por um pouco de falta de paciência. Deixar
uma criança sozinha, dentro de um elevador, isso não se faz", acrescenta
Mirtes. "Eu vou lutar, eu vou batalhar nem que eu vá morar debaixo da
ponte, mas eu vou batalhar para que a morte do meu filho, meu único
filho seja resolvida, que a justiça seja feita". "Eu vou lutar, eu vou
batalhar nem que eu vá morar debaixo da ponte, mas eu vou batalhar pra
que a morte do meu filho, meu único filho seja resolvida, que a justiça
seja feita".
Do Diário de Pernambuco
Nenhum comentário:
Postar um comentário