Apesar de ter recebido a sinalização de que deve permanecer no cargo, o
recém-nomeado ministro da Educação, Carlos Decotelli, envolveu-se em uma
nova polêmica, o que, para auxiliares presidenciais, tornou sua
situação praticamente insustentável.
Em nota divulgada na noite de segunda-feira (29), a FGV
(Fundação Getúlio Vargas) negou que o economista tenha sido professor ou
pesquisador da instituição. A informação constava em seu currículo,
inclusive no texto divulgado pelo FNDE (Fundo Nacional de
Desenvolvimento da Educação) quando assumiu a presidência do fundo em
fevereiro do ano passado.
A
nova controvérsia irritou o presidente Jair Bolsonaro, segundo
assessores. A permanência de Decotelli à frente da pasta foi debatida na
manhã desta terça pelo presidente. Depois da nota da FGV, uma ala do
Palácio do Planalto acredita que Bolsonaro pode tomar uma decisão sobre a
saída do ministro até o final do dia.
Segundo assessores
palacianos, no encontro entre Bolsonaro e Decotelli no final da tarde de
segunda-feira (29), o presidente cobrou explicações do ministro. De
acordo com relatos feitos à reportagem, ele não citou a questão da FGV,
porém.
Decotelli atuou, de acordo com a FGV, apenas nos cursos de
educação continuada, nos programas de formação de executivos e não como
professor de qualquer das escolas da Fundação. "Da mesma forma, não foi
pesquisador da FGV, tampouco teve pesquisa financiada pela instituição",
diz a nota da instituição.
Para militares palacianos, a
omissão foi considerada uma quebra de confiança, o que levou aliados
tanto do presidente como do ministro a defenderem que ele peça demissão
do cargo, evitando causar mais desgastes à imagem do governo.
Na noite de segunda-feira (29), Bolsonaro escreveu em rede social que
"Decotelli não pretende ser um problema para a sua pasta (governo), bem
como está ciente de seu equívoco", num sinal de que não garantiria sua
permanência no cargo e de que o ministro sabe da crise que criou.
Constava no currículo de Decotelli um doutorado pela Universidade
Nacional de Rosario, da Argentina, mas o reitor da instituição, Franco
Bartolacci, negou que ele tenha obtido o título, informação antecipada
pela Folha de S.Paulo. Há ainda sinais de plágio na sua dissertação de
mestrado.
Além disso, a Universidade de Wuppertal, na Alemanha,
informou que o novo ministro não possui título da instituição, ao
contrário do que constava em seu currículo, que mencionava pesquisa de
pós-doutorado.
Com a série de polêmicas, Decotelli perdeu apoio
inclusive entre quem o respaldava antes. Após as seguidas contestações
ao seu currículo, aliados do ministro estão constrangidos em defendê-lo.
No Palácio do Planalto, porém, há um receio sobre a repercussão de uma exoneração.
A
preocupação é de que uma decisão do presidente possa fomentar uma
crítica pelo fato de Decotelli ser o primeiro ministro negro da atual
gestão. Por isso, a saída considerada ideal seria um pedido de demissão.
Apesar
da nova polêmica, o presidente ainda não bateu o martelo. Para outro
grupo de assessores palacianos, Bolsonaro pode deixar o ministro por
mais tempo para não gerar o desgaste de mais uma baixa em sua equipe em
pouco tempo e durante a pandemia do coronavírus.
Nesta terça-feira (30), o vice-presidente Hamilton Mourão disse à
Folha de S.Paulo que as polêmicas sobre o currículo do novo ministro não
são graves. Ele ressaltou que Decotelli é um bom nome, mas que cabe a
Bolsonaro definir se tem confiança no trabalho do ministro.
"Isso
não é grave. Lembramos que tivemos uma presidente que tinha um currículo
furado, que ela dizia também que era doutora e não tinha passado nem na
esquina", disse o general, em uma referência a ex-presidente Dilma
Rousseff.
Apesar de o presidente não ter tomado uma decisão, ele
pediu a deputados e assessores que indiquem nomes de possíveis
substitutos. E fez uma solicitação: que os currículos dos nomes cotados
sejam minuciosamente checados.
Para o cargo, voltaram a ser
cogitados o secretário de Educação do Paraná, Renato Feder, o
ex-assessor do Ministério da Educação Sérgio Sant'Ana e o conselheiro do
CNE (Conselho Nacional de Educação) Antonio Freitas, que é pró-reitor
na FGV e cujo nome aparecia como orientador do doutorado não realizado
por Decotelli.
Os três têm apoio do chamado núcleo ideológico, mas
Sant'Ana tem ligação mais estreita com seguidores do escritor de Olavo
de Carvalho. Sant'Ana tem forte relação com o setor privado de ensino
superior e, antes de ingressar no MEC, advogada para grupos
educacionais.
O nome do professor Gilberto Garcia também surge
como opção. Garcia foi presidente do CNE, reitor da Universidade
Católica de Brasília e da Universidade São Francisco (SP), onde leciona
atualmente.
Colabora com a campanha a favor de Garcia o fato de
ele ser pardo e frei, além de contar com boa articulação com o setor
educacional e com políticos.
Com um contraponto, o núcleo militar
passou a defender também o nome do professor Marcus Vinicius Rodrigues,
ex-presidente do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais), que ajudou na transição do governo.
Com a
possibilidade de uma mudança, deputados e senadores passaram a apoiar
que a pasta seja comandada por um parlamentar. O nome favorito no Poder
Legislativo é o do senador Rodrigo Pacheco (DEM-RO).
Continua no páreo o presidente da Capes (Coordenação de
Aperfeiçoamento de Nível Superior), Benedito Aguiar, que é evangélico e
tem apoio de parlamentares religiosos.
Por Folhapress
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