O tremor de 3.7 graus na Escala Richter (mR), que foi percebido no
último domingo (31) na costa potiguar ao Norte até Natal, não representa
perigo ou preocupação de desastres. Essa é a avaliação do professor
Eduardo Menezes, geofísico do Laboratório de Sismologia da UFRN
(LABSis/UFRN). Porém, o evento sísmico traz algumas curiosidades: foi
precedido de outro com menor intensidade e, coincidentemente, se alinha
com a Falha de Samambaia, na região de João Câmara, onde uma série de
sismos sacudiram a região, em 1986, destruindo casas e gerando pânico na
população, sendo percebidos também na capital do Estado.
Dessa vez,
o evento ocorreu no meio do mar, à distância de 40 km, numa região
conhecida por borda continental oceânica. Moradores das regiões
costeiras de Touros a Natal relataram ter sentido os tremores por volta
das 16h do último domingo. De fato, um evento sísmico de magnitude
preliminar calculada em 3.7 mR foi registrado pelas estações
sismográficas operadas pelo LabSis da UFRN na região litorânea, mas esse
não foi o único.
Bem antes, na madrugada, por
volta das 0h34min ocorreu um primeiro evento sísmico de magnitude
preliminar calculada em 3.7 mR. Moradores das regiões de Maxaranguape e
Maracajaú sentiram as vibrações. Esses eventos são provocados por
falhas geológicas que entram em atividade e geram tremores, mas nem
sempre preocupam. “Para essa ordem de grandeza, não é preocupante. O que
preocupa, às vezes, em áreas que ocorrem tremores de terra, é a
frequência. Quando há uma repetição de tremores, não necessariamente ele
sendo nessa ordem de grandeza, num período de tempo mais curto. Então, a
gente tem um ano praticamente sem nenhum registro desse aí na região”,
explicou o professor Eduardo Menezes.
Na plataforma
continental, onde ocorreu o de domingo, o último evento registrado pelo
LabSis foi às 0h30min do dia 25 de julho de 2021, com magnitude de 3.5
mR, sucedido por outros nos dias 12 (2.0 mR), 19 (1.9 mR), 22 (2.1mR) e
no dia 24, quando ocorreram dois (2.5 mR e 1.8 mR).
“Tudo
leva a crer que ocorreu na mesma área. Se você olhar a falha de
Samambaia, por exemplo, em João Câmara, o epicentro estaria mais ou
menos alinhado com ela. Como é no continente, esses eventos estão em
outro extremo, mas por enquanto a gente ainda não pode afirmar se tem ou
não correlação com a Falha”, explicou o professor.
Samambaia
é a maior falha geológica do Brasil. Tem 38 km de comprimento por cerca
de 4 km de largura e atravessa os municípios de Parazinho, João Câmara,
Poço Branco e Bento Fernandes. Sua profundidade varia entre 1 e 9 km.
Próximo a ela se encontra a falha geológica de Poço Branco, que apesar
de ser bem menor também contribui por alguns tremores naquela região. As
atividades sísmicas ao redor da falha de Samambaia são constantes e em
alguns casos podem causar tremores de magnitude elevada, como a de 1986.
Para
se ter uma ideia, naquele ano, o primeiro da sequência de tremores em
João Câmara, no interior do Rio Grande do Norte, aconteceu no dia 21 de
agosto e alcançou 4.3 graus na Escala Richter que é infinita, mas
especialistas garantem que nunca chegou ao número 10. No mês seguinte,
foram dois eventos sísmicos na mesma cidade: um de 4.3 mR e outro de 4.4
mR, respectivamente. Mas o terremoto principal ocorreu somente no dia
30 de novembro, com magnitude de 5.1, seguido por milhares de réplicas.
Laboratório da UFRN faz monitoramento
Através
das estações demográficas que a UFRN mantém no Nordeste e em rede
nacional, o Laboratório de Sismologia (LabSis) consegue calcular o
momento exato e a localização dos sismos e expressa tudo em gráficos.
Segundo o professor Eduardo Menezes, essas informações servem para dar
subsídio aos órgãos como a Defesa Civil e Corpo de Bombeiros dos
municípios que avaliam se o tremor trouxe algum problema de estrutura
dos imóveis e ao psicológico das pessoas.
“Nós
temos na Rede Brasileira 98 estações e dentro dessa rede um conjunto 18
estações nossas, além de mais 22 que não estão integradas à rede, mas
são usadas para estudos locais. Todos esses dados, na sua maioria,
chegam em tempo real para o laboratório e, através deles, a gente
consegue fazer as localizações, as magnitudes e gerar os boletins que
emitimos”, destacou Menezes.
Ele ressalta que não há
como prever quando vai ocorrer um tremor, mas é possível observar sua
frequência e identificar o risco que a região apresenta. “Toda atividade
sísmica ela se manifesta através de um ciclo, de um período, então
temos alguns eventos durante um determinado período e depois é tendência
natural dele cessar”, pontua.
Segundo
informações do LabSis, o Nordeste brasileiro é formado por diversos
fragmentos de rochas muito antigas, com maior probabilidade de
produzirem atividade sísmica local. Além disso, as camadas de solo são
bastante rasas, com camadas finas de terra variando entre 4 e 25 metros
acima da rocha. Em algumas localidades, a camada é tão fina que a rocha
chega a ficar exposta.
Em maio de 2011, um
tremor de magnitude 6.0 mR ocorreu mais distante, no meio do Oceano
Atlântico, na cordilheira meso-oceânica, a 1.276 km de Natal, gerando um
boato de que um tsunami atingiria a capital potiguar. Contudo, o
coordenador do LabSis à época, Joaquim Ferreira Mendes, explicou que as
características dos movimentos de placas tectônicas no Oceano Atlântico
tornavam muito improvável a existência de um tsunami em Natal.
Ele
explicou que onde os movimentos das placas é vertical, como no Japão ou
na Cordilheira dos Andes, o movimento repercute na superfície porque as
placas se empurram. No caso das placas do Oceano Atlântico, onde as
placas se afastam, a probabilidade de um movimento vertical é quase
nula, sendo horizontal, o que não provoca tsunamis.
Da Tribuna do Norte
Nenhum comentário:
Postar um comentário